Sarnas Demodécicas
Os chamados ectoparasitas como são denominadas aquelas espécies animais que parasitam a superfície cutânea de outros animais, como são as sarnas em geral , apresentam um grupo de espécies pertencentes ao gênero DEMODEX, que por suas particularidades próprias merecem ser tratados a parte das demais sarnas.
São estes ácaros, assim chamados por pertencerem a classe ACARINA do philum zoológico ARACHNOIDEA, de tamanho pequeno, situados no limite da visão humana com a vista desarmada, pois medem em torno de 100 micra (micra é plural de micron, e este mede a milésima parte de um milímetro). Assim sendo, para serem facilmente visualizados, é necessária a utilização de lentes ou melhor ainda do microscópio ótico.
Entre as mais de 15.000 espécies desse grupo, em sua maior parte parasitas, destaca-se o DEMODEX CANIS, que por parasitar o nosso amigo cão será por mim tratado particularmente. Vive esse parasita no folícolo piloso de outros animais mamíferos e raramente nas glândulas sebáceas adjacentes aos pêlos, onde só penetram nas infestações mais graves. Localizam-se quase sempre na raiz do pêlo, só abandonando essa localização após multiplicação intensa. Seus movimentos são lentos, irregulares e realizam-se com ajuda das suas patas atrofiadas em número se oito, por esse motivo (oito patas) são denominados octópodes. Entre 17 e 26 graus centígrados sua movimentação praticamente cessa, embora não pereçam, tornando-se intensa em torno de 40 graus.
A transmissão desses parasitas processa-se por contato tanto direto quanto indireto, bastando que um animal parasitado tenha contato com outro suscetível, como outro cão ou mesmo outras espécies animais como bovinos, eqüinos, caprinos, ovinos e mesmo espécies exóticas desde que mamíferas. É importante assinalar-se que o homem embora preencha essas mesmas condições de parasitismo, não foi ainda descrito como parasitado por esse ácaro. É, no entretanto, o homem, parasitado pelo primo desse parasita, o chamado “Demodex foliculorum”, que no homem causa apenas efeito antiestético, constituindo o chamado cravo cutâneo.
Voltando ao Demodex canis: sua propagação é lenta na pele do animal parasitado, porém em casos especiais de invasão maciça, podem esses ácaros parasitas atacarem toda superfície corporal ao fim de poucas semanas. Geralmente de início não ocorre prurido (coceira), sendo esta presente quando a pele venha a apresentar-se também inflamada em decorrência do próprio parasitismo, exibindo então o animal forte coceira.
Clinicamente são descritas duas formas de parasitismo; A chamada forma escamosa ou crostosa, e a chamada pustulosa. Seus próprios nomes dão idéia dessas formas clínicas, porém, na realidade, esta última é a evolução natural do parasitismo anterior quando não devidamente tratado. Nesta última, aparecem infecções secundárias por germes de supuração, os quais preparam o caminho para a sucessiva propagação do mal às áreas de pele ainda não parasitadas do hospedeiro. Como parece ser o principal interesse de todos, saber mais a respeito dos diversos tratamentos para esse parasitismo, vou fazer um rápido retrospecto histórico de sua evolução no tempo.
Como já ressaltei quando tratei das sarnas em geral, o primeiro medicamente utilizado para esse mal, foi o enxofre, na histórica pomada de Helmerich.
Descobriu-se posteriormente, que o mesmo enxofre em sua forma nascente tinha ação mais intensa sobre o parasita, debelando o mal mais rapidamente, sendo então utilizadas as seguintes fórmulas farmacêuticas: Aplicação inicialmente sobre as áreas da pele parasitadas de uma solução a 40 % de Hipossulfito de sódio, e em seguida uma segunda solução (diluída, portanto fraca), de Ácido clorídrico a apenas 4 %. Aqueles experts em química já terão deduzido, que o ácido clorídrico entrando em contato já na pele do animal, resultante da primeira aplicação com o hipossulfito, formar-se-ia o almejado enxofre nascente, e este, pela sua ação anti-parasitária , vindo a matar a sarna.
Mais tarde descobriu-se o Benzoato de Benzila, que juntamente com a pomada de Helmerich e as soluções anteriores são ainda utilizadas para tratar as sarnas, porém deve ser realçado que para as sarnas demodécicas são esses medicamentos praticamente nulos. São os mesmos eficientes contra as demais sarnas, como a própria Escabiose humana e animal, porém contra o demodex suas ações são nulas.
Fui aluno de um saudoso professor em meu curso universitário na USP, na cadeira de Parasitologia, em que o catedrático ilustre: Dr. Zeferino Váz, que mais tarde implantou duas famosas escolas superiores no Brasil (A Faculdade de Medecina da USP de Ribeirão Preto, e a UNICAMP), tinha esse professor catedrático, um assistente: Dr. Décio Malheiros, que trabalhou com sucesso no tratamento dessa demodicose, pois é esse o nome dessa parasitose. Utilizava esse professor o oleo de Castanha de Cajú nesse tratamento. Acredito eu, que a castanha de cajú se tem algum efeito sobre o parasita, esse é quase nulo, sendo a melhora decorrente desse tratamento, repito: dedução minha e não do professor Décio, era mais pela impermeabilização olea da pele do animal, do que propriamente por ação da castanha de caju.
Médico veterinário - crmv-sp-0442