Alergias em animais de laboratório
As pessoas me perguntam muito sobre as doenças que os animais de estimação, no caso específico roedores e lagomorfos, podem nos transmitir. É claro que a resposta é um tanto quanto complicada, pois zoonoses (doenças que são transmitidas ao homem pelos animais) existem, mas não são muito mais graves do que aquelas transmitidas pelos cães e gatos. É de conhecimento popular que os animais domésticos (cães e gatos) podem transmitir ao homem a raiva, sarna, toxoplasmose, ectoparasitos, dentre outras.
No caso dos roedores e lagomorfos, este tema é desconhecido e um mito apavorador se forma diante destes animaizinhos tão simpáticos. Não quero aqui explicitar minha opinião favorável a este ou a aquele animal, mas a verdade deve ser dita para uma melhor compreensão dos problemas que poderão advir após a aquisição de um roedor ou lagomorfo de estimação. Como a maioria esmagadora dos colegas médicos veterinários não possui esta especialidade, tentarei discorrer sobre o tema da melhor forma possível e inteligível.
Abordarei de forma simplificada alguns agentes que possuem um potencial zoonótico e ao término da explanação, aprofundarei o estudo nas alergias que o homem possui aos animais de laboratório. A Cheyletiella parasitivorax (ácaro) pode raramente afetar o homem provocando uma dermatite especialmente em crianças. A infecção por Bordetella bronchiseptica (cocobacilo) apresenta uma importância mínima, embora o microrganismo seja ocasionalmente recuperado da nasofaringe humana; pode causar tosse convulsiva e broncopneumonia em pessoas idosas. Cestóides ou vermes chatos têm seu espaço garantido neste estudo. Hymenolepis nana é patogênica para o homem e pode causar alterações intestinais. O protozoário do gênero Cryptosporidium por sua natureza altamente infecciosa e à tendência de parasitar diversas espécies, pode representar um risco em saúde pública. Deve-se observar certa precaução no manuseio de animais potencialmente infectados, amostras e materiais do ambiente de animais suspeitos de portarem a infestação. Infestações por criptosporídeos têm sido documentadas em veterinários e tratadores de bezerros contaminados. A falta de especificidade pelo hospedeiro sugere que animais possam ser reservatórios de criptosporidiose zoonótica para o homem. O curso da criptosporidiose no homem é determinado pelo estado imune do hospedeiro. A infestação pode ser assintomática ou causar profusa diarréia aquosa sem o menor traço de sangue, dor abdominal e anorexia. Em indivíduos imunossuprimidos, uma diarréia crônica e intensa pode levar o paciente à morte. O Trychophyton mentagrophytes pode contaminar os tratadores antes mesmo de ser notado entre os animais. O fungo é altamente infeccioso para o homem, especialmente crianças e pessoas debilitadas.
Como descrito anteriormente, entraremos agora mais fundo nas alergias que estes amiguinhos podem causar ao homem. Cerca de 11 a 15% dos veterinários, tratadores de animais e proprietários de animais de estimação são alérgicos a animais de laboratório. Normalmente, meses ou anos se passam antes que as pessoas que têm contato com animais se tornem sensibilizadas. Geralmente as alergias são específicas, isto é, são particularmente de uma espécie animal ou de outra. Só para que o leitor tenha uma idéia correta de que não apenas os roedores ou lagomorfos são incriminados nos processos alérgicos humanos, o gato que também é utilizado como animal de laboratório, é a mais freqüente fonte de antígenos aos quais as pessoas desenvolvem reações alérgicas. Outras por ordem de classe (as mais comuns primeiro) são ratos, cobaias, coelhos, camundongos, hamsters e meriones. Alergias as proteínas da urina do rato aerossolizadas (detectadas pelo cheiro de amônia) são particularmente perigosas, porque tendem a se associar à congestão pulmonar grave, os sintomas se desenvolvem rapidamente após a entrada de pessoas sensibilizadas em instalações com pouca ventilação ou trocas pouco freqüentes das caixas dos animais. Os sintomas clínicos de uma alergia desenvolvida de laboratório são aumento de secreção ocular, coriza nasal, principalmente à noite, asma ou diminuição do fôlego, ou várias manifestações cutâneas. As reações podem ocorrer de 15 a 20 minutos após a exposição, ou várias horas mais tarde, por exemplo, à noite, depois que a pessoa deixa o local de trabalho, onde manteve contato com animais. As precauções incluem a adoção de procedimentos especiais de higiene, gaiolas especialmente fabricadas com ventilação própria, fluxo de ar no teto para o chão (o ar retirado e que contém alérgeno, não deve ser desprezado em setores de circulação de funcionários), vestuário protetor (luvas, macacão, máscaras), cuidado especial no manuseio de excretas, controle da direção do fluxo do ar, e de outras barreiras, tais como a organização de trabalhos, tanto quanto possível, nas áreas limpas onde não haja exposição a animais. O tratamento humano deve ser realizado por um médico e não por leigos com receitas caseiras milagrosas!
Podemos concluir com este texto que a maioria das doenças transmitidas ao homem pelos animais (zoonoses), podem vir de cães, gatos, roedores, lagomorfos, répteis e/ou aves. Cada espécie possui a sua particularidade, sendo o mais importante certificar-se da higidez (saúde) do animal a ser adquirido. Um bom estabelecimento comercial pode ser um primeiro passo para se adquirir um animal sadio. Considero um segundo passo a consulta com um médico veterinário para avaliar clinicamente o animal, e para demais orientações. Cabe também salientar que a maioria dos problemas alérgicos causados por roedores e lagomorfos é verificada em criações comerciais ou laboratórios, onde a concentração de animais por metro quadrado é muito maior do que aquele animalzinho criado isoladamente em uma residência.
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