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Síndrome Braquiocefálica: o que fazer?




caes_logo

destaque_braquicfaloVocê já ouviu falar em cães braquiocefálicos? Talvez, o nome soe um pouco estranho, mas você provavelmente já viu um Buldogue inglês ou francês, um Shi- Tsu, um Boxer, um Lhasa Apso, um Chihuahua, um Pequinês, um Pug…

Quando olhamos para qualquer uma dessas raças fica fácil perceber a semelhança: eles têm um focinho mais curto, o que lhes confere um aspecto de nariz “achatado”. No entanto, os genes ligados ao encurtamento do focinho não estão associados aos tecidos moles, que se desenvolvem normalmente. Isso resulta em alguns problemas…

Para começarmos entender é importante definir que o termo síndrome se refere não apenas a uma, mas a um conjunto de alterações que inclui a estenose (estreitamento) das narinas, o alongamento do palato mole e hipoplasia traqueal (que pode causar a eversão dos sáculos da laringe, bem como o seu colapso). Todas elas dificultam a respiração do cão.

O estreitamento das narinas, por exemplo, prejudica a entrada de ar. A má formação cartilaginosa faz com que a abertura nasal seja diminuída durante a inspiração. Esta alteração independe de sexo e está presente nos cães desde o nascimento. Alguns dados disponíveis na literatura mostram que cerca de 50% dos cães braquiocefálicos a possuem. Quando o caso é mais grave pode ser necessária a correção cirúrgica e quanto mais cedo ela for realizada, melhor.

O palato mole (também chamado véu palatino) faz parte do que é popularmente conhecido como céu da boca. Ele é formado por uma mucosa respiratória (dorsalmente) e por uma mucosa oral (ventralmente). Sua função é muito importante porque durante o processo de deglutição ele se eleva posicionando-se junto à parede da faringe, auxiliando no mecanismo que impede a entrada de alimento nas vias respiratórias, já que a faringe é um órgão comum aos sistemas digestório e respiratório. O que ocorre com cães braquiocefálicos é que o palato mole se alonga (os ossos são encurtados, mas o tecido mole cresce normalmente) e ele se estende além da epiglote. A passagem do ar fica dificultada.

A hipoplasia traqueal é também um estreitamento de alguns pontos na traqueia. O ar entra pelas narinas, passa pela parte respiratória da faringe, depois laringe e traqueia para alcançar brônquios, bronquíolos e os alvéolos pulmonares- onde as trocas gasosas ocorrem. Essa diminuição da luz traqueal dificulta a passagem do ar, assim como a existência de projeções na mucosa (sáculos da laringe).

Os sintomas associados a essas alterações podem ser de suaves a severos dependendo do grau de obstrução das vias respiratórias e incluem respiração ruidosa, espirros, tosses, vômitos, intolerância ao exercício, dificuldade e agonia respiratórias, coloração azulada em mucosas, desmaios etc.

Como efeito secundário às alterações anatômicas do trato respiratório pode aparecer o estresse térmico ou hipertermia. Isto porque um dos mecanismos utilizados pelos cães para realizar a troca de calor com o ambiente, mantendo a sua temperatura constante e equilibrada, é a respiração. Em um dia de muito calor (ou após o exercício) é possível verificar os cães respirando com a “língua para fora” para perder calor por evaporação. Dessa forma, é preciso estar atento ao conforto térmico dos cães dessas raças, assim como aos exercícios a que são submetidos não os expondo a hipertermia.

O controle de peso também deve ser rigoroso. É natural que a obesidade predisponha à sobrecarga respiratória que só agravará o quadro.

É importante ressaltar que o padrão racial do Bulldog (uma raça braquiocefálica) da Fédération Cynologique Internationale – FCI 149- que é seguido pela Confederação Brasileira de Cinofilia- a CBKC- chama a atenção para o fato de que os cães não devem apresentar dificuldades respiratórias, deixando claro que a seleção genética precisa ser feita com critério.

E, como sempre, o acompanhamento do cão por um profissional veterinário- logo no início da vida- garantirá melhor qualidade de vida ao animal, pois possibilita o diagnóstico precoce e no tratamento adequado.

Adriana Aquino
Médica Veterinária, Dra. em nutrição de cães e gatos.