Saúde Animal

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Animais Portadores de Déficits Locomotores




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Conduta Clínica Diante de Animais Portadores de Déficits Locomotores por Enfermidades Nervosas

INTRODUÇÃO
Na prática clínica, é comum observarmos colegas com dificuldades na condução do exame clínico de animais portadores de dèficits na locomoção, que variam desde ataxia até o quadro de tetraplegia.

Indùbtavelmente, eximindo-se de qualquer responsabilidade, estas deficiências ainda são provenientes de sua baixa qualificação profissional. Hoje, encontramos livros especializados em todas as áreas da Clínica, mas, ainda continuamos a formar um veterinário eclético, sem que o mesmo tenha tempo e experiência profissional para o exercício da profissão. Na Universidade parte destas especialidades são reunidas sob a disciplina de Clínica Médica de Pequenos Animais e não mais do que dois semestres, ou muitas vezes um, são dedicados para a lecionação de um conteúdo por demais extenso. A neurologia é embutida no meio de outros conteúdos tais como: sistema digestivo, doenças respiratórias, etc., que nada tem haver com o sistema nervoso. Deste modo, é praticamente impossível passar ao futuro clínico, conhecimentos tão especializados e só resta ao veterinário, aperfeiçoar ou mesmo, adquirir novos conhecimentos após a sua colação de grau, através de cursos, palestras, mas, principalmente, pela leitura sistemática de livros especializados.

O objetivo deste artigo é levar aos colegas um método de exame clínico que possa-os auxiliar na condução de um diagnóstico final e, consequentemente, no estabelecimento de um tratamento específico nas deficiências da locomoção por distúrbios nervosos. Para os formados a mais tempo, cabe ressaltar que a neurologia não é mais ministrada pelas enfermidades específicas e sim, através de síndromes. Isto ocorreu por duas razões: primeiro que o aluno de veterinária não era capaz de distinguir uma encefalite de uma enfermidade medular pelos sintomas clínicos. Assim sendo, não haveria razão para lecionarmos com os programas antigos, onde se tratava de hemorragia cerebral, meningites, encefalites, etc.

Em segundo lugar, o quadro clínico nas enfermidades nervosas retrata o local da lesão e não, sua causa. Por exemplo: há pouca diferença, ou as vezes nem existe, no quadro clínico de um animal com lesão cerebelar causada por tumor, hemorragia, inflamação ou por degeneração. Deste modo, a lecionação da neurologia através das síndromes, parece-nos bastante pertinente. É preciso identificar em primeiro lugar, o local da lesão, através do reconhecimento das síndromes, para então, numa segunda etapa, procurar através dos meios auxiliares disponíveis (raios x, análise do líquido cerebrospinal, tomografia, etc.) identificar a causa da lesão. Na verdade, nem sempre é possível a conclusão desta última etapa: falta-nos recursos ou a técnica pode ser muito invasiva, não sendo esclarecedora e com grande risco de complicação.

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A HISTÓRIA

A história clínica é por demais importante. O aparecimento de um quadro súbito pode ser sugestivo de traumatismos, enfermidades vasculares ou metabólicas, enquanto, doenças degenerativas e neoplasias, aparecem e evoluem mais lentamente. Entretanto, nem sempre é possível confiar nas informações prestadas pelo cliente: em muitas ocasiões ele não estava presente ou não prestou a atenção devida. Deve-se também, evitar de conduzir o cliente as respostas: é preciso deixá-lo à vontade para narrar suas observações desde o começo até o momento atual.

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O EXAME CLÍNICO

Não se pode também aqui, desprezar o exame clínico geral do animal. Durante a sua realização, poderemos encontrar outros sintomas e até mesmo, a justificativa para os sintomas nervosos. Por exemplo: a insuficiência urinária pode ser a causa de polineuropatias e durante algumas encefalites virais, é possível observar sintomas em outros sistemas (digestivo, respiratório, etc.).

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O EXAME NEUROLÓGICO

Primeiramente, em um animal com ataxia dos quatro membros ou com tetraplegia, é preciso pesquisar a presença de sintomas chamados de “sinais de cabeça”, isto é, qualquer sintoma de lesão localizada acima do forame magno. Cegueira, nistagmo, convulsões, alterações comportamentais, distúrbios de nervos cranianos (disfagia, disfonia, estrabismo, paralisia facial, etc.) e alterações vestibulares (inclinação da cabeça, quedas rolamentos), são exemplos de sintomas considerados como “sinais de cabeça” e localizam a lesão acima do forame magno.

Se o animal em exemplo, não apresenta qualquer sintoma considerado como “sinal de cabeça” e é tetraplégico ou, em menor gravidade, está com ataxia dos quatro membros, há ainda três possibilidades. No primeiro caso, a lesão pode estar localizada no cordão espinhal cervical (C1-C5). Se isto for verdadeiro, o animal deverá apresentar os reflexos espinhais, de normais a aumentados, nos quatro membros (tríceps, bíceps e extensor carpo-radial para os membros anteriores e, femural, tibial cranial e gastrocnêmio para os posteriores). A este aumento dos reflexos espinhais, os autores mais modernos costumam denominar de reflexo do neurônio motor superior (NMS).

