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Leptospirosis – Saiba mais!




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ratSob esse nome são conhecidas várias doenças infecto-contagiosas causadas por organismos microscópicos agrupados entre os espiroquetas, e estes para quem não sabe, são os organismos inferiores que têm o corpo de forma espiralada, como o agente causal da Sífilis (Treponema palidum). Antigamente eram esses organismos divididos apenas em duas espécies: Leptospira interrogans: que englobava um grande número de variedades patogênicas; e o Leptospira biflexa: variedade de comportamento saprófita. Esta divisão baseava-se em critérios estritamente sorológicos mais ou menos específicos, que forneciam os sorogrupos e sorovares de leptospira patogênicas e saprófitas . Entretanto , em 1992, o Subcomitê em Taxonomia que é uma entidade internacional que classifica os seres vivos em geral, propôs a divisão da Leptospira interrogans em seis espécies: L. borgpetersenii, L. interrogans, L. noguchii, L. santarosai, L. weilii e L. kirschneri – baseando-se em critérios de diferenciação molecular entre os diversos sorovares.

O grupo de Genética Molecular de Leptospiras do Instituto Pasteur de Paris, na França, utilizando o método de hidroxiapatita no estudo da relação entre o DNA dos diversos sorovares de leptospiras, propõe um modelo de classificação em espécies genômicas ou genomespécies, incluindo às novas espécies citadas acima, outras onze, totalizando três gêneros: Leptospira, Turneria e Leptonema, e 301 sorovares.

Como característica geral esses organismos inferiores são bastante sensíveis à luz solar direta, aos desinfetantes comuns e aos anti-sépticos. Seu período de sobrevida na água, varia conforme a temperatura, o pH , a salinidade e o grau de poluição dessa água. Sua multiplicação é ótima em pH compreendido entre 7,2 e 7,4 (neutro, porém ligeiramente alcalino). Experimentalmente já foi constatada persistência de leptospiras viáveis em água por até 180 dias. O sorovar icterohaemorrhagiae morre em 10 minutos a temperatura de 56 graus centígrados e em 10 segundos quando a 100 graus . Sobrevive ao frio e mesmo ao congelamento (100 dias a menos 20 graus C). Pode ser liofilizada e é muito sensível aos ácidos, perdendo a sua motilidade em 15 minutos, quando em solução de HCl (Ácido Clorídrico) a 1:2000. Essas características todas são importantes serem conhecidas, pelo fato desse organismo se transmitir a través da água, por ocasião de enchentes ou inundações, funcionando os roedores em geral como disseminadores dessas doenças, como vetores intermediários tanto entre os animais como destes para o homem.

Os roedores, principalmente o Rattus norvergicus (ratazana de esgoto) é o principal vetor e disseminador dessas doenças, além de outros roedores pertencentes ao gênero Mus (camundongo): Mus musculus; e mesmo o Rattus rattus (rato doméstico) que habita comumentemente residências rurais e vive no telhado dessas habitações. Estes todos também se contagiam com as Leptospiras e adoecem, porém sendo mais resistentes passam a elimina-las por longo período principalmente pela urina, e tendo esses roedores o infeliz hábito de urinarem na própria água de que se abastecem, passa a ser a água assim poluída por urina o meio de contágio para outros animais e ao homem.

É portanto essa doença uma zoonose, pelo fato de ser comum tanto ao homem quanto aos animais que com aquele habitam ou convivem. É doença freqüente entre pessoas ligados pelo seu trabalho, com animais, tais como trabalhadores em abatedouros de animais (Matadouros), empregados de fazendas ou de curtumes de couros , além dos próprios veterinários . Pessoas que exercem trabalhos em limpeza pública (garis), departamentos de águas e esgotos, laboratoristas e mesmo professores e estudantes em contato direto com animais são também prevalentemente suscetíveis a contraírem essas doenças, quando não se precavenham convenientemente.

Em animais da espécie bovina são descritas as formas clínicas: AGUDA – mais freqüente entre animais jovens (bezerros); SUB-AGUDA – entre vacas em lactação, nas quais a doença se manifesta sob a forma de mamites atípicas (mastites = inflamação da mama) com início súbito e queda da produção leiteira simultânea. Na sua forma CRÔNICA, a doença se manifesta por distúrbios reprodutivos, principalmente abortos ocorrendo entre o quinto e sexto mês de gestação. Nesta espécie (bovina), os sorovares mais importantes são o HARDJO e POMONA na Europa. Já no Brasil são os sorovares: WOLFFI, HARDJO, POMONA SERJOE, AUSTRALIS E GRIPPOTYPHOSA.

Em animais da espécie suína, a doença se manifesta por transtornos reprodutivos, com volta ao cio das fêmeas nas primeiras semanas seguintes a uma efetiva gestação, descargas vulvares e abortos ou natimortos na fase final de gestação, além de nascimento de produtos fracos . São os cachaços (reprodutores) os principais carreadores dessa doença as fêmeas do rebanho. Na Europa são os sorovares POMONA e BATISLAVA os mais freqüentemente encontrados. Já no Brasil, são os sorovares: POMONA, ICTEROHAEMORRHAGIAE e CANICOLA.

