Saúde Animal

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Bruceloses




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bruceConheça as diversas espécies que esta doença atinge
São assim chamadas as doenças infecto-contagiosas causadas pelas bactérias pertencentes ao gênero Brucela, do qual existem várias espécies, todas perfeitamente caracterizadas e distintas. Não são portanto uma única doença, mas várias, já que causadas por agentes etiológicos distintos, todas com sintomatologia também característica.

FEBRE DE MALTA OU DO MEDITERRÂNEO – É essa doença assim chamada por acometer preferentemente o homem, e causada pela espécie ” Brucella melitensis. ” Foi pela primeira vez isolada pelo pesquisador Bruce, no ano de 1887, de doentes procedentes da Ilha de Malta onde era endêmica, daí esse outro nome da doença. Ocorria, no entretanto, em todos os países banhados pelo Mar Mediterrâneo como Itália, Grécia, Espanha, França e Turquia, motivo de seu segundo nome pelo qual é conhecida na Europa. Caracteriza-se essa moléstia por acometer o homem, causando-lhe de início dor de cabeça, mal estar, falta de apetite e febre, esta última do tipo contínuo porém com períodos de intermitência, indo e vindo em ondas, o que lhe emprestou também o nome de Febre Ondulante. Além disso, produz inflamação do baço e fígado, não sendo raras complicações secundárias como artrites, neurites e orquites. Seus doentes quase sempre as contraem a través da ingestão de leite de cabras não pasteurizados, ou subprodutos lácteos, principalmente queijos ou manteigas onde a matéria prima não foi previamente pasteurizada e onde o germe se mantém latente por mais tempo mesmo a temperatura ambiente. Os trabalhadores em matadouros também facilmente se contaminam pelo contato com vísceras oriundas de animais doentes desse mal, motivo de ser considerada doença profissional. Os médico veterinários também estão mais expostos ao contágio, principalmente quando praticando partos em animais doentes sem a devida precaução. Fetos abortados de animais enfermos do mal, assim como corrimentos uterinos desses animais são o veículo de disseminação da doença.

Nos Estados Unidos foi isolada de pessoas acometidas por Brucelose também a espécie: ” Brucella suis “, originaria de suínos, daí seu nome, fato esse ainda não explicado de forma convincente, já que esse agente não ocorre em outras regiões do globo com a mesma sintomatologia. Para o homem acometido pelo mal não existe ainda medicação específica eficiente, sendo ainda utilizadas bacterinas (produtos biológicos) que em alguns casos apresentam bons resultados. O produto denominado Brucelina – preparado pela técnica de Huddleson, que nada mais é que o cultivo do germe em meio de cultura especial enriquecido com fígado, e em seguida filtrado em velas especiais de porcelana – quando utilizado nos estágios iniciais da moléstia surte bom efeito terapêutico.

DOENÇA DE BANG – É assim chamada a Brucelose que acomete os animais da espécie bovina, e causada pela espécie: ” Brucella abortus “, podendo no entretanto essa doença também ser causada em bovinos por outras espécies de Brucelas, como a ” Brucella suis “. Era essa doença conhecida desde o século passado, porém somente em 1897 o pesquisador Bruce que lhe deu seu próprio nome, conseguiu isolar a bactéria. Foram em seguida assinalados casos similares da doença também em suinos e caprinos, sendo que as causadas nesta última espécie podem ser tanto a ” Brucella abortus ” quanto pela ” Brucella suis “.

É também o cavalo (Equus caballus) e seus congêneres muares suscetíveis de uma infeção localizada causada por este mesmo agente etiológico, que nestes manifesta-se de forma particular – tal seja: inflamação da região da cernelha com formação de um flegmão com trajeto fistuloso, o que lhe deu o nome de Mal da Cernelha ou da Cruz (Região escapular também chamada da paleta), da cujo material inflamatório pode ser facilmente isolada a bactéria causadora, desde que cultivada em laboratório em meios apropriados.

Os animais das espécies bovina, caprina e suina enfermam-se pela contaminação das pastagens onde são apacentados por contaminação dessas pastagens por secreções originárias de fêmeas que abortaram em conseqüência do mal, pelo fato de tantos os fetos abortados quanto suas placentas serem por assim dizer ricas em brucelas, já que existe uma ainda inexplicada preferência do germe para o tecido embrionário, além do tecido glandular das mamas dessas fêmeas, o que vem lhes causar além de uma metrite também uma mamite específica, esta última explicando a contaminação do leite dessas fêmeas.

Pelo fato dessa Brucelose causar aborto, o primeiro sinal de alerta é uma diminuição do índice de natalidade do rebanho infectado pela doença, quando não detectados diretamente esses abortos, como acontece nas criações extensivas ainda prevalecentes nas regiões interioranas, principalmente do Oeste Brasileiro recém desbravado e recentemente sendo iniciada sua exploração pastoril.

Como já mencionado, instala-se a Brucela quase sempre no útero das fêmeas ou testículos dos machos. Naquelas além da metrite decorrente dessa instalação, advindo conseqüente morte e aborto do feto em gestação e posteriormente mamite concomitante e também incapacidade de novamente virem essas fêmeas a procriar incapacitando-a para reprodução.