No segundo caso, a lesão pode estar localizada no cordão espinhal cérvico-torácico (C6-T2). Como este segmento é responsável pela inervação dos membros anteriores, haverá diminuição ou perda dos reflexos destes membros e isto é chamado de reflexo do neuônio motor inferior (NMI), com os reflexos dos membros posteriores normais ou aumentados (NMS). Nestas duas possilibidades de lesão, como a inervação simpática do olho desce até o nível de T2, o animal deverá também apresentar a Síndrome de Horner (enoftalmia, miose persistente e prolapso da nictitante).

A terceira possibilidade é da lesão envolver todo o cordão espinhal ou todas as raízes nervosas ou ainda, os nervos periféricos. Em ambos os casos, haverá perda ou diminuição dos reflexos (NMI) dos quatro membros, entretanto, no último caso, ou seja, na lesão nervosa periférica, as enfermidades frequentemente envolvem, além dos nervos espinhais, os nervos cranianos, sem outros “sinais de cabeça”. Nestas doenças há mais fraqueza do que propriamente paralisia e chama a atenção, a atrofia muscular precoce. As lesões difusas do cordão espinhal costumam também comprometer outras áreas acima do forame magno, sendo deste modo, acompanhadas por outros “sinais de cabeça”.

De fato, há ainda outra possibilidade no animal tetraplégico ou com fraqueza dos quatro membros, a da miopatia difusa. Neste caso, o exame neurológico nada revela de anormal, exceto a impossibilidade de locomoção, entretanto, há dor a manipulação dos membros e atrofia muscular. O perfil bioquímico de enzimas específicas do músculo no soro sanguíneo (CPK, LDH e TGO) confirma o diagnóstico. A biópsia também é de valor diagnóstico.

No caso de animais paraplégicos ou paraparéticos, por lesões toraco-lombares (T3-L3) e lombossacrais (L4-S2), não se observam alterações nos membros anteriores. Isto pode ser melhor verificado aplicando-se a prova do carrinho de mão. No primeiro caso, em lesões entre T3 e L3, como daí não parte qualquer inervação para os membros posteriores, as alterações encontradas nos membros posteriores serão manifestadas por lesão dos NMS, que transitam neste segmento, isto é , haverá aumento dos reflexos espinhais nos membros posteriores sem atrofia muscular. Se esta última acontecer, ela será tardia. Há incontinência espástica de urina e fezes. Nas lesões entre L4-S2, como parte daí a inervação para os membros posteriores e esfincteres, haverá perda do tonus muscular, com diminuição ou perda dos reflexos (NMI), acompanhados por atrofia muscular precoce. Há incontinência urinária passiva de extravassamento. A motilidade da cauda poderá estar comprometida. Como síndromes, o quadro clínico pode não ser completo.

As monoplegias são sugestivas de lesão nervosa periférica. Como há também lesão de NMI, ocorre perda do reflexo e atrofia muscular precoce. Aqui, a perda do reflexo localiza a lesão. Por exemplo: a perda do reflexo patelar indica envolvimento do nervo femural. Neste caso, haverá também atrofia do músculo quadríceps femural.

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CONCLUSÕES FINAIS

Na prática clínica, nem sempre é fácil a distinção A priori da síndrome neurológica presente. Há muitos matizes e a título de exemplos, em compressões toraco-lombares graves, poderá surgir a postura de Schiff-Sherrington e na síndrome lombossacra, pode predominar alterações nos membros posteriores ou nos esfincteres, dependendo da altura da lesão. Consequentemente, se faz necessário o exame seriado, pelo menos a intervalos semanais, não só para determinar o local da lesão e sua causa, como também para acompanhamento da evolução do processo.

Após realizado o exame neurológico, pode ocorrer do veterinário não conseguir implicar apenas um local de lesão que justifique todo o quadro clínico observado. Isto acontece nas enfermidades que causam lesão difusa ou multifocal do sistema nervoso. São elas: as doenças inflamatórias, degenerativas e metabólicas. Ao contrário, nos granulomas, nas enfermidades vasculares, neoplásicas e nos traumatismos do sistema nervoso, as lesões são focais. Quando não constatarmos qualquer alteração neurológica em um animal com dèficit locomotor, deve-se considerar a possibilidade de estarmos diante de um caso de distúrbio ortopédico. Finalmente, depois de localizada a lesão, considerando a evolução da enfermidade e a extensão da lesão, deve-se através dos meios auxiliares de diagnóstico, procurar esclarecer a sua causa, objetivando estabelecer um tratamento específico.

Dr. Luiz Felipe Castro Graeff Vianna
Professor Titular de Clínica Médica Veterinária, UFRRJ, PhD