Hematozoários
Trypanosoma cruzi – Plasmódios – Babesia bigemina – Theileria parva – Babésia – Erlichias
São descritos em Parasitologia, que é a Ciência Biológica que estuda os seres vivos do reino animal que necessitam espoliarem outros seres vivos para poderem sobreviver, algumas espécies situados em posição inferior na escala zoológica, e que por serem unicelulares (protozoários) e parasitarem as células do sangue de seus hospedeiros são denominados de hematozoários.
Entre esses chamados hematozoários, devido sua real importância em medicina tanto veterinária quanto humana, destacam-se os seguintes:
1 – Trypanosoma cruzi – Causador da doença descrita pelo cientista brasileiro Carlos Chagas, e que por essa razão recebeu o nome de seu descobridor: Doença de Chagas. Devido sua importância, tratarei oportunamente dela em artigo específico, porém desde já é necessário ficar realçada a particularidade de não ser efetivamente esse protozoário um real hematozoário, já que embora circule no sangue de seus hospedeiros, tem predileção por parasitar células do tecido muscular, em especial aquelas do coração e denominadas miocárdicas, onde causa grave inflamação específica, por isso chamada de miocardite chagásica.
2 – Plasmódios: Plasmodium vivax; Plasmodium falciparum; Plasmodium malariae e Plasmodium ovale Stephens – Esses organismos unicelulares , todos eles causadores de doenças conhecidas por Malárias ou simplesmente Maleitas , são efetivos hematozoários pelo fato de parasitarem exclusivamente as células sangüíneas, em especial aquelas da linhagem vermelha denominadas hemácias . Ocorrem tanto no homem quanto em animais causando-lhes além de debilitação dos organismos em que se albergam como parasitas, também suas mortes quando não convenientemente tratados. Não tendo agora intenção deles tratar especificamente, voltarei ao assunto oportunamente em outro texto.
3 – Babesia bigemina, também chamado de Piroplasma begeminum, Pyrosoma, Apiosoma, ou Ixidioplasma. É esse protozoário parasita sanguíneo dos animais, causando-lhes a doença conhecida por Babesiose, Febre do Texas (Texas Fever), e no Brasil conhecida por Tristeza Bovina, já que são os animais da espécie bovina ou bubalina os mais atacados por esse hematozoário. Em seu ciclo parasitário esse protozoário parasita do sangue passa por um hospedeiro intermediário , quase sempre um carrapato, este podendo pertencer a várias espécies zoológicas. No Brasil é o carrapato conhecido por Boophilus o principal veiculador dessa doença para o gado vacum. Já nos Estados Unidos (Texas), esse hospedeiro intermediário do protozoário é do gênero zoológico Ixodes. Assim sendo, esse hematozoário em zoologia deve ser considerado como heteroxeno, já que em seu ciclo biológico passa por mais de um hospedeiro para cumprir seu ciclo parasitário, no caso, o carrapato como hospedeiro intermediário e uma espécie animal mamífera como hospedeira definitiva.
4 – Theileria parva, também denominada Piroplasma parvum, causa no gado bovino também doença parecida com a anterior, porém ocorrendo principalmente na África Oriental , daí a denominação da doença correspondente: Fébre da Costa Oriental da África. Difere da doença anterior (Tristesa Bovina), por ser causada por um protozoário específico, que também é diferente em sua biologia já que não pode ser transmitido de um animal a outro por meio de sangue contaminado como aquela, e também pelo fato de conferir aos animais que se curam uma imunidade duradoura, o que não ocorre com a Tristeza Bovina causada pela Babésia.
5 – Babésia caballi, também denominado Piroplasma equorum ou Nutalia. É o protozoário parasita do sangue dos animais pertencentes às espécies eqüinas , como o próprio cavalo. Essa doença ocorre mundialmente, sendo freqüente na Itália, França, Rússia e nos países balcânicos, assim como na África , Índia e também nos países sul americanos, inclusive o Brasil. Os hospedeiros intermediários (carrapato), pertencem ao gênero Dermacentor, sendo a espécie Dermacentor reticulatus o mais freqüentemente encontrado como disseminador da doença.
6 – Babésia ovis, também chamada por Babesiella ovis, causa em animais da espécie ovina doença similar a Tristeza bovina sendo os carrapatos pertencentes ao gênero Rhipicephalum os mais comumentementes encontrados como vetores e transmissores da doença denominada Babesiose Ovina . Ocorre na Rumania, Hungria, Alemanha, Bulgária e Rússia, e principalmente nos países situados na orla do mar Mediterrâneo.
7 – Babesia canis, também denominada Piroplasma canis, é morfologicamente semelhante àquelas que parasitam os animais das espécies bovina e eqüina, diferenciando-se apenas pelo fato de serem de tamanho maior e apresentarem-se no interior das hemácias em número de até 16 protozoários numa única célula vermelha do sangue circulante. Como hospedeiro intermediário foram já assinaladas várias espécies de carrapatos , entre os quais: Rhipicephalus sanguineus, tanto no Brasil como na Europa. Pelo fato de determinar nos cães parasitados sangramento pelas pontas das orelhas, recebia o nome de Nambi-Uvú por nossos indígenas, que em linguagem Tupi significa: Orelha que sangra. Os animais parasitados albergando esse protozoário em seu sangue circulante, principalmente no interior das hemácias, têm em conseqüência ao fim de curto período de tempo a ruptura desses glóbulos vermelhos, o que é chamado de lise sangüínea ou hemólise, e como conseqüência sobrevindo além de anemia do tipo hemolítico , também a presença do pigmento vermelho do sangue: a chamada Hemoglobina, dissolvida no próprio sangue , levando ao que é chamado de icterícia hemolítica. Determina mortalidade alta nos animais não tratados convenientemente.