Em ovinos é baixa a incidência da doença, sendo os animais desta espécie considerados hospedeiros acidentais.

Em cães, a leptospirose assume caráter agudo, sendo os principais sorovares envolvidos o CANICOLA e o ICTEROHAEMORRHAGIAE. Nestes a doença tem início com febre alta , icterícia, insuficiência renal, vasculite generalizada grave além de lesões entéricas (intestinais). São os próprios cães já infectados ou ratos de esgotos, os principais responsáveis pela transmissão entre os canídeos. O hábito dos cães de se mutuamente cheirarem (principalmente seus órgãos sexuais externos), facilita a transmissão da doença, pelo fato de ser a urina o principal meio de contágio e que contem os agentes causais durante tempo longo, e mesmo após a cura do mal entre os animais que se salvaram.

Para os animais da espécie bubalina (búfalos), criados já em larga escala tanto na ilha do Marajó como interior paulista e regiões alagadiças do pantanal Mato-grossense, a doença se manifesta inicialmente com febre, seguida de icterícia e abortos entre as fêmeas prenhes . Nesta espécie os sorovares prevalecentes são: Gryppotyophosa, Pomona, Wolffi e Icterohaemorrhagiae.

Em Eqüinos, a doença se exterioriza com sinais de fraqueza, febre, mialgias (dores musculares) e abortos. No Brasil, inquéritos sorológicos já efetuados nesta espécie animal, principalmente nas regiões criatórias de S. Paulo, Goiás e Mato Grosso, revelou a prevalência dos sorovares: Icterohaemorraghiae, Canicola e Pyrogenes.

DIAGNÓSTICO – Os sintomas apresentados pelos animais, tais como febre, icterícia, abortos, etc., sugerem ao veterinário a possibilidade da doença, que deve ser confirmada por exames laboratoriais, tais como:

Isolamento bacteriológico do agente causal, por cultura de sangue (Hemocultura), ou urina, ou fetos abortados e seus envoltórios, em meios apropriados, tais como o de Fletcher. O animal de laboratório hamster (Mesocricetus auratus), é tido como o melhor para cultura e isolamento dos diversos leptospiras.
Imunofluorescência, técnica especial, sensível, porém cara.
Microscopia em Campo Escuro (Cardióide), também chamada Ultramicroscopia, com exame do sedimento obtido por centrifugação da urina dos animais suspeitos de estarem contaminados. Com essa técnica simples, é possível visualizar diretamente no campo microscópico o agente causal da doença.
Em fetos abortados e seus envoltórios, técnica especial de coloração de cortes histológicos por impregnação pela prata, e outros.
Testes sorológicos a partir do soro sangüíneo dos animais suspeitos, com a chamada prova de hemo-soro-aglutinação microscópica é o meio laboratorial mais difundido para esse diagnóstico, porém só recomendada sua realização a partir do término da primeira semana da doença, já que em sua fase inicial não houve tempo para a formação pelo organismo enfermo dos anticorpos específicos pesquisados.
Testes Elisa, para detecção de IgM contra os vários sorovares.
PROFILAXIA – Envolve várias técnicas, que vão deste a inoculação de vacinas nas espécies domésticas sensíveis ao mal, assim como o próprio homem, e combate e captura de ratos de esgotos. Especial cuidado devem ser tomados quando por ocasião de cheias ou enchentes, pelo fato destas determinarem a saída das galerias pluviais e esgotos das ratazanas que nesses locais se alojam e vivem.

Combate aos ratos de esgotos – Simples captura a través de armadilhas (ratoeiras), e mesmo com colocação de iscas envenenadas para combate desses indesejáveis roedores. Produtos químicos especiais, chamados de raticidas, podem ser empregados para esse fim, porém com especial cuidado para que não sejam tais produtos, assim como iscas envenenadas, ingeridas acidentalmente por outros animais domésticos.
VACINAÇÃO – Existem no mercado de produtos veterinários, vacinas específicas contra esse mal, preparadas para cada espécie de animal doméstico a ser inoculado preventivamente. Devem ser repetidas periodicamente conforme indicação de cada laboratório fabricante dessas vacinas.
ISOLAMENTO das pessoas ou animais infectados, como meio de evitar-se o alastramento do mal para outros organismos suscetíveis. Especial cuidado deve ser tomado com os excretas desse animais, principalmente da urina. TRATAMENTO – Vários antibióticos são eficientes contra essas doenças , tais como a Ampicilina , Amoxicilina , Penicilina G, Cefotaxime, Eritromicina, Tiamulin, e outros menos eficientes porém em alguns casos indicados, tais como: Cefalotina, Cloranfenicol e Sulfonamidas. Em casos em que os rins encontrem-se atacados (nefrite), revelou-se a melhor droga a dihidroestreptomicina, talvez por combinar sua ação bacteriostática a sua ação bactericida e persistência por maior tempo no tecido renal.

Dr. Carmello Liberato Thadei
Médico veterinário - crmv-sp-0442