Saúde Animal

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Cirrose Hepática




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O nome tem sua origem do Grego: Kirrhos, significando amarelado, o que deu em Latim o termo CIRRHOSIS, e em Português o nome das doenças do fígado que determinam alterações dos hepatócitos, que são as unidades citológicas básicas desse órgão e se traduzem por esclerose (endurecimento) dessa importante glândula acessória do aparelho digestivo dos animais mamíferos.

Em essência sob o aspecto anatomopatológico, o processo chamado CIRRÓTICO consiste em uma transformação do tecido hepático, em conseqüência do qual a disposição normal dos chamados lóbulos hepáticos (denominados hepatócitos) só visualizados mediante observação ao microscópio, e assim mesmo mediante processo de fixação e coloração adequados, são substituídos pelo aparecimento de verdadeiras ilhas irregulares de células hepáticas e ao mesmo tempo que de permeio a essas ilhas vai se formando considerável quantidade de tecido conjuntivo. Esse processo leva ao desaparecimento das células hepáticas, e principalmente de sua organização histológica própria constitutiva dos chamados hepatócitos, emprestando ao órgão uma consistência dura a sua palpação, ao mesmo tempo em que suas funções diminuem e o organismo exterioriza seu estado anormal decorrente dessa própria degeneração e hipofunção alteradas.

Nesse tecido conjuntivo neo-formado de permeio às células hepáticas são observados paulatinos aumentos de número dos linfócitos (células do sangue da linhagem branca), o que ocorre em geral quando existe inflamação crônica, porém no caso isso ocorre devido destruição do tecido próprio do fígado (parênquima) e por aumento vertiginoso dessa mesma resolução e regeneração.

Esses processos de resolução e regeneração do tecido próprio do fígado por tecido conjuntivo chegam a ser tão grandes ao ponto de darem origem a verdadeiros tumores; Nódulos de células hepáticas, cujo tamanho varia desde uma ervilha até uma azeitona são a olho nu visualizados a través da cápsula superficial do órgão, emprestando-lhe coloração esverdeada e chamados de adenomas de células hepáticas; Simultaneamente nos próprios condutos biliares são também vistas formações parecidas, porém estas chamadas de adenomas dos condutos biliares. O órgão em sua totalidade pode se transformar em uma hiperplasia adenomatosa constituída por grandes nódulos, produzidos por uma proliferação atípica, de crescimento infiltrante, como se fora um verdadeiro carcinoma (tumor maligno – Câncer) de células hepáticas. No atual estágio de nosso conhecimento não é ainda possível com segurança dizer-se ser esse processo cirrótico uma tentativa desordenada regeneradora do fígado ou já manifestações de crescimento de um câncer.

Há a crença popular ser esse processo cirrótico conseqüência do alcoolismo, quando no homem, porém existem tanto alcoólatras empedernidos nos quais não ocorre essa doença, quanto também muitos outros casos de indivíduos com cirrose que não abusam do consumo de bebidas alcoólicas, e mesmo alguns abstêmios. Concordamos que o hábito do consumo de bebidas alcoólicas constitui um fator importante, especialmente em casos humanos de jovens com cirrose. Porém, no nosso entender e da maioria dos pesquisadores e anátomo-patologistas é essa doença decorrente de transtornos do próprio metabolismo e uma manifestação associada do organismo contra certas substâncias tóxicas que tanto podem ser geradas no próprio organismo (endotoxinas) como absorvidas por outras vias (exotoxinas).

Sabe-se ser o fígado o principal órgão anexo do aparelho digestivo: responsável tanto pela síntese dos princípios alimentares absorvidos e a partir do estômago e intestinos digeridos, como também funcionando como verdadeiro silo para sua armazenagem para posterior formação de outros constituintes do organismo. Paralelamente a essa importante função, executa também o fígado o fabrico da bile, que intervém tanto na solubilização das gorduras ingeridas no bolo alimentar e também sua digestão para posterior aproveitamento. Alguns enzimas digestivos são também sintetizados no fígado e incorporados a própria bile para agirem na digestão dos alimentos, assim como outras tantas substâncias nele são geradas, com função parecida de verdadeiros hormônios reguladores do próprio organismo vivo.

