Serpentes Brasileiras
As serpentes
Antes de mais nada, gostaria de dizer que começar a desenvolver este trabalho contando um pouco das minhas experiências no dia a dia, no manejo e contato com animais selvagens é motivo de grande satisfação para mim, no instante em que posso transmitir a todos que acessem nosso site um pouco das emoções, das alegrias que vivo ao trabalhar com animais selvagens.
Assim, para começar nosso trabalho, nada mais instigante que falarmos das serpentes, em particular, as serpentes brasileiras. A partir de agora, vamos produzir diversas matérias em que todos poderão ter contato e aprender um pouco mais sobre algumas das diversas espécies que ocorrem em nosso país.
As serpentes pertencem à ordem Squamata e estão entre os animais que mais fascinam os homens, quer por sua beleza, quer pelo veneno que possuem, no caso daquelas peçonhentas. A relação que temos com as serpentes está diretamente influenciada pela cultura em que vivemos. Enquanto que no mundo ocidental já nascemos sendo atemorizados pela possibilidade de sermos picados por uma serpente (lembrem-se que foi uma serpente e não um mico-leão-dourado ou uma ararinha-azul que fez com que Adão e Eva fossem expulsos do paraíso), no oriente, a relação com esses animais é completamente diferente, de respeito (foi uma Naja que salvou Buda de morrer no deserto), adoração e, porque não dizer também, uma certa dose de irresponsabilidade, em alguns cultos em que as pessoas expõem suas vidas ao tocar cobras peçonhentas.
No Brasil, existem aproximadamente 260 espécies de serpentes e destas, apenas 40 são peçonhentas.. Contudo, apesar do grande volume de informações que possuímos, ainda hoje não é difícil encontrarmos pessoas que se referem a qualquer minhoquinha como “jararaca da braba” e, inevitavelmente liquidam com o pobre animal. Não há porquê ser assim. As serpentes existem em nosso mundo porque têm uma função definida na cadeia alimentar e não cabe a nós, reles humanos, munidos de arrogante antropocentrismo decidir eliminá-las a qualquer custo. Precisamos, antes de tudo, entender o meio e os seres com os quais nos relacionamos neste mundo.
Em busca da jararacuçu (Bothrops jararacussu)
Pelos motivos acima expostos, decidimos iniciar nossos trabalhos falando das serpentes brasileiras. Dentre as muitas espécies brasileiras que me fascinam, a jararacuçu (Bothrops jararacussu) é uma das que considero verdadeiramente espetaculares. Com um comprimento que pode atingir 2,20m nas fêmeas, é o exemplar mais impressionante dentro do grupo Bothrops. Para encontrar esses animais, decidi recorrer a um bom e velho amigo, professor de biologia em Santa Catarina, Amilton Berkembrock. Este meu amigo, residente em Blumenau-SC imediatamente topou ajudar-nos na produção dessa matéria e, uma vez feitos os contatos, em uma semana estava eu em Blumenau, louco para encontrar um belo exemplar de jararacuçu. Com a assessoria do Amilton, que conhece cada centímetro daquele Estado e daquelas matas, saímos em busca de nosso objetivo, realizar uma matéria com a Bothrops jararacussu. Contudo, porquê tanto mistério a respeito de uma serpente, e porquê em Santa Catarina? Explico: isso se deve porque ao longo de meu trabalho com animais selvagens, nunca encontrei jararacuçus tão grandes e lindas como em Santa Catarina. São um verdadeiro espetáculo, um show da natureza. Por isso fomos para lá.
Nem bem amanheceu o dia, já estávamos preparados para o excitante trabalho que tínhamos pela frente e em pouco tempo de caminhada, estávamos frente a uma fêmea de modestas dimensões para a espécie. Tratava-se de um animal de aproximadamente 1,5m mas que já servia aos nossos propósitos. Claramente uma fêmea, pois neste caso, há um acentuado dimorfismo sexual entre machos e fêmeas, sendo estas marcadamente amarelas e pretas, enquanto que os machos são marrom e pretos, além de consideravelmente menores e mais delgados.
