Hermafroditas, 32 cérebros e 18 testículos: as sanguessugas e sua utilização pela medicina
6 de Setembro de 2016
Elas são algumas das criaturas mais repugnantes de que a medicina já precisou; e apesar dos avanços da tecnologia, continuam sendo vitais em áreas como a cirurgia reconstrutiva.
Elas são úmidas, gosmentas e ao longo da história foram temidas, odiadas e amadas pela humanidade. Mas não importa o quanto avancemos tecnologicamente, ainda não surgiu nada para substituir o seu uso.
Sanguessugas são animais hermafroditas com 32 cérebros, nove pares de testículos e uma mandíbula com três filas de cem dentes cada uma.
E sempre foram e são essenciais para a medicina.
O laboratório BioPharm, no País de Gales, cria dezenas de milhares desses anelídeos, parecidos com lesmas escuras, para uso em hospitais em várias partes do mundo.
Os animais são deixados sem alimento entre seis e nove meses, para estarem famintos na hora de “trabalhar” – em outras palavras, sugar o sangue de um paciente.
Esse é o seu papel como ferramenta fundamental na cirurgia reconstrutiva contemporânea.
Os quatro humores
A fama das sanguessugas vem de tempos remotos.
“Um aspecto interessante sobre as sanguessugas é que elas aparecem de forma repetida ao longo da história da humanidade e em todas as culturas humanas”, afirmou Robert Kirk, professor de Humanidades e História da Medicina na Universidade de Manchester, na Inglaterra.
Os babilônios se referiam às sanguessugas como filhas da deusa da medicina; mas também eram consideradas criaturas perigosas capazes de drenar o sangue de qualquer um.
“Nesta cultura ancestral, as sanguessugas representavam tanto uma ameaça à saúde como uma ferramenta de cura”, acrescenta.
Essa visão permaneceu ao longo dos tempos, à medida que as criaturas eram usadas pelos egípcios, gregos e romanos, e por povos na China, na Índia e na Europa Ocidental, até os dias de hoje.
Houve até um tempo em que os anelídeos eram muito caros, pois representavam a solução para qualquer mal-estar.
Os médicos acreditavam na teoria dos quatro ‘humores’: que determinados estados da mente eram causados por excesso de sangue no corpo – sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra.
Assim, para restaurar o equilíbrio do corpo e virtualmente curar qualquer doença, às vezes era preciso drenar parte do sangue do paciente.
Sanguessuga de aluguel
“No século 19 a popularidade desses animais alcançou o apogeu”, conta Christopher Frayling, professor de História Cultural no Royal College of Art de Londres.