Nutrição Equina – Informações Básicas e Avançadas
REVISÀO CIENTÍFICA E TENDÊNCIA FUTURA DO MERCADO
Quando se fala de nutrição eqüina o centro das atenções é a energia. Enquanto nossa sociedade sofre a crise de produção e fornecimento, na comunidade eqüestre a crise é de informação.
I – NOÇÕES BÁSICAS: todos as reações biológicas não existiriam sem energia. Tudo começa com o fenômeno da fotossíntese – a folha da planta capta calor e luz do sol e CO2 (gás carbônico) do ar atmosférico, que incorporados a água e ao amido circulante em sua seiva viva, formam o hidrato de carbono – daí a denominação de carboidrato. Com isso as plantas devolvem o oxigênio ao ar atmosférico – disponível novamente aos animais. Enquanto na planta a clorofila está estreitamente ligada ao Magnésio no animal a hemoglobina está ligada ao Ferro, uma polaridade em favor da eficiência no aproveitamento do Oxigênio.
I-1) O Carbono: todos os nutrientes, com exceção da água e dos minerais contêm carbono na sua composição.
Nas gorduras e carboidratos o carbono se relaciona com o oxigênio e o hidrogênio e, nas proteínas se ligam também a alguns minerais e ao nitrogênio.Esta diferença elucida a eficiência energética de cada nutriente.
I -2) Formas de carboidrato:
A- os monossacarídeos: a glicose pode ser considerada como a unidade do açúcar, pois tem a fórmula mais simples dos açúcares (C6 – H12 – O6), ou seja, 6 átomos de carbono, 12 de hidrogênio e 6 de oxigênio. Por isso a glicose é considerada um monossacarídeo. Outros dois açúcares simples, frutose e galactose, também têm o mesmo número de átomos, porém com arranjos ligeiramente diferentes. Esse pequeno detalhe fará uma enorme diferença no metabolismo, principalmente durante atividade física.
B- Os oligossacarídeos: os principais são os dissacarídeos, ou açúcares duplos (a soma de dois açúcares simples). Os três principais açúcares duplos são :
* sacarose – glicose + frutose, encontrada na cana- de -açúcar, na beterraba, no sorgo etc.
*lactose – glicose + galactose, encontrada naturalmente no leite.
* maltose – glicose + glicose, encontrada em alguns cereais em germinação.
C- Polissacarídeos: três ou mais unidades de açúcar, são considerados polissacarídeos. São açúcares mais complexos. São subdivididos em vegetais e animais. Os principais polissacarídeos vegetais são o amido, encontrado principalmente no milho e a celulose, exclusivamente presentes na parte estrutural das plantas (folhas, caules, raízes, etc.). O principal polissacarídeo animal é o glicogênio, que está armazenado dentro dos músculos e do fígado como verdadeiro armazém de energia.
**nesse ponto estamos atingindo o cerne do nosso alvo – o cavalo. A intimidade que o metabolismo eqüino tem com a celulose (por isso classificado de herbívoro) é tão grande quanto a do glicogênio que está dentro do seu próprio organismo.
II – REVISÃO CIENTÍFICA: não se engane, muitas vezes é olhando para trás que se enxerga o futuro. A revisão científica que proponho é com visão moderna -fisiologia do cavalo na intimidade do seu próprio ecossistema (meio interno) e a relação deste com a cadeia alimentar (meio externo).
PARA DARMOS NOSSO PRÓXIMO PASSO, UMA SENHA DE ACESSO É O ENTENDIMENTO DE QUE A GARANTIA DA SUBSISTÊNCIA DE UM ECOSSISTEMA SÓ É POSSÍVEL ATRAVÉS DO COMPROMISSO QUE CADA ESPÉCIE ANIMAL ASSUME EM ALIMENTAR DE ENERGIA A CADEIA BIOLÓGICA. COMO NUM ACORDO DIVINAMENTE GERENCIADO CADA GRUPO ESCOLHEU UM INSTRUMENTO DE TRABALHO – O CAVALO ESCOLHEU A VELOCIDADE “.
Na boca, um sistema mecânico (dentes) e bioquímico (saliva) fazem lentamente a pré-digestão da celulose (capim) em prol de poupar tempo na digestão intestinal. Abastadas glândulas salivares e vasta superfície de absorção perilingual , proporcionam uma reciclagem de minerais por essa via (sublingual), com acesso direto às artérias sem passar pelo fígado (caso fosse pelo caminho mais demorado o intestino delgado). Esse recurso fisiológico dribla a interferência negativa da taxa de absorção de minerais característico das dietas ricas em fibra. Além do que a absorção sublingual é passiva, sem gasto de energia – o que em parte não ocorre lá no intestino grosso. A mastigação de 1Kg de feno no cavalo pode levar até meia hora.
Daí para frente a velocidade é “record”. Em segundos o alimento pode estar entrando no estômago, principalmente se forem ativados recursos facilitadores. Comendo com a cabeça baixa a postura do ventre age favoravelmente na ação do músculo diafragma que associado à musculatura da válvula gástrica suga o alimento de forma rítmica, econômica e sem traumas.
