Fenômeno da Heterose Aproveitado na Criação de Animais
Quando juntamos dois animais para reprodução, sendo estes da mesma raça (e obviamente de sexos diferentes), estamos procedendo ao que é chamado tecnicamente como simples acasalamento, Já quando os animais são de raças diferentes, esse ato é denominado de cruzamento, e seus produtos denominados mestiços. A continuidade desse processo de reprodução entre mestiços é denominado de Mestiçagem. Quando são juntados dois animais de espécies diferentes e for possível a obtenção de filhos desses dois, o procedimento é denominado de Hibridação, como é o caso por exemplo entre uma égua (Equus caballus) e um jumento (Equus asinus) – espécies diferentes – sendo o produto chamado híbrido (no caso, denominado muar ou mu), que por essa circunstância deixa de ser prolífico e não mais fecundos entre si como o burro e a mula. Deve ser assinalado que em Genética, que é a ciência que tem por objeto o estudo do patrimônio hereditário dos indivíduos das diferentes espécies quer animais quer vegetais, o termo HÍBRIDO significa apenas o produto de acasalamentos de indivíduos geneticamente diferentes, sem qualquer ligação com conceitos zoológicos ou zootécnicos, como anteriormente referido. No entretanto, antes de falar sobre CRUZAMENTOS, é necessário algumas considerações sobre um fenômeno biológico a ele ligado, denominado HETEROSE, também chamado de VIGOR HÍBRIDO ou Luxuriância.
Tal fenômeno foi pela primeira vez estudado por Kolreuter, em plantas, no século XVIII, embora citações esparsas de vantagens de híbridos conhecidos, tanto em animais como em plantas sejam antigas. O fenômeno da Heterose parece mais intenso quanto mais diferentes forem as linhagens e mais puras para essas diferenças. Por isso, é comum nos trabalhos de obtenção da heterose primeiramente uma consangüinidade dentro de cada linhagem que, depois, vai ser cruzado. A prova da importância da diversificação das linhagens é que a heterose é maior quando se cruzam linhagens consangüíneas de origens diversas do que linhagens consangüíneas de origem comum . Citei agora o termo Consangüinidade que não havia ainda utilizado, e para ser entendido, esclareço, que tal termo refere-se à acasalamentos entre indivíduos de famílias afins, como por exemplo: Pai com filha, avô com neta, tio com sobrinha, e assim por diante, e por isso nomeada em graus diversos, como primeiro, segundo ou terceiro graus de consangüinidade. A Consangüinidade é não apenas possível como bastante utilizada entre os animais e vegetais, sendo mesmo utilizada para apuramento de uma linhagem ou raça, isto naturalmente dentro de certos limites, pois se prolongada indefinidamente pode se tornar uma arma contra a seleção, pois ao invés de conseguir-se aprimoramento pode ocorrer seu oposto, ou seja, degenerescência racial. Do mesmo modo, a mestiçagem, que é o tema principal de meus comentários, também pode se tornar ao invés de meio de melhoramento racial, o seu oposto, ou seja degeneração, muito embora o fenômeno da heterose trabalhe sempre para um maior vigor da descendência do mestiço.
A Heterose se manifesta em diversos caracteres, como maior ganho de peso, maior resistência a doenças, maior produção, etc.. Algumas vezes apresenta aspectos negativos (Heterose negativa), com menor resistência a certas doenças específicas, menor fertilidade (as vezes até esterilidade). Convém lembrar, porém, que muitos autores não aceitam a expressão Heterose Negativa, uma vez que Heterose, por definição, significa aumento de vigor geral.
Em ZOOTECNIA, que é a ciência que tem como objeto os assuntos ligados a criação e aperfeiçoamento das raças de animais domésticos, nela os fenômenos da heterose vem sendo utilizados como meio de aumentar os ganhos econômicos dessa exploração. A esterilidade de muitos híbridos animais, como o do burro ou mula assinalados anteriormente, deve-se a problemas cromossômicos na Meiose desses Híbridos. As vezes, o híbrido nem se forma, abortando o embrião, como ocorre no acasalamento (Hibridação) entre uma cabra e um carneiro por exemplo. Há diversas explicações do fenômeno Heterose. Uma delas é de que resulta de maior concentração de genes dominantes. Cada linhagem (raça ou espécie) possui numerosos genes para vigor geral, alguns estando em linkage com recessivos. Cada linhagem raça ou espécie deve ser homozigota para vários desses genes, diferentes de uma linhagem para outra. Quando se cruzam duas delas, a descendência recebe maior concentração de dominantes do que qualquer linhagem inicial e, como esses genes dominantes são para vigor geral, este é maior na descendência. Outra hipótese, também aceita, é a sobredominância. Este fenômeno, já demonstrado isoladamente em muitos pares de genes, é aquele em que o heterozigoto para um par de genes *A-a* é melhor (fenótipo mais intenso) do que qualquer homozigoto (AA ou aa). Ora, linhagens apuradas pelo homem ou pela natureza devem ter muitos genes em homozigose mas, quando cruzados, terão tais pares em heterozigose e, portanto, neles apresentam sobredominância.
Tudo o que foi dito anteriormente, agora aplicado em especial na Criação de Cães, ciência essa denominada Cinologia ou Cinocultura, se traduz por uma infinidade de possibilidades, pelo fato de existirem reconhecidas pela Federal Cinológica Mundial mais de 300 raças de cães no mundo. Portanto, quando se pretender realizar qualquer MESTIÇAGEM, ou seja, acasalamento de qualquer raça pura com outra raça também pura, cuidados muito específicos devem ser tomados, e por alguém bastante especializado, sob pena de ocorrerem fatalmente malefícios ao invés de melhoramento animal. Numa ocasião oportuna, tratarei especificamente de certos cruzamentos mais freqüentes entre diferentes raças caninas, assim como o que já foi feito, inclusive para obtenção de novas raças, com o intuito de satisfazer as preferência diversificada da humanidade, sempre desejosa de novidades.