8 – Erlichias, que como a anterior (Babésia), também parasitam os glóbulos vermelhos do sangue dos animais da espécie canina. São espécies de protozoários próximas às próprias Babésias, só destas diferenciadas mediante técnicas especiais biológicas. A doença correspondente é similar ao Nambiu-Uvú já assinalada por nossos indígenas.
DIAGNÓSTICO DAS DOENÇAS – É feito mediante coleta de sangue dos animais suspeitos, mediante picada com agulha diretamente da orelha. A quantidade mínima de uma gota é suficiente, a qual é estendida em esfregaço em lâmina de vidro, o qual após seco deve ser fixado pelo álcool metílico, e em seguida corado pelo método de Gimsa. Levada essa lâmina em seguida ao microscópio ótico, com utilização do maior aumento das objetiva e ocular com a chamada técnica de imersão, serão facilmente visualizados esses hematozoários situados no interior dos glóbulos vermelhos sangüíneos, quando positivo. A diferenciação dos diferentes hematozoários é feita pelas características morfológicas próprias desses parasitas , vistos na lâmina de sangue preparada pela técnica anteriormente descrita e pela espécie animal parasitada, além obviamente, dos outros sinais clínicos constatados no organismo doente.
SINAIS CLÍNICOS DAS DOENÇAS – Pelo fato desses parasitas do sangue determinarem lise dos glóbulos em que se situam como parasitas , ocorre em conseqüência diminuição do número relativo dessas hemácias , levando o animal parasitado a apresentar além de anemia também icterícia do tipo hemofílico. Disso resulta apatia do animal, o que valeu a doença o nome de Tristeza, e no caso daquelas que parasitam, cães, o sinal presente de hemorragia expontânea pelas pontas das orelhas . Referido sangramento ocorre em conseqüência da própria anemia causada pela doença nesses animais, o que inclusive pode levar o animal a morte quando não devidamente tratado a tempo. Animais intensamente parasitados chegam a ficar com as mucosas aparentes como aquela dos olhos (conjuntiva) e a própria mucosa da boca e gengivas completamente pálidas e mesmo esbranquiçadas, sinais esses que chamam a atenção do observador atento.
TRATAMENTO – Para cada tipo de hematozoário existe no mercado farmacêutico medicamento específico, o qual deve ser ministrado individualmente de acordo com o peso e idade do animal parasitado. Além disso medicação para regeneração dos glóbulos vermelhos deve também ser instituida, tais como sais ferrosos , quer como suplemento alimentar na ração ou mesmo mediante injeção muscular ou endovenosa. Conforme a gravidade do parasitismo o veterinário deverá indicar a medicação que melhor se enquadre no caso em questão.
PROFILAXIA – O combate ao hospedeiro intermediário é medida importante, e no caso de serem carrapatos esses hospedeiros transmissores, prescrição de banhos carrapaticidas, que podem ser quer com produtos a base de arsênico como se fazia antigamente, até os modernos produtos químicos fosforados e clorados. Para alguns tipos de Babésias de animais, como as chamadas Anaplasmas, existem também vacinas profiláticas, que podem ser ministradas quando os animais atingem em média um ano.
PREMUNIÇÃO CONTRA BABÉSIAS – Animais de alta linhagem genética, por serem mais sensíveis não apenas ao próprio carrapato como também a esses hematozoários, devem sofrer quarentena antes de serem levados para pastagens onde existam carrapatos contaminados, e durante essa mesma quarentena sofrerem o que é chamado de Premunição contra Tristeza, que nada mais é que inoculação de sangue onde estejam presentes glóbulos vermelhos parasitados por determinados hematozoários e durante a subsequente elevação térmica decorrente, receberem tratamento quimioterápico correspondente. Estabelecer-se-há dessa forma um equilíbrio biológico no animal que tenha sofrido essa premunição, entre a quantidade desses hematozoários no sangue e a própria capacidade desses animais de por sua própria capacidade biológica regenerarem suas hemácias lisadas, e com isso conviverem com os próprios carrapatos e os hematozoários de forma harmoniosa. Poder-se-ia chamar a essa situação de verdadeira Coexistência Pacífica. Determinadas raças de animais, como são o caso das raças zebuinas bovinas (Gir, Nelore, Guzerá, Indubrasil e seus mestiços), apresentam maior resistência a Tristeza Bovina . Já as raças oriundas do chamado boi europeu (Bos taurus), como a Holandesa, Chianina, etc. são altamente sensíveis a esses hematozoários, requerendo obrigatória Quarentena e Premunição quando importados de regiões ou países onde não existe o mal.
Médico veterinário - crmv-sp-0442