Distomatose
(FASCÍOLA HEPÁTICA)
O verme denominado ” Fasciola hepática “, descrito originariamente pelo naturalista Lineu, no ano de 1758, portanto há mais de 200 anos, é responsabilizado por uma grave doença denominada DISTOMATOSE, que acomete além do homem também algumas espécies animais, estas principalmente pertencentes aos grupos denominados: vacum (bovinos), suíno (porcos), eqüino (cavalos e burros em geral), principalmente ovinos (ovelhas). O cão doméstico parece ser refratário ou imune à essa doença, já que nunca foi o verme assinalado nessa espécie, ou então conseqüência do fato do cão doméstico sendo originariamente carnívoro e não se alimentando de capins contaminados com cercárias, não terem oportunidade de se infestarem com o parasita. Além dessas espécies, podem ser também parasitadas lebres, coelhos, castor, nutria, cobaios, antílope, camelo, canguru, além de diversos cervídeos como a corsa, o gamo, e o alce.
Trata-se de doença parasitária cosmopolita e universal, ocorrendo inclusive no Brasil, principalmente em regiões criatórias de carneiros.
O verme tido como padrão da espécie (Fasciola hepática, Linné, 1758), é classificado entre os Trematodos, e estes situados na classe dos Nematodos, que por sua vez está contido no filo (philum) animal denominado Nemathelminthes, ou Nematelmintos como vulgarmente chamados. Isso decorre de terem esses seres vivos o corpo de forma cilíndrica, tubo digestivo completo em todas as fases da vida, livres ou parasitas. Esta última afirmativa merece ser esclarecida, pois inevitavelmente dá motivo a indagações: Têm esses seres a particularidade de em seu ciclo biológico passarem primeiro por uma fase denominada de: vida livre, na qual habitando coleções de água como lagoas, açudes ou riachos de águas calmas passarem por várias fases, a primeira denominada Miracídio seguida da forma denominada Rédias. Na fase anterior (Miracídio) medindo cerca de 150 por 40 micra (Micra, plural de mícron é igual a milésima parte do milímetro), são portanto microscópicos só vistos com auxílio de microscópios óticos. Têm esses organismos nessa fase o corpo completamente coberto por cílios e assim são capazes de por assim dizer nadarem nas águas em que vivem, o que lhes permite alcançarem um necessário hospedeiro intermediário, sempre um caracol do gênero ” Limnaea truncatula “; Neste caracol hospedeiro penetram pela cavidade respiratória, até atingirem o corpo desse molusco onde se transformam em formas com denominações diversas, até atingirem seu desenvolvimento na nova forma denominada Rédias, e estas subseqüentemente em Cercarias. Nessa nova forma abandonam o molusco hospedeiro intermediário, e agora por serem providas de flagelos o que lhes permite nadarem ativamente nas coleções de águas em que vivem, se agarram em raízes de capins ou vegetações ribeirinhas. Essa vegetação contaminada pelo verme, marginal a essas coleções d’água, quase sempre açudes que servem de bebedouros para o gado, são assim enjeridas como alimento pelo gado nessas áreas apascentados, passando as cercarias para o trato digestivo desses animais, que assim se vêm parasitados com o trematoda, que nesses animais localizam-se preferentemente nos canais que dão acesso ao fígado (Canais colédocos); Nesses canais hepáticos que servem para o trânsito da bile elaborada pelo fígado até os intestinos, determinam grave inflamação inclusive da própria vesícula biliar (colicistite); Nessa fase e nesse novo local o parasita amadurece atingindo seu completo desenvolvimento, constituindo-se então o chamado verme adulto e exercendo seu ciclo de vida parasitária. Devido essa particularidade de necessitarem esses trematodas passarem primeiro por um hospedeiro intermediário (caracol), para em seguida poderem vir na vida adulta se constituírem parasitas de outro animal (ovino por exemplo), são chamados em parasitologia de: parasitas heteroxenos, ou seja, passam seu ciclo biológico parasitário por mais de um hospedeiro. Os próprios caracoes hospedeiros intermediários também são assim parasitados pelo verme, em sua primeira fase de vida (miracídio e rédia).
DISTOMATOSE (FASCIOLOSES) – É assim chamada propriamente a doença determinada pela infestação de animais ou do homem, por esse parasita em sua vida adulta. É essa doença parasitária um processo inflamatório crônico do fígado e de seus anexos, tais como a vesícula biliar e canais excretores de bile (Canal colédoco).
