Saúde Animal

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Quando a genética interfere no metabolismo




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destaque_many_dogsVocê já deve ter ouvido falar:
– Ah, que pessoa de sorte! Come, come, come e não engorda. É magro de ruim (rs). Tem um metabolismo de ouro. Deve ser genético.

É, a habilidade de digerir, absorver e metabolizar os nutrientes sofre influências e uma delas é a genética. E com os animais de companhia é a mesma coisa. Uma predisposição racial a desenvolver determinadas desordens pode ser encontrada no metabolismo de vitaminas, lipídeos, compostos nitrogenados e microelementos.

Vamos falar de algumas delas?

Comecemos pela má absorção da vitamina B12. Este nutriente é importante em diversas reações metabólicas que incluem a síntese de DNA e de células do sangue. Quando está deficiente pode causar anemias e alterações neurológicas. E para que ela seja absorvida é necessário que seja produzida pela mucosa gástrica e pâncreas um fator intrínseco. Uma mutação no gene que está associado a produção deste fator pode ocorrer, especialmente, em alguns animais da raça Schnauzer Gigante. Também já foram relatadas em Border Collie, Pastor Australiano, Beagle, Shar-Pei e até gatos. Isto causará uma má absorção e sintomas de deficiência.

Alguns animais podem ter problemas na estocagem do cobre. O cobre é um micronutriente essencial no metabolismo de ferro, na formação de hemoglobina (presente nas células do sangue) e proteínas que fazem o transporte de elétrons. Além disso, está presente em enzimas do sistema antioxidante. Quando há problemas na excreção deste microelemento ele pode se acumular no fígado, causando intoxicações. Isto pode acontecer com animais das raças Doberman Pinscher, Bedlington Terrier, West Highland White Terrier e Cocker Spaniel.

Uma condição grave associada a deficiência de zinco é a acrodermatite letal, que acomete o Bull Terrier. Ela está relacionada a má absorção desse microelemento que está ligado a uma centena de enzimas e é necessário em diversas rotas metabólicas. É uma condição grave que leva a morte.

Deficiências menos severas de zinco podem ocorrer em raças como o Husky Siberiano, o Malamute do Alasca, os Dogue Alemães e o Doberman.

Algumas desordens também podem ser encontradas no metabolismo dos lipídeos. O Schnauzer Miniatura pode desenvolver uma hiperlipidemia. Os animais que a apresentam podem estar assintomáticos ou apresentarem dores abdominais, vômito e/ou diarreia. Seus sinais são, muitas vezes, confundidos com a pancreatite (inflamação do pâncreas). Gatos também podem ter este quadro por deficiência de uma enzima chamada lipoproteína lipase (e este quadro também esta associado a herança genética). Neste caso, os felinos poderão apresentar inflamações subcutâneas e, em casos mais graves, neuropatias periféricas.

Para concluir, dálmatas também possuem particularidades no metabolismo das purinas. E o que são purinas? São componentes dos ácidos nucleicos, sim, aqueles que fazem parte do material genético. Como resultado destas particularidades, eles excretam mais urato e alantoína na urina e têm maiores concentrações sanguíneas de urato quando comparados a outras raças. Além disso, também reabsorvem menos urato nos túbulos renais. Essa concentração maior na urina pode predispor alguns cães ao desenvolvimento de cálculos (as famosas pedras).

Viu só? Mas é preciso ter em mente que esta predisposição genética não determina que todo animal da raça predisposta vá desenvolver a desordem metabólica. Apenas indica que alguns animais (dependendo da sua genética) podem vir a desenvolver.

Adriana Aquino
Médica Veterinária, Dra. em nutrição de cães e gatos