Saúde Animal

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Killifishes

kille1Os representantes da família Cyprinodontidae, recebem genericamente o nome de Killifishes, que etimologicamente significa: peixes que habitam pequenas coleções de água. Ao contrario do que possa parecer; “Kill” = matar, do inglês; a designação destes peixes vem de origem holandesa. Em meados de 1624, os holandeses estabeleceram-se no nordeste dos EUA, o que influenciou o vocabulário local. Sendo assim o termo Kil usado neste caso é de origem holandesa, e significa riacho ou córrego, local de coleta dos primeiros peixes que foram designados como Killifishes (ex. Fundulus heteroclitus).

Inicialmente o interesse pelos Killifishes se dá pelo seu exuberante colorido, diversidade de formas e hábitos reprodutivos. Porém ao analisarmos detalhadamente a atual situação destes peixes no cenário mundial, podemos concluir que quase a sua totalidade corre grandes riscos de extinção.

No Brasil a situação destes peixes está mais comprometida, visto que as autoridades competentes pouco ou nada sabem sobre estes peixes e do real perigo que sofrem, além de serem pouco conhecidos na aquariofilia Brasileira, principalmente pela falta de literatura especializada sobre os mesmos e, consequentemente, o não domínio de sua reprodução e manutenção em cativeiro, como também sua preservação em estado selvagem.

A sua distribuição é ampla, não sendo encontrados apenas nos pólos, norte da Ásia, na Austrália e nas ilhas do Pacífico, como segue abaixo:

Breve sinopse sistêmica:

Família Oryziatidae – Sudeste da Ásia
Família Adrianichthydae – Ilhas Célebes
Família Horaichthydae – Índia
Família Goodeidae – México
Família Jenynsiidae – América do Sul
Família Anaplepidae – América do Sul
Família Poeciliidae – Américas
Família Cyprinodontidae (*) – Américas, Eurásia e África
A família Cyprinodontidae é subdividida em 2 grupos, sendo os principais representantes:
(*) Os Aplocheilideos – Distribuídos principalmente pela Eurásia e África.

– Principais gêneros:

Adamas
Aphanius
Aphyoplatys
Aplocheilichthys
Aplocheilus
Aphyosemion
Diapteron
Epyplatys
Foerschichthys
Fundulopanchax
Lamprichthys
Leptolucania
Nothobranchius
Pachypanchax
Procatopus
(*) Os Rivulideos – Distribuídos pelas Américas.

– Principais gêneros:

Rivulus
Neofundulus
Austrofundulus
Pterolebias
Rachovia
Trigonectes
Cynolebias

killeO tamanho:

Os Killifishes possuem uma variação de tamanho que vai de 1,5 cm (Nothobranchius janpapi) à 20 cm (Cynolebias porosus).

O formato:

Os Killifishes apresentam uma grande diversidade em relação a seu formato. Encontramos peixes de corpo longo e cilíndrico, achatado lateralmente com dorsal localizada próxima à nadadeira caudal, a qual possui formato lanceolado (Epiplatys e Aplocheilus), arredondado (Pachypanchax) e com prolongamentos (Aphyosemion); corpo alongado, cilíndrico na parte anterior e comprimido na parte posterior, apresentando as nadadeiras ímpares (dorsal, anal e caudal) arredondadas, sendo a dorsal de origem bastante recuada (próxima a caudal) e as pélvicas bastante pequenas (Rivulus); corpo comprimido e alongado, tendo as nadadeiras dorsal e anal terminando em ponta (Cynolebias minimus, C. sandrii, C. aureogutatus, C. citrinipinnis); corpo muito grande com escamas diminutas (Cynolebias porosus); corpo baixo e tamanho mediano, nadadeiras dorsal e anal terminando em ponta e fêmeas apresentando barramento vertical em seu corpo (Cynolebias whitei, C. boitonei, C. izecksohni, C. myersi); com nadadeiras dorsal e anal apresentando prolongamento vertical acentuado (Cynolebias dolichopterus); corpo alto e variando de médio a grande (Cynolebias constanciae).

