Piodermatites em Cães
As infecções bacterianas da pele, são denominadas de piodermatites e desenvolvem-se a partir de um desequilíbrio da flora normal, onde incluem-se bactérias do gênero Staphilococcus sp, Micrococcus sp, Acimetobacter sp, alem do Streptococcus alfa hemolítico.
Podem ser classificadas em externas, superficiais ou profundas, de acordo com as estruturas da pele que estão envolvidas, e ainda em primárias e secundárias.
Piodermatites externas
As piodermatites externas são aquelas que envolvem apenas a epiderme, como a dermatite úmida aguda (hot spots) ou a dermatite das dobras cutâneas.
Dermatite úmida aguda
Esta dermatite é resultante de traumas, geralmente induzidos pelo próprio animal, no ato de se coçar ou lamber, seja por psicose ou irritação de doenças alérgicas, ectoparasitas, corpos estranhos, pelame úmido ou otites externas. Raramente tem como causa a alimentação.
Animais das raças Retrivier do Labrador, Golden Retrivier, Pastor Alemão e São Bernardo são mais predispostos, além disso são mais freqüentemente observadas em épocas quentes e úmidas.
As lesões são de rápida progressão se não tratadas e caracterizam-se por serem eritematosas, alopécicas, úmidas, exudativas e geralmente dolorosas.
Deve ser feito diagnóstico diferencial para Dermatofitose, Demodiciose, Candidíase Dermatofilose e neoplasias.
O tratamento baseia-se na tricotomia do local e limpeza da lesão com iodo povidona. No caso de lesões muito dolorosas pode ser requerida a sedação do animal.
Também é indicado compressas úmidas com solução tipo adstringente de acetato de alumínio, 2 a 4 vezes ao dia, por 5 a 10 minutos para ressecamento das lesões.
Cremes ou pomadas a base de corticoesteróides, aplicados 2 a 3 vezes ao dia, aliviam o prurido e a inflamação. Pode haver necessidade do uso de corticoesteróides sistêmicos ( Predinisolona oral 0,55-1,1mg/Kg de peso diários, durante 5 a 7 dias).
Quando a lesão se apresentar crostosa, deve ser aplicado um creme emoliente.
Por se tratar de um tratamento sintomático, é fundamental a eliminação da causa primária, ou seja, do trauma inicial, para obtenção de bons resultados. Alguns animais podem apresentar uma má resposta ao tratamento, necessitando do uso de antibióticoterapia sistêmica.
Dermatite das dobras cutâneas
São resultantes da pouca circulação de ar, acúmulo de umidade e fricção constante da pele devido a um defeito anatômico de certas raças. O crescimento bacteriano é também favorecido pelo acúmulo de urina, secreções glandulares, saliva etc, na dependência da área afetada. As úlceras podem provocar dor e normalmente são fétidas.
Dermatite das dobras faciais
Possuem maior predisposição animais das raças Boxer, Buldogs e Pequinês.
A dobra facial pode atritar-se com a córnea causando ulceração e queratite.
Como tratamento definitivo recomenda-se a correção cirúrgica, mas por a dobra facial ser tida como padrão racial, a sua retirada produziria uma falta grave em animais de exposição.
Paleativamente, o tratamento baseia-se na limpeza com Peróxido de benzoíla a 2,5%, diária, ou uma a duas vezes na semana; e aplicação de adstringente.
Dermatite da prega labial
Maior predisposição em Spaniels e São Bernardo. O tratamento definitivo é a cirurgia e paleativamente Peróxido de Benzoíla e adstringente.
Dermatite das pregas corpóreas
Tem prevalência em animais obesos e cães da raça Shar-pei.
Não há terapia totalmente satisfatória, recomenda-se o uso de xampus antiseborreicos e antimicrobianos. No caso de animais obesos associar dietas de redução de peso.
Dermatite das pregas vulvares
Quando a origem desta dermatite for o infantilismo vulvar, recomenda-se uma vulvoplastia (episioplastia). Nos casos de fêmeas obesas, dieta para redução de peso.
Dermatite da prega caudal
É resultante da pressão da cauda em “saca-rolhas” sobre a pele da região perineal, tem por isso como raças predisponentes os Buldogs, Pugs e Boston Terriers.