É interessante ser assinalado que quase sempre as fêmeas bovinas conseguem ter um primeiro parto, porém os seguintes praticamente tornam-se impossíveis devido a metrite que se instala nessas matrizes. Nos touros, além da inflamação testicular ocorrem também inflamações das vesículas seminais anexas, o que igualmente acontece com os reprodutores suínos e caprinos, assim como os cães domésticos. Em conseqüência ficam tais animais incapacitados para a reprodução, além de poderem funcionar como disseminadores do mal para as fêmeas com quem venham a ter contato sexual. Existem portanto como meios infectivos para os animais, além da via oral pela ingestão de pastos contaminados por secreções contendo o germe, também a via genital, esta última a través, sem sombra de dúvida, pelo esperma infeccioso dos machos. Machos reprodutores reagentes soro-positivos contem em seu esperma o germe, do qual foi já isolado em várias partes do mundo.

Entre os canídeos, como o próprio cão doméstico e alguns animais selvagens do mesmo gênero, essas duas vias de infecção devem ser consideradas, prevalecendo nestes inclusive orquites conseqüentes a própria doença. Em fazendas de criação de bovinos, onde quase sempre coabitam também cães, sendo os fetos bovinos abortados em pastagens, e esses fetos mortos ingeridos diretamente pelos cães, acredito seja essa a via infectiva para esses nossos amigos.

O diagnóstico dessa doença em rebanhos bovinos, caprinos ou suínos é portanto inicialmente de suspeição pela diminuição da natalidade do próprio rebanho, e confirmado por um exame complementar de hemo-soro-aglutinação com antígeno para tal fim preparado pelos Laboratórios Oficiais de Referência Animal. A través de exame especial do leite, denominado Prova do Anel ou Ring Test, é possível também idêntico diagnóstico, específico para esse mal, já que os antígenos correspondentes são preparados com culturas do próprio germe causal.

Não existindo para animais tratamento eficiente, é indicado o afastamento dos soro-positivos do rebanho e da criação, devendo também serem tais animais identificados com marca especial a fogo daqueles comprovadamente doentes e identificado por esses testes. Podem esses animais doentes serem abatidos e suas carnes utilizadas para consumo humano, desde que afastadas as porções contaminadas pela bactéria na hora do abate, tais principalmente seus órgãos reprodutores e úberes, e desde que também tais animais sejam abatidos separadamente dos animais sadios.

Quanto ao Cão doméstico, foram já assinalados nesta espécie casos de abortos comprovadamente causados por Brucelas, assim como orquites também comprovadante causadas pelos mesmos germes. Para cães também não existe tratamento, nem tampouco meio vacinal profilático, como existe para a espécie bovina. As medidas preventivas para estas espécies domésticas estão restritas a segregação dos cães soro-positivos e seu afastamento da reprodução e do convívio com outros animais suscetíveis de contrairem a doença.

PROFILAXIA DA BRUCELOSE BOVINA – Para a espécie bovina, existe uma Vacina denominada B.19, que é altamente eficiente, já que preparada com germes vivos que foram atenuados por passagens em meios de cultivos especiais. As colônias dessa bactéria nesses cultivos adquirem a característica de se apresentarem com aspecto rugoso, diferentemente daquelas infeciosas que tem suas colônias o aspecto liso. São essas bactérias obtidas dessas colônias rugosas altamente eficientes como preventivas contra a doença, já que provocam nos animais que as receberem uma imunidade duradoura, porém é necessário que seja tal aplicação procedida antes da puberdade do animal a ser imunizado, ou seja em torno dos 6 meses de idade, caso contrário poderão infectar causando a doença ao invés de prevenir o animal quando forem estes mais tardiamente inoculados. No entretanto, não podem tais vacinas B.19 serem aplicadas em animais do sexo masculino mesmo quando jovens, por idêntica razão. Sendo tal medicamente imunizante um cultivo vivo (atenuado por técnica especial de cultivo, porém vivo), para esse tipo de profilaxia é usual o nome de Premunição e não de Vacinação.

Alguns anos atrás, nos Estados Unidos e também no Brasil, era comercializada com finalidade profilática contra essa doença, uma Vacina Especial, preparada em Amsterdan na Holanda pelo Laboratório N.V.Philips, com cultivos de cepas especiais de Brucelas, e mortas por meios químicos, sendo portanto uma Vacina morta, porem com poder antigênico (capacidade de estimular o organismo inoculado a reagir formando anti-corpos específicos). Esta vacina conferia uma imunidade temporal porém interessante aos bovinos inoculados, podendo inclusive ser aplicada nos animais machos e indistintamente de suas idades. Exigia ser repetida em intervalos regulares (anuais). Por motivo desconhecido referida Vacina desapareceu do mercado tanto Americano quanto de outras partes do mundo. Seu nome era DUPHAVAC-N. A.

Nota – Existe uma bactéria denominada: “Brucella bronchiseptica “, com características próprias diferentes das demais espécies desse gênero, e que infecta principalmente cães, causando-lhes complicações bronco-pulmonares quando doentes por viroses como a Cinomose. Referida bactéria foi pelo Comite da Sociedade dos Bacteriologistas Americanos, transferida do gênero Alcalígenes a que anteriormente pertencia para o gênero Brucella, sem não obstantes, ter qualquer característica patológica similar às suas co-irmãs causadoras das Bruceloses consideradas neste texto.

Carmello Liberato Thadei ( Médico Veterinário - CRMV-SP-0442 )
São José do Rio Preto - SP