O estômago tem tamanho relativamente pequeno. Discreta, contínua e rítmica produção de suco gástrico, seu mosaico de glândulas e seus movimentos não se identificam como um compartimento misturador. Não está preparado para digerir a celulose e a digestão de amido é economicamente duvidosa, já que a saliva da pré-digestão bucal é carente em amilase (enzima que degrada o amido).`As proteínas e carboidratos sofrem as primeiras degradações. Todas essas características mostram que o estômago do cavalo tem uma participação de transição rápida do bolo alimentar, não devendo nunca ficar repleto nem tampouco totalmente vazio.
O intestino delgado está extremamente relacionado com a digestão química – além das suas próprias enzimas digestivas é beneficiado com a bile e o suco pancreático. Aqui se estabelece uma ENCRUZILHADA extremamente estratégica e ímpar no cavalo – ela chega a ser tão gritante que se evidencia até anatomicamente. O pâncreas lança sua secreção no intestino delgado (para digerir os alimentos) através de um canal que se bifurca em dois: um se comunica com o canal biliar e juntamente com ele age sobre alimentos concentrados (degradando suas porções de carboidratos, gorduras e proteínas) o outro despeja uma secreção que serve como redutor da acidez do conteúdo alimentar para que possa entrar no intestino grosso sem afetar a população mutualista (contribuidora) bacteriana e protozoária da câmara de fermentação – o ceco. Este (o ceco) é sem dúvida o mais inteligente sistema de conversão energética. A partir de matéria prima bruta, a celulose (o capim) é capaz de produzir em sua câmara de fermentação gazes que irão se transformar em ácidos gordurosos para uso energético imediato ou para armazenamento em forma de glicogênio no fígado e/ou nos músculos esqueléticos, ou até sob a forma de tecido adiposo, que quando mobilizado para gerar mais energia se transforma novamente em glicogênio (gliconeogênese). Esse glicogênio (conforme citado no ítem considerações básicas) é um polissacarídeo, que será subdividido em várias unidades de açúcar e estará pronto para gerar energia dentro da célula. Lá dentro da célula abastece a maior e mais eficiente usina energética da natureza, a mitocôndria.
*esse é o ponto de maior reflexão e que gera as maiores polêmicas práticas, científicas e estatísticas (há uma velha piada sobre o estatístico que se afogou num lago cuja profundidade média era de apenas meio metro).
Mas a Inteligência Biológica tem nesses momentos a razão de sua existência a de produzir energia luminosa – a lucidez.
Aí vem o “ser ou não ser…”. Porque então um modelo herbívoro por excelência, extremamente compromissado com a ecologia e por isso com a economia energética, dispõem de sistemas complexos bioquimicamente custosos à sua disposição. A resposta é simples e tem base em duas polaridades da Termodinâmica. Num extremo o fluxo de energia, no outro a concentração de energia.
Para entender o fluxo de energia, imaginemos um ecossistema abastecido de dias freqüentes de sol e com períodos bem distribuídos de chuvas e estiagens. E que não haja interferência significativa da atividades de economia humana. Durante as chuvas eles se concentram todos no mesmo lugar, fartando-se juntos com o capim novo, de alto teor protéico. No início da estiagem, a oferta de pasto não acompanha a demanda da população, fazendo com que se desloquem para pastos inexplorados. Assim os ruminantes pastam o capim mais alto e se retiram imediatamente para outro local para garantir ao cavalo o pastejo mais rasteiro de sua preferência. Esta atitude biológica coletiva lhe garante a repetição do ciclo. Esse sistema está sendo mantido através de um alto fluxo de energia.
Agora imaginem a situação inversa desses mesmos animais num rigoroso inverno (baixa temperatura e reduzida incidência solar). A procura por alimento deverá satisfazer a uma dieta de alto teor de carboidrato e gordura e que principalmente seja de alta concentração. Comer pouca quantidade que gere energia imediata e de glicogênio e gordura como reserva energética e isolante térmico. Um sistema de concentração de energia.
Enfim, esta é a simples razão da versatilidade de alternativas em metabolizar, utilizar e armazenar energia que está disponível nessa máquina de movimento que é o cavalo.
O nosso cavalo moderno, de alta performance e constituição física invejável vive simultaneamente sob os dois sistemas concentrando alta energia (no cocho) para gerar alto fluxo (nas competições). Diante dessa realidade uma estratégia nutricional compatível é providencial.
Há uma tendência bastante próxima no mercado de nutrição eqüina – mais que o alimento o fabricante terá que disponibilizar e comercializar informação.
Uma informação muito importante para nós foi disponibilizada por um trabalho científico de 1994, (Lancha JR AH. Recco MB, Curi R. Pyruvato carboxilase activity in the heart and skeletal muscle of the rat. Evidence for a stimulating effect of exercise. Biochem Mol Biol Int 32:483-89, 1994).
Essa pesquisa mostra na prática a interação econômica de geração de energia entre a disponibilidade de carboidrato em favor da mobilização de gordura. Esse dado é altamente estratégico na competitividade atlética de eqüinos de alta performance. Na próxima edição falarei porque os fenos de gramíneas selecionadas associadas às sementes oleaginosas como a linhaça, podem ser a combinação do futuro, e como o estudo da cronobiologia poderá gerar informações em favor da “inteligência Biológica”.
Médico Veterinário