O tratamento definitivo consiste na amputação da cauda, devendo-se ter cuidado com possíveis hemorragias.
Piodermatites Superficiais
São superficiais porque envolvem apenas a epiderme e os folículos pilosos. Dentre estas podemos citar:
Impetigo
É caracterizado pela presença de pústulas subcorneais que afetam áreas glabras da pele, sem envolver folículos pilosos.
Localizado principalmente nas áreas axilares e inguinais. Não é doloroso e o prurido pode variar de ausente a intenso.
As pústulas são facilmente rompidas e o exudato ressecado irá formar crostas amareladas.
Acomete principalmente cães jovens antes da puberdade e geralmente são causados por Staphilococcus aureus coagulase positivo, e pode estar associado a infecções virais, parasitismo, nutrição inadequada, ambiente contaminado e doenças imunomediadas.
Ao acometer animais idosos, pode estar relacionado com Diabetis Mellitus, hipotiroidismo e envolver bactérias do gênero Pseudomonas, Proteus e E. coli.
Como tratamento recomenda-se banhos com xampus contendo Peróxido de Benzoíla e limpeza com iodo povidona para apressar a recuperação. Em casos raros, pode haver necessidade de antibiótico terapia sistêmica por 10-14 dias.
Para sucesso do tratamento, lembrar-se de eliminar a causa primária.
Foliculite superficial
Definida como uma infecção bacteriana no interior do folículo piloso. Pode apresentar regressão espontânea na puberdade e ser secundária a problemas hormonais. Pode também ser devido a tratamento inadequado da pelagem, seborréia, parasitos e alergias.
Assemelha-se ao impetigo, localizando-se freqüentemente nas regiões inguinais e axilares. Apresenta aspecto primário de uma pústula com um fio de pelo dentro. Com o avançar temos pápulas, crostas, escoriações e alopecia. Procurar sempre a lesão inicial.
O tratamento consiste em xampus com Peróxido de Benzoíla e antibiótico terapia sistêmica por 30 dias. Por poder estar associado a seborréia, DAAP e hipotiroidismo é de extrema importância a eliminação da causa primária.
Dermatofilose
Causada pelo Dermatophilus congolensis, produz uma dermatite crostosa superficial. As crostas concentram-se no dorso e sobre a região escapular e coxal lateral. Pode afetar a face, os pés e as orelhas. A dor é evidente , pelo comportamento tristonho do animal.
Inicialmente as lesões constituem uma dermatite purulenta e exudativa com pêlos eriçados e crostas facilmente removíveis, revelando pus esverdeado sobre superfície oval. Quando em fase de resolução temos ressecamento das crostas, descamação, hiperpigmentação e alopecia.
Está relacionada a umidade e é secundária, se aproveitando de lesões usadas por ectoparasitos, traumatismos, infecções ou inflamações leves. Pode ter associação com infestações sarcópticas e escabiose. É facilmente identificado em esfregaços e culturas.
Deve ser suspeitado nos casos de DUA, foliculite crônica, dermatite seborréica, e outras dermatites crostosas e úmidas.
Diagnóstico definitivo através de esfregaço corado com giensa onde se observa duas a quatro fileiras de coccus gram positivos.
Como tratamento, eliminar ectoparasitos, traumatismos e umidade. Utilizar iodo povidona e antibiótico sistêmico (Ampicilina, Estreptomicina, Gentamicina, Lincomicina) por 7 a 10 dias.
Piodermatites profundas
A infecção atinge a derme e também o tecido subcutâneo. Geralmente são secundárias a outros fatores como: traumatismos, infecções ungulares, esctoparasitose, hipotiroidismo, hiperadrenocorticismo ou neoplasias; e quando generalizadas deve se considerar a hipótese de imunodeficiência.
Muitos microorganismos podem ser isolados alem do Staphilococcus aureus, como Actinomyces spp, nocardia spp, Mycobacterium spp e Mycoplasma spp.As lesões tipicamente encontradas são alopecia, hiperpigmentação, nódulos cutâneos, celulite, fístulas de drenagem, úlceras e crostas.