O animal em apreço, como toda jararacuçu, mostrou-se valente, rápido e fazer as fotos com ela não foi nada fácil. Dada a rapidez do animal, eu tinha que cuidar de mim mesmo e das pessoas que estavam dividindo aquele trabalho comigo, de modo a não permitir que a serpente fosse para o lado deles. Ressalto que não há nada de loucura nisso e todo o trabalho para mostrar a espécie é feito de maneira extremamente técnica e profissional. Se eventualmente possa parecer que se trata de um ato de insanidade, o leitor pode ter certeza que não. A experiência, o longo tempo trabalhando com as mais diversas espécies de serpentes peçonhentas me permitem utilizar de estratégias que garantem a minha integridade física, das pessoas que trabalham comigo e principalmente, do animal. Para tanto, antes de qualquer coisa, tratei de consultar a rede de saúde local sobre a existência do soro anti-botrópico na região, o indicado para a situação, caso eu tivesse a infelicidade de ser picado por uma jararacuçu grande. É importante salientar que no Brasil, a cada ano 20.000 pessoas são picadas por serpentes porém, em apenas 0,43% dos casos ocorre a morte do paciente. Dentro do universo dos acidentes ofídicos, 75% são causados por exemplares do gênero Bothrops ( jararacas ), 7% por serpentes do gênero Crotalus (cascavéis), 3% por serpentes não peçonhentas, 1,5% por serpentes do gênero Lachesis (surucucus) e aproximadamente 0,5% por serpentes do gênero Micrurus (corais verdadeiras). Vamos tratar de cada um desses grupos, mas antecipadamente informo que por causa dos 3% de acidentes causados por serpentes não peçonhentas, muitas pessoas acreditam que que com chás, xaropes, etc se pode tratar a pessoa picada por serpente peçonhenta. Isso é um erro fatal. Os caso de “cura” atribuídos a algumas situações referem-se a a acidentes causados por serpentes não peçonhentas ou com peçonha pouco ativa no ser humano. Os riscos existem, é verdade e, na condição de indivíduo, dotado de livre arbítrio, com relação ao meu trabalho, cabe a mim corrê-los ou não, mas posso assegurar a todos que esse negócio de morrer não é comigo.
Assim foi que fizemos algumas fotos deste belo animal, retratando-o em toda sua beleza, como um dos animais mais espetaculares da mata atlântica daquela região. Apesar de estarmos em Santa Catarina, é importante dizer que a espécie ocorre no Brasil, Paraguai, Bolívia e norte da Argentina. A jararacuçu em geral é facilmente reconhecida, dado o grande porte e colorido da fêmeas, muito mais comuns que os machos na natureza. Além do porte, diferencia-se das jararacas comuns (Bothrops jararaca), entre outras coisas, pelo padrão de desenho em seu corpo (não vamos entrar em detalhes de folidose, etc.) e por possuir a parte superior da cabeça negra como um carvão. Essas características fazem com que seja inconfundível. Como outras espécies da família Viperidae, não põem ovos e sim dão Pelo seu tamanho, pode perfeitamente predar roedores de pequeno e médio porte. Sendo répteis, dependentes de uma fonte externa de calor, precisam aquecer-se ao sol ou sobre uma superfície quente para só então iniciarem suas atividades diárias. Por este motivo quando estamos no mato encontramos eventualmente as serpentes e outros répteis sobre uma grande rocha, tomando sol. Eles não estão fazendo nada mais que acumular energia. Se soubermos nos posicionar e sobretudo como nos comportar, de forma alguma representarão perigo.
Fotografamos a jararacuçu, mas a sorte não nos brindou com um dos grandes exemplares que estávamos procurando. Isso quer dizer que em breve estaremos voltando para lá para encontra-los. Muitos outros animais foram fotografados nessa matéria e serão mostrados nessa primeira etapa de nosso trabalho, de modo que possamos contribuir para que todos aqueles que acessem nosso site tenham maiores e melhores informações sobre estes incríveis animais. Quem quiser entrar em contato ou que queira tirar quaisquer dúvidas, é só escrever para nosso e-mail que teremos a maior satisfação em atende-los. Valeu!
Biólogo