Fístula de papo em Filhotes- Alimentados Manualmente
Recebo freqüentemente filhotes, geralmente de psitacídeos, com alterações no papo. Os médicos veterinários sempre devem ter uma sistemática bem elaborada nestes casos, e utilizá-la toda vez que um exame clínico for executado.
A função primaria do papo é o armazenamento de alimento. Quando está repleto de alimento torna-se pendular e fica vulnerável a traumas. Os danos podem ser causados por mordida de outros animais, alimentação inadequada, ingestão de corpo estranho, e alimento excessivamente quente. Como explicado no texto ALIMENTAÇÃO EM AVES, onde o mesmo diz: “a fórmula deve ser aquecida a 38,3 a 40 graus centígrados com água quente, um prato quente ou uma cafeteira. A fórmula aquecida deve ser mexida com um objeto limpo para que o calor seja distribuído uniformemente. Deve-se usar um termômetro para determinar a temperatura da fórmula. O aquecimento da fórmula em um forno microondas resulta freqüentemente em queimaduras ingluviais”; um manejo inadequado causa freqüentemente um dano a mucosa do papo que poderá ocasionar uma fístula, a qual só poderá ser corrigida por meio cirúrgico.
O papo deve ser examinado quanto ao volume e tipo de conteúdo, corpos estranhos, abscessos, tecido fibroso de queimaduras anteriores, ar e fluidos. O peristaltismo normal do papo é de uma a três contrações por minuto em um papo parcialmente preenchido com alimento. Uma estase ou atraso do esvaziamento ingluvial é geralmente secundário a uma disfunção gastrintestinal generalizada em vez de um distúrbio ingluvial primário.
Após um posicionamento adequado da ave anestesiada com isoflurano, e monitoramento contínuo com a utilização do Doppler vascular, gráfico de freqüência respiratória a cada 5 minutos e gráfico de freqüência cardíaca a cada 5 minutos pelo médico veterinário anestesista, a preparação cirúrgica do local a ser operado é realizada. A fistula é debridada, tomando-se o cuidado de não perder os planos teciduais e só então se realiza o fechamento da fistula em um padrão inversor, com material de sutura absorvível em uma agulha atraumática.
Todo material ou tecido necrosado deve ser removido. Pode se tornar necessário um fechamento em duas camadas para evitar um vazamento. A pele é suturada com fio absorvível 4-0 a 6-0 em padrão contínuo, mas em alguns casos tenho utilizado o nylon 4-0 a 5-0 sem maiores complicações. O pós-cirúrgico necessita acompanhamento diário, se possível internamento nos primeiros dias; a utilização de antibióticos, antifúngicos, e colar protetor têm sido praticamente uma rotina ou regra. O mesmo padrão era adotado na Universidade da Florida pelo Dr. Avery Bennett. A administração de alimento deve obedecer a certos critérios como volume de alimento, temperatura, consistência, e freqüência a ser administrada. Praticamente as recidivas, em nossa experiência, são nulas.
Nos casos em que haja grande perda de tecido ocasionada pelo trauma, a ferida devera ser cicatrizada por segunda intenção. A ave é alimentada através de um esofagotubo, previamente colocado por meio de ato cirúrgico sob anestesia geral inalatória. Caso a injuria tecidual seja tão grande a ponto de impedir a cicatrização total, técnicas cirúrgicas como a utilização de flap tecidual (dermatoplastia) deverá ser realizada.
Médico Veterinário - CRMV/SP: 8621
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