Aquário Compensado
O Aquarismo é um hobby muito antigo. Chineses e egípcios já o praticavam, não para fins propriamente ornamentais, mas para subsistência. Os japoneses começaram, com as Nishikigois (carpas ornamentadas com brocado), a dar o caráter ornamental. Atualmente o Aquarismo está em franca expansão, já podendo até ter destaque seu ramo científico, a Aquariologia.
Em geral, manter um aquário não é trabalhoso, desde que bem montado e bem manuseado. Entenda-se por bem montado ter materiais de qualidade, e bem manuseado saber operar esses materiais e manter um plano de cuidados bem elaborado.
Quanto melhor a qualidade dos materiais empregados, maior a chance de sucesso e pouco trabalho. Mas esse tópico é discussão para outro artigo. O objetivo desse texto é formalizar um tipo de aquário não mais praticado usual pelo seu fim, mas ou por ter vários equipamentos que mantenham sua biodinâmica, pó pelas pessoas não investirem nesses equipamentos (porém não tomando os cuidados devidos – por desconhecerem – para esse tipo de aquário).
Podemos separar os aquários dulcículas (destaque-se que um aquário marinho não oferece a possibilidade de ser compensado) em duas modalidades: artificialmente compensados (os mais comuns) e os naturalmente compensados (os que chamamos por este nome). Os aquários artificialmente compensados têm sua biodinâmica sustentada pelos equipamentos, como filtros, lâmpadas, bombas e compostos químicos adicionados ao sistema. Já o aquário compensado não possui nenhum equipamento ou meio artificial de manutenção, sendo sua biodinâmica auto-sustentada.
Para manter um aquário compensado são necessários alguns cuidados, ou melhor, observações: 1) não poderá ter um número grande de peixes; 2) deverá ter uma quantidade de vegetais apropriados que possa sustentar plenamente o ciclo do nitrogênio; 3) deverá estar em um local apropriado, que incida a quantidade exata de luz necessária aos vegetais e animais; 4) o padrão estético geralmente está abaixo do que as pessoas desejam como exposição; 5) o processo de manutenção deverá ser disciplinado.
Compreendamos cada item:
– os peixes, em seu metabolismo, eliminam muito produto nitrogenado. Esse produto, nos aquários artificialmente compensados, é consumido pelo grande número de bactérias filtrantes criadas no filtro. Como o aquário compensado não tem filtração artificial, o número de peixes fica limitado à quantidade de bactérias filtrantes naturalmente criada no sistema.
– essa quantidade de bactérias está intimamente ligada à quantidade de vegetais. Estes, por sua vez, têm grande ligação com o ciclo do nitrogênio. Para entendermos esse processo, visualizemos parte desse ciclo:
O produto de excreção citado é o NH 3 (amônia), que é transformada em NO 2 (nitritos), em seguida NO 3 (nitratos), sendo estes consumidos pelos vegetais como fonte de nitrogênio. Esclarece-se, pois, a limitação dos peixes em relação ao número de bactérias e plantas.
– luz em excesso provoca o crescimento demasiado de algas unicelulares, que consomem muito nitrato, matando os vegetais superiores. Deve-se controlar a quantidade de luz tanto para não haver crescimento de algas, como para também não haver o crescimento demasiado das plantas. As duas espécies mais indicadas para esse tipo de aquário são Elodea densa (elódea) e Miriophylum aquaticum (rabo-de-raposa), pois consomem uma quantidade ideal de nitratos, podendo ter quantidade um pouco menor de vegetais no aquário. Outras plantas podem ser introduzidas, desde que reconhecidamente robustas às más condições; porém, devem ser retiradas imediatamente se perceba que estão perecendo (valendo este cuidado também às outras, pois plantas em processo de morte e decomposição liberam fenóis na água, compostos altamente tóxicos aos peixes). A luz matutina mostra-se a mais adequada.
– como nesses aquários são mantidos apenas peixes e plantas, cascalho e rochas apropriadas, sem iluminação artificial, geralmente não se tornam atrativos, principalmente pelo número limitado de peixes – a maior atração – aí mantidos. Vale, aqui, a hábil destreza do aquarista, em buscar a melhor decoração possível, dentro dos limitados recursos disponíveis.
– manusear um aquário compensado é bem mais complicado que um aquário sustentado. A quantidade de comida aos peixes tem que ser exata, pois eventuais excessos não são consumidos pelo número limitado de bactérias filtrantes, sendo conseqüência a descompensação. A manutenção periódica – troca parcial de água, sifonagem do fundo, poda das plantas – deve ser feita de maneira muito disciplinada. Compensar um aquário significa entrar em sintonia com a biodinâmica criada no sistema, e fazer com que esta entre em sintonia com você. Por exemplo, é importante estabelecer um período fixo de trocas parciais de água, e seguir à risca esse calendário. Assim, com o tempo, estabelece-se o equilíbrio entre criação/descarte de bactérias, manutenção da quantidade de nutrientes etc.
Montar e manter um aquário compensado é uma tarefa muito particular. Não há “receitas” prontas para isso, apenas pequenas orientações vindas de pessoas mais experientes, que podemos aplicá-las e modificá-las conforme necessário. Lançamos este artigo no Portal apenas para despertar o leitor para esta modalidade de aquarismo. Pode parecer trabalhoso – e o é, em termos – ou mesmo desnecessário. Porém, o conhecimento que se ganha, a “tarimba” em manter espécies vivas e saudáveis em condições limitadas, e a observação de como a Natureza, por si, é perfeita, não tem preço ou facilidade que pague.
Muitas pessoas, ao terem Bettas, já praticam de forma rústica essa modalidade de aquário. Aproveite, pois, para montar um aquário maior, colocar seu Betta e algum outro peixe pacato (obviamente, não pode ser outro Betta macho, nem mesmo fêmea), um caramujo Corbicula , por exemplo e… bom Aquarismo!
Bacharel em Química
Auxiliar Veterinário
Aquariólogo