Todo Mundo Fala de Musculação para Cães! Como se Faz?
ATENÇÃO!!! Antes de começar qualquer exercício de musculação, consulte seu veterinário para saber se seu cão está clinicamente autorizado a fazer exercícios físicos.
Os exercícios de musculação são:
Natação
Escalada
Tração
Galope
Trote com ou sem esforço físico.
Não podemos dizer a um cão que faça 30 abdominais, 12 supinos etc. Não podemos explicar que ele teria que fazer esse ou aquele exercício dessa forma e não de outra para que consiga melhores resultados.
O maior problema para modelar um cão fisicamente é ensiná-lo a fazer os exercícios adequados para desenvolver determinados músculos.
Uns cães necessitam desenvolver mais os posteriores, outros os membros anteriores, outros ainda, os músculos abdominais e assim por diante.
É absolutamente necessário saber fazer.
Sem o necessário conhecimento você pode desenvolver músculos que não deveriam ser hipertrofiados e aleijar seu cão no lugar de melhorar sua forma física.
ALGUMAS INFORMAÇÕES BÁSICAS
O Funcionamento do Músculo
O processo de transferência de energia, nos organismos vivos, dá-se através dos compostos fosforados. O processo é físico-químico. Impulsos nervosos eletroquímicos, enviados pelo cérebro, comandam essa reação química.
Sabemos que existem músculos de comando voluntário (músculos estriados do esqueleto), cujo movimento pode ser instintivo ou planejado, e músculos de ação involuntária (músculos lisos das vísceras), sobre os quais nossa vontade não interfere.
A energia química, em toda e qualquer reação muscular, é fornecida pelo sistema ADENOSINA-TRIFOSFATO (ATP) e ADENOSINA-DIFOSFATO (ADP).
Se o processo for anaeróbico (ausência de oxigênio) o sistema ADP é realimentado pela fosfocreatina ou então pela glicose, formando o lactato.
Se for aeróbico (em presença de oxigênio) o combustível sofre a oxidação pela mitocôndria. O combustível será a glicose e os ácidos graxos.
Na ausência de oxigênio (anaeróbio) os músculos esqueléticos têm sua capacidade de tempo de trabalho reduzida a curtos períodos. O consumo da energia disponível é maior, mais rápido e sem tempo para reabastecimento.
Contração Muscular
O nervo eferente motor estimula o músculo, despolarizando a membrana da célula muscular. Ocorre, então, a propagação do potencial de ação ao longo do sistema muscular.
Em seguida, há uma descarga de cálcio nos líquidos que banham as fibras nervosas, propiciando a interação dos filamentos miosina e actina e a actina reage com a miosina. Inicia-se, então, um movimento nas moléculas da miosina em direção aos filamentos de actina. Os filamentos de actina são empurrados ou puxados ao longo dos filamentos da miosina.
A presença do cálcio nos fluidos que banham a miosina e a actina é determinante da contração e relaxamento muscular.
Sistema Nervoso e Psicológico
O sistema eletroquímico de excitação das células musculares é semelhante ao nosso.
Essas descargas elétricas de 7 a 10 milivolts são enviadas pelo cérebro, que é passível de pressões de ordem psicológica.
Ao planejar os exercícios de musculação, a nossa preocupação terá que ser sempre em motivar o cão, de modo que seja muito forte o seu desejo de executá-los.
Nós temos o desejo de competição e da vitória. Os animais não têm esse tipo de espírito de luta, pelo simples prazer de vencer.
As motivações para luta são suas necessidades primordiais: fome, medo e sexualidade.
Assim, a parte mais difícil da tarefa de muscular cientificamente um cão, é a de planejar o treinamento do exercício de maneira a exercitar aqueles músculos que pretendemos trabalhar e, principalmente, no limiar máximo de sua vontade.
Suprimento de Comburente
O abastecimento de oxigênio para os músculos, em atividade, é feito através da irrigação sangüínea (sangue arterial) e se dá por meio de um processo compensatório,como por exemplo: se o volume de sangue bombeado na sístole é reduzido, a freqüência dos batimentos cardíacos aumenta até que se normalize o débito.
Curiosamente, quando o trabalho dos músculos atinge seu esforço máximo, tanto o batimento cardíaco quanto o consumo de oxigênio, se mantém num piso elevado, mas fixos em valores individuais.
Para suprir as necessidades de irrigação dos músculos que estão sendo exigidos pelo exercício, o sangue é desviado para eles, por uma vasoconstrição que reduz o fluxo sangüíneo tanto nas vísceras quanto na pele.