As cores:

Os Killifishes (em sua maioria) são peixes que apresentam um colorido exuberante, dificilmente encontrado em outras espécies. Tal colorido é de extrema importância para a sua sobrevivência e perpetuação da espécie. Podemos citar como exemplo os Nothobranchius e as Cynolebias, que vivem em ambientes temporários (poças formadas pelo acúmulo de água da chuva, onde a água é de coloração escura ou barrenta com grande quantidade de partículas em suspensão. É devido a este ambiente, que a natureza os dotou desse belo colorido, que serve para atrair a atenção das fêmeas, na fase de acasalamento, como também serve de demarcação visual dos limites do domínio de um macho.

Os ambientes:

Os Killifishes obtiveram grande sucesso por viverem em ambientes inóspitos, ambientes, por vezes, de características ímpares. A sobrevivência nestes locais requer uma grande dose de adaptação, principalmente a reprodutiva. Ocupam ambientes tropicais e temperados que apresentam grande diversidade.
Quando fazemos pesquisas de campo relacionadas aos Killifishes, encontramos diversos tipos de ambientes, aos quais estarão os peixes devidamente adaptados, como veremos a seguir:

a – Poças de floresta – Cynolebias, Pterolebias, Rachovias.
b – Poças de restinga – Cynolebias.
c – Poças de cerrado – Cynolebias e Trigonectes.
d – Poças de savana – Nothobranchius.
e – Poças de baixada – Cynolebias.
f – Charcos – Trigonectes, Neofundulus, Cynolebias, Austrofundulus.
g – Pantanal – Neofundulus, Trigonectes, Cynolebias, Rivulus.
h – Riachos de floresta e baixada – Rivulus, Aphyosemion, Epiplatys.
Características gerais dos biótopos:

Estes ambientes são geralmente rasos, variando de 10 cm a menos de 01 m de profundidade. A água é de coloração escura, devido ao alto índice de matéria orgânica em decomposição, seu pH varia de 4.5 (fortemente ácido) a 7.0 (neutro).
Quanto ao fundo, geralmente é composto de matéria orgânica e argila, e a vegetação é caracteristicamente composta de pequenas gramíneas, taboa, ciperáceas e pteridófitas.

Os inimigos naturais:

Os Killifishes, de uma forma geral, dividem seu ambiente com uma grande gama de outros animais, citando como seus principais predadores as larvas de Odonatas (libélulas) e Coleoptera (besouro). Em segundo lugar podemos incluir alguns anfíbios e aves.

Hábitos:

1 – Sobre a alimentação: Basicamente os Killifishes se alimentam de insetos, larvas, pequenos crustáceos, flores e frutos, normalmente encontrados neste tipo de ambiente.

2 – Sobre a reprodução: Os Killifishes são peixes ovíparos, isto é, se reproduzem por ovos. Porém, vamos encontrar entre eles três processos pelos quais perpetuam a espécie, sendo eles os seguintes:
– Anual – Os Killifishes anuais efetuam sua postura enterrando os ovos no substrato (lama) do fundo do biótopo (poça), biótopo representado por brejo temporário, formado pelo acúmulo de água da chuva ou pelo transbordamento de pequenos riachos, em áreas de baixada, savana ou restinga, que ficarão totalmente secos após determinado período, que ocorre ao término das chuvas, e cuja duração estará diretamente relacionada com a evaporação e a permeabilidade do solo, fatores responsáveis pela perda de água do sistema. Devido a instabilidade apresentada neste tipo de sistema, vamos encontrar nesses Killifishes um processo de crescimento (ovo – adulto) rápido, onde alguns tornam-se adultos, sexualmente, em três semanas (Cynolebias minimus, C. myersi).

Outra adaptação acontece no decorrer de sua evolução no que diz respeito a seus ovos. Estes possuem a casca (córion) muito resistente, possibilitando que se desenvolva no interior dos mesmos um completo processo embrionário dividido em três fases evolutivas, designadas por Diapausa. Todo processo ocorre em um ambiente quase que totalmente seco (baixa umidade) nas camadas mais profundas, no solo seco (fundo) do biótopo. Estes ambientes são típicos de Cynolebias, Nothobranchius, Trigonectes, Pterolebias, Austrofundulus, Neofundulus e Rachovias.