São sempre indicadas culturas fúngicas e bacterianas, alem de testes de sensibilidade. Raspados de pele também devem ser efetuados para descarte de sarna demodécica.
Foliculite e Furunculose
Podem ser continuação de uma foliculite superficial, extendendo-se, irrompendo-se através do folículo piloso, vindo a produzir a furunculose. Normalmente produz fístulas múltiplas que drenam exudato purulento.
A síndrome em geral é observada como piodermite nasal, piodermite do ponto de pressão, podermatite e generalizada.
O agente comumente isolado é o Staphylococcus aureus, podendo haver secundariamente Proteus sp, Pseudomonas sp e E. coli
A foliculite ligada a bactérias, fungos e parasitos é de início supurativa; enquanto associada a atopia, alergia alimentar ou seborréia é usualmente esponjosa.
Pododermatite
Pode ter início através de lesões causadas por corpos estranhos, traumatismo, contato com substâncias irritantes, queimaduras (pedras ásperas, tosa…), associadas a infecções parasitárias ( saran demodécica, Pelodera, Ancylostoma, Uncinária alem de carrapatos). Pode ter início psicogênico e é rara a associação fúngica.
Maior predisposição em Buldogs, Dinamarques, Basset Hound, Daschshund, Dálmata, Labrador, Weimaraner e Pastor Alemão; sendo as patas da frente mais afetadas.
O tecido fica eritematoso e edemaciado contendo nódulos, úlceras, fístulas e exudato serosanguinolento. O animal tende a lamber provocando dor e claudicação.
Se houver envolvimento dos coxins, estes se apresentarão com hiperqueratose e ulceração, podendo também indicar uma causa autoimune (pênfigo, lúpus).
O tratamento consiste em antibióticoterapia sistêmica (cefalosporina, gentamicina, cloranfenicol), lavagem em turbilhonamento ou compressas úmidas por 15-20 min. duas vezes ao dia e aplicação tópica de iodo povidona e nitrofurazona.
No caso de lesões associadas a leveduras e dermatófilos utilizar solução local de carbonato de cálcio e enxofre a 3%. Na demodiciose, preparar uma solução com 0,5ml de amitracide e 30ml de óleo mineral e passar nas lesões a cada 3 dias.
Dermatoses assemelhadas a piodermatites
Dermatose pustulosa infantil
É uma reação pustulosa aguda que acomete os cães de 3 dias a 3 semanas, observado principalmente em Shar-pei, Pointer e Labrador.
As pústulas progridem para crostas róseas ou castanhas, principalmente na cabeça e corpo. A temperatura corpórea permanece normal, porem os filhotes tornam-se anoréxicos e deprimidos.
Como tratamento, recomenda-se o uso de cefalosporina ou Vetalog (0,1mg I.M. ou S.C.) uma vez ao dia por 5 dias.
Celulite juvenil
É uma doença vesículo pustular em cãezinhos com menos de 4 meses e mais de 3 semanas, causada por hipersensibilidade ou S. aureus.
As lesões ocupam principalmente a face e a cabeça, podendo envolver orelhas, anus e prepúcio. A pele pode apresentar-se eritematosa e alopecica, pus e soro podem exudar formando crostas acastanhadas. A epiderme torna-se frágil e os folículos pilosos são destruídos , formando cicatriz permanente. Temos também linfoadenopatia regional. Pode haver infecção generalizada (febre, anorexia e depressão).
O tratamento consiste em antibióticoterapia (cefalosporina) e uso de corticóides por 2 semanas. Compressas úmidas com solução de Burow 3 a 4 vezes ao dia durante 5 a 10 minutos, também são indicadas.
Ana Elisa Peixoto De Boni
Médica Veterinária
Bibliografia Consultada:
Muller; Kirk; Scoott – Dermatologia dos Pequenos Animais, Ed. Manole – 1985
Lorenz, M. D.; Cornélius, L. M. – Terapêutica Clínica em Pequenos Animais, Ed Interlivros – l986
Lorenz, M. D.; Cornélius, L. M. – Diagnóstico Clínico em Pequenos Animais, Ed Interlivros – 1996