Impactos causados pelo excesso
Você tem lido bastante sobre este assunto. Seja para a espécie humana ou as espécies canina e felina, matérias nos sites de notícias, na televisão e em revistas especializadas o tem abordado. Este tema poderia estar esgotado, mas na verdade, não está. Isto porque, em consultórios veterinários, muitos cães e gatos aparecem apresentando condições que são consequências deste quadro primário. Precisamos, por isso, continuar falando dele!
Já descobriu sobre o que vamos falar neste artigo? Sim, sim. É isto mesmo! Conversaremos sobre a obesidade.
Tecnicamente, um animal com 10 a 20% acima do seu peso ideal tem sobrepeso enquanto que valores acima de 20% caracterizam a obesidade.
A obesidade ocorre quando há um desbalanço entre a ingestão de energia e o seu gasto, ou seja, o animal ingere mais calorias (que são fornecidas pelos nutrientes gordura, carboidrato e proteína) do que precisa para suprir suas necessidades diárias. Com isso, esse excesso vai ser armazenado como gordura no tecido adiposo. Uma fase crítica para o seu desenvolvimento são os primeiros meses do crescimento e a fase de puberdade. Isto porque desenvolve-se um tipo de obesidade chamada de hiperplásica que é quando as células do tecido adiposo aumentam em número. Depois de certo tempo (na fase adulta) há uma estabilização na quantidade de células do tecido adiposo, mas as já existentes não são reduzidas. Assim, superalimentar um animal na fase de crescimento pode levar a obesidade e perder este excesso de peso depois será muito mais difícil.
Diversos fatores como o sexo, o status reprodutivo, a predisposição genética (raça), além da composição e da palatabilidade da dieta, assim como o estilo de vida (se ele é sedentário ou ativo) e, é claro, a ingestão de alimento podem influenciar no seu desenvolvimento. Dessa forma, cães e gatos adultos na meia idade, a castração, raças caninas como Cocker Spaniel, Labrador Retriever, Pastor de Shetland e os Terriers, animais com doenças endócrinas como o hiperadrenocorticismo (produção excessiva de hormônios pela glândula adrenal que fica próxima aos rins e que produz, dentre outros hormônios os corticoides) e hipotireoidismo (com baixa produção dos hormônios triiodotironina e tiroxina que controlam o metabolismo) têm maior predisposição a desenvolver a obesidade.
E esse excesso de peso pode levar a diversas alterações que incluem o desenvolvimento de diabetes, problemas cardiovasculares e respiratórios, mudanças do perfil bioquímico sanguíneo (alterações na concentração de triglicerídeos, por exemplo), intolerância ao exercício e ao calor, doenças de pele e do trato urinário inferior (no caso dos gatos) e, até mesmo, certos tipos de câncer.
Por isso, é importante que seja instituído um programa de restrição calórica nos cães e gatos que estejam acima do peso. O profissional escolherá uma dieta hipocalórica para realização deste programa e é importante que você, tutor, esteja ciente que o sucesso dependerá de você. Alguns tutores têm dificuldade em reconhecer que seus companheiros estejam acima do peso, outros não conseguem resistir ao olhar pidão do companheiro e acabam burlando o programa através do fornecimento de petiscos ou alimentos fora do prescrito pelo médico veterinário. No entanto, a colaboração é fundamental porque o objetivo é a longevidade e a qualidade de vida do pet. Isto que se deve ter em mente!
E lembre-se: como medidas preventivas- para evitar o ganho excessivo de peso- estão o não oferecimento de dietas a vontade, ou seja, o fornecimento de quantidades dentro da recomendação diária para o seu pet e o incentivo a prática de exercícios ( que incluem levar cães para passear ou enriquecer o ambiente felino, por exemplo).
Médica Veterinária, Dra. em nutrição de cães e gatos.