Não se recomenda, portanto, o exercício antes das duas horas após as refeições.
Respiração
A inspiração se realiza pelo trabalho do diafragma, músculo que serve de base para os pulmões, e pelos músculos intercostais externos, que movimentam as costelas, abrindo a caixa torácica e fechando-a na expiração.
A ventilação adequada dos pulmões supre as necessidades de oxigênio para o trabalho muscular. Daí a importância de se desenvolver a caixa torácica até sua capacidade máxima e, se possível, com hipertrofia desses músculos responsáveis pela respiração.
Nutrição
O animal é o que ele come. As proteínas, lipídios e glicídios ingeridos são metabolizados de maneira a construir, sustentar, manter tecidos e fornecer a energia necessária à vida.
O alimento é utilizado como combustível para a máquina físico-química do corpo. O pulmão funciona como carburador que faz a mistura de oxigênio (comburente) com o sangue, que transporta o combustível que será queimado nas células musculares.
A nutrição correta do seu cão é, portanto, fator decisivo no seu desempenho.
Há 2000 anos, os pioneiros gregos da musculação, já concluíam que se o músculo é formado, principalmente, de proteínas, a ingestão de um excesso protéico poderia acelerar o crescimento muscular e aumentar a força.
Assim, a mais importante fonte energética, e o principal alimento combustível, é a proteína.
Existem diferentes tipos de proteína, variando de acordo com a composição de aminoácidos. As proteínas vegetais não são idênticas às proteínas de origem animal.
O organismo do cão necessita, para seus tecidos, de alguns aminoácidos das proteínas vegetais, sem os quais, não poderia viver, pois o seu metabolismo é incapaz de sintetizá-los.
Esses alimentos são chamados vitais ou essenciais: carne, ovos, peixe, leite e derivados. Eles contém a composição correta de aminoácidos e, por isso, são as fontes adequadas de proteínas. O abate de animais herbívoros para comer, também, suas vísceras com o conteúdo vegetal já semi-digerido é básico para a complementação alimentar.
Um cão adulto necessita de, aproximadamente, um grama de proteína adequada por quilo de peso corporal, por dia. Um cão de 50 kg precisa de 50 g. de proteína/dia, em atividade normal. Se estiver em programa de exercícios de musculação sua demanda poderá atingir até o dobro.
O excedente energético não consumido é armazenado em forma de gordura. Mais tarde, essa gordura é “queimada”, isto é, consumida de acordo com as necessidades.
A digestão do alimento no intestino delgado, depois de atravessar os órgãos digestores e estar impregnado de enzimas digestivas do estomago e duodeno, é realizada pelas enzimas intestinais capazes de desintegrar os carboidratos, as gorduras e as proteínas em moléculas que serão transferidas para o sangue através das paredes intestinais. Parte da água, contida nos alimentos, é absorvida pelo intestino indo para a corrente sanguínea. O restante do alimento, é eliminado pelo próprio intestino grosso, em forma de fezes e a água excedente é eliminada pelos rins em forma de urina.
O aparelho digestor do cão está equipado e preparado para digerir de 20 a 30 por cento de gorduras, e de sessenta a setenta por cento de carne, leite, peixes, ovos e dez a vinte por cento de vegetais pré-digeridos ou pré-cozidos.
Dessa forma, garante-se uma ingestão adequada de proteínas, ferro, cálcio e vitaminas. Esta dieta varia aumentando-se a gordura para os animais em preparo físico e diminuindo-a para os que estão em repouso.
O balanceamento da alimentação do cão vai depender diretamente do seu consumo de energia. Se a ingestão energética ultrapassar o débito energético, o excesso será armazenado, principalmente como tecido adiposo. Se essa situação se perpetuar, ocasionará a obesidade. Se, pelo contrário, o débito aumentar por carência de ingestão de energia, ocorrerá o emagrecimento.
Algumas Constatações na Modelagem do Cão como Atleta
Relação força e freqüência — os exercícios podem ser direcionados em dois caminhos: mais força com menos repetição ou menos força com mais repetição. Os resultados são completamente diferentes. O ideal é o equilíbrio dos dois caminhos.
Relação consumo de energia e tempo — também pode se seguir dois caminhos: alto consumo de energia por curto período de tempo, ou baixo consumo de energia, durante um tempo mais prolongado. Balancear os dois, alternando as variáveis de acordo com o desenvolvimento do preparo físico, nos parece o mais adequado.