– Semi-anuais – Os Killifishes semi-anuais possuem uma característica própria, isto é, no processo evolutivo os mesmos encontram-se em um estágio o qual podemos chamar de intermediário, entre os anuais e os não anuais. No que diz respeito à sua reprodução, como assim dizendo, esses peixes podem efetuar suas desovas no substrato do fundo da poça (biótopo) a exemplo dos anuais, ou desovarem nas raízes das plantas, próximo à superfície da água, como os não anuais, tudo dependendo de um sistema biológico interno que orienta esses peixes, com relação à secagem ou não dos locais habitados pelos mesmos, que são passivos à variações em seus níveis (de transbordamento à seca total), dependendo dos fatores climáticos decorridos em cada estação do ano. Estes peixes pertencem ao gênero Fundulopanchax.

– Não anuais – Os Killifishes não anuais, efetuam suas desovas normalmente nas raízes das plantas, junto a superfície d’água. Como exemplo podemos citar os Rivulus, Aplocheilus e Aphyosemion.
Como podemos ver, os Killifishes (anuais) são dotados de certas particularidades, que os tornam espécies distintas das demais, popularmente divulgadas.
No Rio de Janeiro existe uma fauna relativamente grande de Killifishes (Rivulus e Cynolebias), se considerarmos o tamanho do estado. Porém tais peixes vêm sofrendo um processo de destruição, motivado por dois fatores, a saber:

O primeiro diz respeito a seu modo de vida e ao processo reprodutivo (Killifishes anuais); o segundo está relacionado ao completo desconhecimento por parte da população e até mesmo pela maioria dos aquaristas sobre estes peixes, o que vem a colocar como maior ameaça aos Killifishes a ação antropomórfica, em seus ambientes.

Como foi visto anteriormente, os Killifishes anuais vivem em ambientes temporários, existindo um período de secagem total dos mesmos, o que ocorre no Verão, e considerando-se que a área de ocorrência de uma parte das Cynolebias do Rio de Janeiro encontra-se em regiões litorâneas (poças de restinga), sofrem constantemente processos de aterramento, os quais originam empreendimentos imobiliários a beira-mar, pois a especulação imobiliária não irá se preocupar com uma pequena poça no caminho das máquinas e a visão de grandes lucros, mesmo que isso inclua a extinção de uma ou mais espécies animais.
A outra parte das Cynolebias se localiza em áreas mais afastadas do litoral (interior), e o desconhecimento de tais peixes, seus costumes e seu habitat, por parte da população, torna-se um fator preponderante no processo destrutivo pelo qual os mesmos vêm passando. Estes peixes vivem em poças temporárias, e por serem estes locais considerados pela população e por alguns órgãos oficiais, como focos de mosquitos, são sumariamente bombardeados com pesticidas ou mesmo drenados e aterrados, sem que seja feito qualquer estudo de levantamento da fauna existente no local. Por vezes a área onde existe o biótopo é invadida, dando origem a um loteamento clandestino, onde as casas são construídas sem qualquer planejamento, e como tal não possui uma rede de saneamento básico, todo o esgoto (in natura) é despejado na depressão onde existia o biótopo, o que além de exterminar a população de Killifishes, gera um perfeito criadouro de mosquitos e foco de bactérias nocivas ao homem.

Com base nos fatos acima, podemos dizer que são quatro os fatores básicos que contribuem para a extinção destes peixes:

a – São espécies endêmicas.
b – São encontrados em apenas algumas épocas do ano.
c – Poucos estão presentes em áreas protegidas.
d – A destruição dos habitats.

Considero de extrema importância que estes peixes sejam divulgados e popularizados, para que possa ser detido este processo de extinção que os mesmos vêm sofrendo, como também seja revertido o atual quadro das populações ainda existentes em nosso país, pois este é o real motivo que me levou a escrever este trabalho, no qual procurarei mostrar o que vem acontecendo com este tesouro ecológico que possuímos, de tão grande utilidade para o homem e de tão rara beleza, porém, pouco conhecido e totalmente desprotegido.

Killifishes
O Killiofilo e o Biotopo.
Reprodução e perpetuação na natureza
Killifishes – Características Reprodutivas

Francisco Moutinho - piscicultor - Rio de Janeiro/RJ