Répteis domésticos e o risco de Salmonelose
Durante 1996-1998, o CDC recebeu relatórios de aproximadamente 16 departamentos de Saúde de Estados sobre infecção por Salmonella em pessoas que tiveram contato direto ou indireto com répteis (isto é, lagartos, cobras e tartarugas). A infeção por Salmonella pode resultar em doença invasiva, como septicemia e meningite, particularmente em crianças. Apesar de esforços educativos, alguns proprietários de répteis desconhecem o fato de que répteis de estimação podem pô-los em risco, bem como suas crianças. Esse relato resume informações clínicas e epidemiológicas em 4 casos e fornece informações sobre legislações estaduais (nos Estados Unidos) para prevenir a transmissão de Salmonella spp. de répteis para humanos.
Legislação Estadual para Prevenir Salmonelose associada a répteis.
Durante Março de 1999, o CDC contatou todos os 50 departamentos de saúde de Estados para saber se existiam leis estaduais para a venda de répteis e a distribuição de informações sobre salmonelose. Dos 48 estados que responderam, 3 estados (California, Connecticut e Michigan) têm leis que exigiam que as lojas de animais de estimação forneçam informação sobre salmonelose para pessoas que compram tartarugas; 2 estados (Kansas e Maryland) pedem que informações sobre salmonelose sejam fornecidas a pessoas que comprem qualquer espécie de réptil. Três estados (Arizona, Minnesota e Wyoming) proíbem a manutenção de répteis sob certas circunstâncias e instalações.
MMWR Editorial Note Nos Estados Unidos, tartarugas de estimação foram importante fonte de salmonelose até que a venda de tartarugas menores que 10 cm (4 polegadas) fosse banida em 1975. (1) Essa medida levou a uma redução de 77% na freqüência do isolamento de sorotipos de Salmonella associadas a répteis no período de 1970 a 1976. (1)
A popularidade de outros répteis como animais de estimação está crescendo e tem causado preocupação quanto ao seu impacto na saúde pública. Este e outros relatos (2) demonstram que a Salmonelose relacionada a répteis continua a ser uma ameaça à saúde humana. Aproximadamente 93.000 (7%) dos casos anuais de infecção por Salmonella são atribuídas a contato com répteis ou anfíbios. (3) Estima-se que 3% das casas nos Estados Unidos possuam um réptil (CDC, dado não publicado, 1999). Muitos répteis têm Salmonella spp e eliminam intermitentemente os microorganismos nas fezes (4). As pessoas são infectadas pela ingestão da bactéria após manusear répteis ou objetos contaminados por um réptil e então, não lavam as mãos corretamente. Tanto o contato direto ou indireto com répteis infectados e seu ambiente podem causar doença em pessoas. (5,6).
Alguns serotipos raros de Salmonella associadas a répteis, tais como Java, Marina, Stanley, Poona e Chamaleão, têm sido isolados em humanos (7). Por exemplo, Salmonella marina identificada em humanos aumentou de 2 em 1989 para 47 em 1998 (8). O isolamento de sorotipos raros serve para alertar os profissionais que atuam em saúde pública para o risco de transmissão de répteis para o homem.
A maioria das pessoas que contraem salmonelose de répteis são bebes e crianças. Em 1994, 413 (81%) dos 513 casos de Salmonella marina foram em crianças com menos de um ano de idade, enquanto que 4.301 (14%) dos 30.723 casos relatados ocorreram em crianças com menos de 1 anos de idade (6). No período 1989-1999, 516 (24%) dos 2.150 isolamentos de Salmonella relacionados a sorotipos de répteis foram obtidos de crianças com menos de 4 anos, enquanto que 50.755 (19%) dos 267.131 outros serotipos foram desse grupo de idade (CDC, dado não publicado, 1999).
Os bebês e pessoas imunodeprimidas são mais suscetíveis a doenças, portanto, as infeções por Salmonella associada a répteis podem evoluir para septicemia e meningite (9).
O risco de transmissão da Salmonella de répteis para humanos pode ser reduzido através de medidas simples, tais como lavar bem as mãos com sabão após manuseio de répteis ou objetos que tenham estado em contato com répteis e também, evitando que os répteis de estimação tenham contato com áreas de preparo de alimentos. Crianças com idade inferior a 5 anos e pessoas imunodeprimidas devem evitar o contato direto e indireto com esses animais. Os répteis não devem ser mantidos em casas com bebês de menos de 1 ano e em instalações destinadas a crianças.
Todas as pessoas que trabalham em lojas de animais e proprietários de répteis devem ser informados para o risco de transmissão de Salmonella spp. As lojas de animais têm grande importância na educação do público, já que na maioria das vezes, são nesses estabelecimentos que os proprietários procuram informações sobre seus animais de estimação. CDC e o PIJAC (Pet Industry Joint Advisory Council) desenvolveram posters educativos e folhetos para veterinários e lojas de animais informando o manejo seguro de répteis.
O CDC fornecerá ajuda aos Estados interessados em desenvolver material educativo; contudo, se esse esforço educativo se mostrar ineficaz, os Estados podem adotar restrições à venda de répteis, de modo similar ao aplicado às tartarugas.
Referências
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Cohen ML, Potter M, Pollard R, et al. Turtle-associated salmonellosis in the United States, effect of public health action, 1970 to 1976. JAMA 1980;243:1247-9.
CDC. Reptile-associated salmonellosis–selected states, 1994- 1995. MMWR 1995;44:347-50.
Mermin J, Hutwagner L, Vugia D, et al. Salmonella infections from reptiles in FoodNet sites: the resurgence of a preventable illness. Presented at the annual meeting of the Infectious Diseases
Society of America. Denver, Colorado, 1998.
Burnham BR, Atchley DH, DeFusco RP, et al. Prevalence of fecal shedding of Salmonella organisms among captive green iguanas and potential public health implications. J Am Vet Med Assoc
1998;213:48-50.
Freidman C, Torigian C, Shillam P, et al. An outbreak of salmonellosis among children attending a reptile exhibit at a zoo. J Pediatr 1998;132:802-7.
Mermin J, Hoar B, Angulo FJ. Iguanas and Salmonella Marina infection in children: a reflection of the increasing incidence of reptile-associated salmonellosis in the United States. Pediatrics
1997;99:399-402.
Ackman DM, Drabkin P, Birkhead G, Cieslak P. Reptile-associated salmonellosis in New York State. Pediatr Infect Dis J 1995;14:955- 9. CDC. Salmonella surveillance annual tabulation summary 1998. Atlanta, Georgia: US Department of Health and Human Services, CDC, 1998.
Angulo FJ, Swerdlow DL. Bacterial enteric infections in persons infected with human immunodeficiency virus. Clin Infect Dis 1995;21(suppl 1):S84-S93.
Council of State and Territorial Epidemiologists. Reptile-associated salmonellosis and prevention education. Atlanta, Georgia: Council of State and Territorial Epidemiologists, 1999; position statement no. ID-13.
Tradução: Dr. Zalmir Cuba