Inflamados esse importante órgão anexo do aparelho digestivo, como é o fígado e suas vias excretoras de bile (além da vesícula biliar), cujos sucos são responsáveis pela digestão dos alimentos, os transtornos decorrentes são facilmente previsíveis. Dificuldade de digestão, cólicas, dores abdominais, emagrecimento são alguns deles. Sendo essa infestação por grande número do parasitas, ou se tratando de um animal ainda jovem, ou fêmeas em gestação, os sintomas poderão ser alarmantes podendo inclusive levar a morte desses animais.
O fígado também se inflama, e na forma crônica da doença ocorre o que é chamado de inflamação intersticial do fígado, levando como resultado a diminuição da produção de bile e consequentemente a transtornos da nutrição e crescimento, e mesmo a morte do animal.
No gado bovino os transtornos intestinais ocupam o primeiro plano, variando desde atonia da pança (rumem) e subsequente cólica, intercalada com diarréias freqüentes, até distúrbios maiores como cólicas de evolução quase sempre fatal quando não tratada com urgência. Há concomitante diminuição da produção de leite obviamente das fêmeas em lactação, além de febre, emagrecimento, etc..
Em ovelhas o principal sintoma é um edema frio (inchaço) que se estabelece na garganta, faringe, parte do peito e mesmo no abdome. Concomitante palidez das mucosas aparentes (conjuntiva principalmente, além da mucosa da boca), abatimento, debilidade e emagrecimento. A lã desses animais parasitados torna-se quebradiça e seca (sem brilho). Ocorrem crises freqüentes de diarréias, com fezes líquidas e negras. Fígado aumentado de tamanho (hepatomegalia), facilmente constatavel a palpação abdominal desse animais, e mesmo sintomas de icterícia do tipo obstrutiva. O leite das fêmeas em lactação torna-se aquoso, e em decorrência os cordeiros não se desenvolvem podendo mesmo sucumbirem por carência alimentar, ou tendo seu desenvolvimento comprometido.
Em porcos os sintomas são pouco visíveis, se exteriorizando principalmente para o lado do sangue: anemia e algumas vezes icterícia. Edema da cabeça algumas vezes também aparece nesses animais quando intensamente parasitados. Diarréias com sangue (melena) são freqüentes nessa espécie quando parasitada, emprestando às fezes odor nauseabundo, consistência líquida e coloração negra.
Em cavalos os principais sintomas são digestivos. Cólicas graves, que nessa espécie são freqüentemente mortais quando não tratadas com urgência, é um sintoma a ser considerado quando suspeitos esses animais de se encontrarem parasitados pela fascíola.
ANATOMIA PATOLÓGICA – Quando necropsiados animais que pereceram em conseqüência desse parasitismo, são freqüentemente achados intestinos com perfuração e mesmo da cápsula hepática, dando em conseqüência peritonite (inflamação do peritôneo), sendo encontrados quase sempre, simultaneamente, aderências dos órgãos intra-abdominais. O fígado nesses casos, exibe sinais macroscopicamente visíveis de uma hepatite aguda, com simultâneo aumento de volume. Os gânglios linfáticos abdominais (hepáticos e mesentéricos) são encontrados todos enfartados (inflamados e grandes). Coleções de líquido seroso e mesmo sanguinolento são encontradas na própria cavidade abdominal, constituindo-se na chamada ascite. Em casos de evolução crônica, os animais perecem quase sempre caquéticos e anêmicos.
DIAGNÓSTICO – Os sinais clínicos anteriormente enumerados levam a suspeição desse parasitismo. Porém, só o exame coprológico é comprovatório, desde que simultaneamente sejam encontrado ou ovos do parasita nas fezes desses animais, ou mesmo o próprio verme adulto em líquidos digestivos ou coleções ascíticas. Punção exploratória da vesícula biliar, principalmente em carneiros, para coleta de bile e subsequente exame desta diretamente em microscópio, é o meio mais direto e eficiente para comprovação desse parasitismo.
Provas sorológicas, como a chamada de fixação do complemento e de precipitação são também utilizadas para diagnóstico da doença.
Em exames coprológicos deve ser dispensado especial cuidado na diferenciação dos ovos desse trematoda daqueles do Paramphistomum cervi, que são muito parecidos, porém diferentes.
PROFILAXIA – O meio mais eficiente para ser evitado esse parasitismo, é o combate ao seu hospedeiro intermediário (caramujo), pelo fato de sendo este erradicado das coleções aquosas onde o gado bebe água e se contamina, têm o trematoda seu ciclo interrompido e vem a se extinguir naturalmente.
TRATAMENTO – Numerosos medicamentes existem para o tratamento desse parasitismo, que deve ser sempre executado de forma geral a todo o rebanho, pelo fato de existindo um único animal infestado pelo parasita num determinado rebanho, seus companheiros no mesmo local apascentados têm probabilidades de estarem também doentes.
Médico veterinário - crmv-sp-0442