Leishmaniose: Perigo!
A Leishmaniose também é conhecida como Calazar. É uma Antropozoonose (transmissão de animais para os homens e vice-versa através de um inseto) causada por um protozoário. As Leishmanias fazem parte de dois grandes grupos: um que causa a Leishmaniose Tegumentar e outro, que causa a Leishmaniose Visceral.
Os vetores implicados na transmissão da doença são insetos denominados flebotomíneos, ou popularmente conhecidos como mosquito-palha, mosquito-pólvora, birigui ou tatuquiras, que consistem em várias espécies do gênero Lutzomya. Esses insetos vivem em habitats variados, mas as formas imaturas desenvolvem-se em ambientes terrestres úmidos, ricos em matéria orgânica e com baixa incidência luminosa.
Os cães são os principais reservatórios fora do ambiente silvestre e são de grande importância na manutenção do ciclo da doença.
A infecção por Leishmania usualmente causa uma doença sistêmica crônica. No entanto existe uma forma de evolução aguda e grave, que leva o paciente ao óbito em poucas semanas. Existe, ainda, uma forma de evolução latente, com duração de cerca de dois anos, acompanhada ou não de sintomas. Infelizmente, uma vez manifestados os sintomas a doença evolui inevitavelmente para o óbito.
A Leishmaniose pode ser considerada como doença imunomediada porque o parasita tem a capacidade de modificar o sistema imunológico do hospedeiro. Os sinais clínicos e laboratoriais são variados: vasculite, uveíte, dermatite, poliartrite e glomerulonefrite são alguns exemplos. Pode haver anemia hemolítica e destruição de plaquetas. A dificuldade do sistema imunológico em defender-se corretamente pode abrir espaço para outras infecções concomitantes, como pneumonias bacterianas, demodicose (sarna demodécica) e Erlichiose (transmitida pelo carrapato ) por exemplo.
Há ainda a possibilidade da Leishmaniose estar associada com alguns processos neoplásicos, como Linfossarcoma de Sticker, Leucemia linfóide, Mieloma e Hemangiossarcoma.
As manifestaçãoes clínicas incluem: anemia, febre irregular por períodos inespecíficos, perda progressiva de peso e perda de apetite. As alterações dermatológicas são bastante frequentes e incluem descamação cutânea, áreas de rarefação de pêlos, despigmentação da pelagem, queda excessiva de pêlos, pêlos quebradiços e feridas que não cicatrizam (mesmo com tratamento dermatológico adequado). Podem também ser observadas úlceras e pequenos nódulos intradérmicos, assim como sangramentos de difícil controle (exemplo: hemorragia nasal ) .
A doença é muito complexa a listagem de sintomatologia e alterações laboratoriais pode ser muito grande. Chegar à um diagnóstico preciso de Leishmania pode ser difícil. Muitas vezes são realizados vários exames (alguns caros) durante vários meses até que consiga-se confirmar o diagnóstico. Em primeiro plano, o Médico-veterinário faz um exame clínico e físico no paciente. Em seguida é coletado material para: Hemograma completo, Bioquímica sanguínea variada ( rins, fígado, proteínas plasmáticas ), Sorologia para Leishmania e PCR ( pesquisa de material genético do parasita ) no sangue, na medula óssea, em linfonodos ou em órgãos como baço e fígado. Se houver lesões dermatológicas, exames específicos devem ser feitos, como Raspado de pele para pesquisa dos parasitos e Biópsia e Imunohistoquímica da lesão.
Após confirmado o diagnóstico, resta saber se o paciente hospedeiro positivo é transmissor ou não da doença.
O tratamento e seus resultados ainda são controversos. Alguns têm a opnião de que os cães positivos devem ser eutanasiados, enquanto que outros preferem arriscar o tratamento. A realidade é: após feitos todos os exames possíveis, somente o proprietário do animal é que deve decidir o destino dele: tratamento ou eutanásia. Como é uma doença zoonótica e de notificação compulsória, as entidades de saúde pública podem entrar em atrito com os proprietários, inclusive juridicamente.
Como vocês puderam perceber, a Leishmaniose não é brincadeira!! A Vigilância Sanitária de nossa cidade admite haver flebotomíneos em nossa região e há casos positivos de Leishmania na região, portanto, para manter seu bichinho mais seguro são necessários cuidados básicos na prevenção da presença do mosquito transmissor. Os cuidados do ambiente são os mesmos para o mosquito da dengue enquanto que os cuidados com o animal consiste em usar produtos que repelem e matam os mosquitos.
Para saber mais e esclarecer outras dúvidas, procure um Médico-veterinário Clínico de Pequenos Animais ou mesmo as pessoas encarregadas pela área de Epidemiologia da Vigilância Sanitária.
*Especialista em Clínica e Cirurgia Geral de Pequenos Animais (Pós-graduação “lato sensu”)
*Membro da ANCLIVEPA (Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais)
*Proprietário da Clínica Veterinária VETERICÃO (São Sebastião do Paraíso/MG)