A própria bile sintetizada nessa grande glândula é levada aos intestinos pelo chamado Canal colédoco, encontrando-se em seu trajeto para os intestinos com os enzimas geradas pelo Pâncreas, que constituem o suco pancreático, ao qual se mistura, para em seguida a través desse mesmo canal ser despejada na porção duodenal dos intestinos, a través da chamada Ampola de Vater, ambas secreções responsáveis pela digestão dos alimentos mais importantes como são as proteinas, carbohidratos e gorduras.

No final dessa mesma digestão processada nos intestinos por essas enzimas do fígado e pâncreas, sendo esse produto final absorvido a través da mucosa intestinal, é ele levado novamente ao fígado a través da veia chamada Porta, para ser ali metabolizado ou armazenado, para posterior utilização pelo organismo por intermédio de sínteses especiais no mesmo fígado processadas. É o fígado verdadeiro laboratório químico do organismo animal, não apenas fabricando sucos digestivos como também sintetizando substâncias para recomporem o tecido vivo por alguma razão a ser substituído ou constituído nesse mesmo organismo.

As distintas maneiras de reagir esse órgão em conseqüência da própria cirrose, dão origem aos diferentes nomes em que é a mesma denominada em Patologia.

Corte histológico de Fígado de porco (normal), corado pelo Método H-E (Hematoxilina Eosina), no qual além de sua identificação, poderão ser esclarecidos o que representam as letras ao lado: a: Veia central de um lóbulo hepático: b: Tecido interlobular: c: conduto biliar; d: ramo da artéria hepática; e: ramo da veia porta; O aumento do microscópio é de 400 vezes o original.
Corte histológico de Fígado de porco (normal), corado pelo Método H-E (Hematoxilina Eosina), no qual além de sua identificação, poderão ser esclarecidos o que representam as letras ao lado: a: Veia central de um lóbulo hepático: b: Tecido interlobular: c: conduto biliar; d: ramo da artéria hepática; e: ramo da veia porta; O aumento do microscópio é de 400 vezes o original.

Microfotografia de corte histológico, corado pelo método H-E (Hematoxilina-Eosina), com 400 aumentos, de um figado humano com Cirrose atrófica acompanhada de adipose. Examinada junto com um fígado normal (foto ao lado), podem ser facilmente comprovadas as alterações sofridas em consequência da doença.
Microfotografia de corte histológico, corado pelo método H-E (Hematoxilina-Eosina), com 400 aumentos, de um figado humano com Cirrose atrófica acompanhada de adipose. Examinada junto com um fígado normal (foto ao lado), podem ser facilmente comprovadas as alterações sofridas em consequência da doença.

1 – CIRROSE ATRÓFICA DE LAENNEC – Esta é a forma mais freqüentemente observada nessa doença do fígado, caracterizada pelo fato do fígado apresentar aspecto retraído, no qual todas as características anteriormente descritas são constatadas. O fígado pode ficar reduzido a metade de seu tamanho normal, sendo mais freqüentemente o lóbulo esquerdo o atacado quando a doença manifesta-se no homem. A superfície do órgão apresenta gibosidades marcantes. Ao corte, o tecido hepático apresenta consistência alterada para dura, ao ponto de ser notada verdadeira crepitação da faca que efetua referido corte. A própria superfície de corte permite a visualização das ilhas amareladas ou ligeiramente escuras que se destacam à vista do tecido conjuntivo amarelo cicatrizai. As características histológicos anteriormente descritos estão exacerbadas indicando a antigüidade do processo assim como farta deposição de gordura nessas mesmas células hepáticas, o que justifica sua coloração amarelada.

Como conseqüência desse endurecimento do órgão, sobrevem transtornos circulatórios localizados junto a Veia Porta e suas ramificações próximas do fígado, muitas vezes com subsequente ascite (Barriga d’água). É portanto a ascite uma das conseqüências mais freqüentes nos doentes de cirrose.