Vamos observar também que a hipertrofia muscular (aumento da massa muscular) só acontece quando o músculo é solicitado nos seus limites máximos.
Os melhores resultados, são obtidos com poucas repetições dos exercícios, mas com grande esforço muscular. Por outro lado, sabemos que a boa irrigação sanguínea tem forte contribuição no desenvolvimento muscular. Sabemos, também que, para obter-se uma melhora no sistema circulatório, são necessários exercícios de baixo esforço e alta freqüência repetitiva.
O esforço muscular, para que se consiga a hipertrofia, deve ser progressivo. No começo, com uma progressão bem lenta. O incremento (progressão) é sempre determinado pelo rendimento do animal, sempre um pouco acima de sua capacidade no momento.
O aumento, estabilização (manutenção) ou redução do tônus muscular está diretamente relacionado com o intervalo entre os exercícios, com a carga imposta e com a energia consumida, conforme o gráfico a seguir.
a) Início do exercício, nível de condicionamento físico.
b) Utilização de reserva de energia.
c) Interrupção do exercício.
d) Restauração (repouso e alimentação).
e) Incremento de energia.
f) Intervalo entre exercícios.
g) Curva de Hipertrofia muscular.
y) Linha de manutenção.
z) Curva de atrofia muscular.
A Parte Prática da Musculação
Como o suprimento de oxigênio também contribui no desenvolvimento da musculatura do animal, vamos provocar o aumento da cubagem pulmonar através da natação pela inibição da respiração característica dos cães: curta, de baixa cubagem e em ritmo acelerado. Excelente exercício para aumentar a largura do antepeito.
Dessa forma, fazemos um trote de, aproximadamente, 20 minutos em ritmo moderadamente acelerado e, quando o cão estiver salivando (suando) bastante, colocamo-lo na piscina por mais quinze minutos, sem exigir esforço, permitindo que ele relaxe. O único objetivo é manter sua boca fechada para que ele não possa fazer a respiração “cachorrinho”. Com isso, para se recuperar, o cão será obrigado a respirar maior volume de ar e em ritmo mais lento, aumentando, com esse exercício, sua caixa torácica.
Para aumentar o esforço físico numa esteira de trote, poderemos, primeiro aumentar a inclinação de forma a simular o trote em ladeira, com a vantagem de podermos corrigir eventuais defeitos de movimentação.
Uma outra forma de aumentar o esforço físico é a utilização de um peitoral de tração com um par de trelas de cada lado, como se usa em charretes de cavalo, nunca em um só ponto acima da cernelha. A utilização da tração na cernelha provocará uma curvatura da linha superior criando, no cão, o que chamamos de “dorso selado”.
Para corrigir a flacidez no dorso jamais deveremos utilizar o trote. Imagine um arco de flexas na horizontal com o a madeira voltada para cima. O que mantém este arco curvo é a corda. A mesma coisa acontece com o dorso. A espinha vertebral representa o arco e a musculatura abdominal representa a corda. Reparem que as fêmeas, após a gravidez, ficam com o dorso selado, não devido ao peso da barriga, que já não existe mais, mas devido ao relaxamento dos músculos abdominais. Assim, para melhorar a linha superior (dorso e lombo), no lugar de nos preocuparmos com os músculos dorsais e lombares devemos trabalhar os longos músculos retos do abdôme. A melhor maneira de fortalecer a musculatura abdominal é com o galope curto e isso se consegue, apenas, brincando com uma bolinha durante uns dez minutos, diariamente.
Para trabalhar os músculos da escápula (ombros) e da cernelha deveremos fazer tração. Um dos melhores exercícios de tração é a escalada. E o melhor exercício de escalada é o esforço muscular para sair de uma piscina sozinho. Pode-se, também, usar uma escada só que o esforço de subir uma escada é bem menor, requerendo mais tempo de treinamento porque demora mais para a obtenção dos resultados.
Para trabalhar os músculos da parte anterior da coxa pode-se usar uma bolinha pendurada num caniço para fazer o cão saltar várias vezes para pegar a bolinha. Os da face posterior trabalham-se no trote de esteira ou ladeira.
Na realidade, este artigo se propõe, apenas, mostrar que um fisioterapeuta canino deverá conhecer, além da técnica de trabalho com a musculatura, as técnicas de adestramento e de psicologia animal, mas, principalmente, muita imaginação.
Etólogo
Presidente do Conselho de Cinologia da CBKC
Árbitro de Todas as Raças