Sendo grandes esses derrames líquidos na cavidade abdominal que constituem em essência a própria ascite, o próprio peritonio que forra internamente toda a cavidade também muitas vezes se inflama em conseqüência, dando origem a peritonites. O baço também localizado na mesma cavidade abdominal e vizinho do fígado, em conseqüência se congestiona podendo vir a sofrer também tumefações com conseqüente engrossamento de sua cápsula externa de início e posterior amolecimento de sua polpa. Esse quadro constitui o que se chama de esplenomegalia associada a cirrose com concomitante ascite.

2 – CIRROSE HIPERTRÓFICA DO FÍGADO – Nesta forma de cirrose, ao contrário da forma anterior, o órgão apresenta-se aumentado de volume (hepatomegalia), o que está em contradição com sua superfície de aspecto nodular, sendo uma conseqüência do aumento do tecido conjuntivo inter-lobular, além da própria deposição de gordura nesse órgão (esteasse hepática). Têm correspondência esse tipo de cirrose com aquela que ocorre em alcoólatras jovens, sendo mesmo o seu primeiro estágio. Essas gordura depositada (armazenada) no fígado não tem características neutras, sendo uma mescla de colesterol com outras gorduras, que facilmente se precipita com formação de cristais. Existe uma antiga opinião entre os patologistas estudiosos dessa doença, ser este tipo de cirrose (hipertrófica) um fase anterior da chamada cirrose atrófica; Pode ser verdade que no caso de haver uma diminuição desse armazenamento de gordura no fígado, que é uma característica do tipo chamado hipertrófico, passe a doença a forma atrófica.

É muito diferente este tipo de cirrose daquela chamada de Cirrose de Hanot, já que nela a superfície do órgão é lisa, e o tecido hepático tem coloração ictérica (amarelo-esverdeado). Nesta última forma, da qual se discute muito e que é rara, sua causa fundamental é extensa inflamação dos condutos biliares o que caracteriza uma colangite difusa, com cirrose consecutiva.

3 – CIRROSE BILIAR – Entre os diferentes tipos de cirrose é aquela melhor conhecida no que diz respeito a sua causa. Pode ser conseqüência de um estancamento da bile, quando é então chamada de CIRROSE BILIAR COLOESTÁSICA, ou então de inflamação dos condutos biliares, então denominada CIRROSE BILIAR COLANGÍTICA. Em ambos os casos, o aspecto nodular da superfície do órgão pode ser pouco evidente, assim como também pouco pronunciadas as verdadeiras ilhas que são observadas em outros tipos de cirrose quando visualizadas ao corte do órgão.

4 – CIRROSE PIGMENTÁRIA – Neste tipo de cirrose ocorre sedimentação no parênquima do fígado, da substância denominada hemosiderina, o que determina a sua superfície de corte uma coloração entre amarelo-pardacento e pardo escuro, e com isso uma reação positiva para a chamada reação do ferro. As demais características gerais das cirroses são também aqui encontradas. Muitos outros tipos mais raros são descritos para as diferentes formas em que a doença pode se apresentar, porém são as anteriores as formas mais freqüentemente observadas entre os cirróticos.

Quem teve a paciência de ler até aqui observou que me ative aos aspectos exclusivamente anatomopatológicos dos diferentes tipos da doença. Porém, o clínico geral ou mesmo o especialista em doenças do fígado também tem outras formas de classificar esses diferentes tipos da doença, baseando-se em aspectos como por exemplo CAUSAIS. É o caso, por exemplo da cirrose que quase sempre vem em seguida para os doentes que tiveram uma hepatite infecciosa, principalmente quando se trata de doentes humanos acometidos pela chamada Hepatite infecciosa B (Antígeno Austrália), e também aquela que sucede aos doentes com Hepatite infecciosa C.

O que deve ficar patente, no entretanto, é ser a Cirrose uma doença grave, e com alta mortalidade, e quase sempre num prazo relativamente curto de evolução quando sem tratamento.

Mesmo sendo tratada sua probabilidade de cura é pequena, conseguindo-se quase sempre apenas prolongar a vida por algum tempo dos pacientes acometidos por cirrose.

O tratamento em geral, resume-se na administração de substâncias protetoras para o fígado, tais como extratos hepáticos e outros produtos afins, além de obviamente cuidados alimentares e repouso.

Dr. Carmello Liberato Thadei
Médico veterinário - crmv-sp-0442