Saúde Animal

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A Linguagem Canina – A Linguagem Perceptiva do Cão




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linguagem03Quando se está aprendendo uma língua nova, num primeiro momento consegue-se entender algumas palavras, depois, frases inteiras e, só quando essa compreensão se torna fluente, arrisca-se pronunciar algumas palavras conhecidas e, somente mais tarde, adquire-se a capacidade de construir frases.

A capacidade de compreender a linguagem precede a habilidade de produzir sinais para comunicar-se, que é um nível superior da lingüística.

Nos cães, a habilidade perceptiva da linguagem é muito boa. Essa habilidade perceptiva pode ser notada quando há uma resposta adequada a palavras pronunciadas. As ações conseqüentes dessas palavras determinam o grau de compreensão de cada cão. O nível de treinamento canino corresponde, mais ou menos, ao grau de cultura ou ao nível de escolaridade no ser humano.

Os comandos de adestramento

Gritar com um cão é, praticamente, admitir que ele não ouve quando falamos baixo. O ouvido canino percebe uma faixa de freqüência sonora bem mais ampla que a nossa. Os tons apreciados pelos sensíveis ouvidos caninos são os suaves e baixos. Eles gostam imensamente de música suave.

Quem fala alto com seus cães e os comanda militarmente obtém efeitos de frustração e uma resposta muito limitada.

Vejamos as palavras mais comuns usadas com os cães.

Banho! – alguns cães ficam felizes, outros se escondem.
Beijo! – o cão lambe o nosso rosto.
Biscoito? – o cão entende que vai ganhar um biscoito.
Bota a cabecinha aqui! – a reação é deitar a cabeça no colo para receber um afago.
Busca! – o cão sai animado para pegar um objeto arremessado longe.
Cadê a barriguinha? – o cão vira a barriga prá cima para deixar-se acariciar.
Cadê a bolinha? – o cão vai procurar sua bolinha ou qualquer outro brinquedo que ele goste.
Cadê fulano? – o cão sai procurando alguém que ele muito gosta.
Cala boca!!! – o cão pára de latir.
Calma! – estímulo neutro usado quando o cão está agitado.
Canil! – o cão entende que deve ir para o seu canil.
Coleira! – o cão reage erguendo a cabeça para permitir a colocação da coleira.
Colo! – o cão sobe com as patas nas coxas, para receber carinho.
Cuida! – o cão (de guarda) fica alerta tomando conta da pessoa indicada.
Dá licença! – (quando um cão está no caminho, por exemplo, deitado no corredor) faz o cão levantar-se, para a gente passar.
Dá a pata! – o cão ergue a pata e a coloca na nossa mão.
Deita! – o cão assume a posição deitado.
Desce! – o cão desce a escada ou rampa à sua frente; desce de algum lugar mais alto.
Dick! (Nome do cão): com a repetição, cada cão passa a atender pelo seu nome para aguardar instruções.
Em pé! – o cão fica sobre duas patas.
Fica! (acompanhado de gesto manual): faz o cão permanecer em determinado local.
Junto! – o cão assume a posição sentado, do lado esquerdo, junto à coxa.
Larga! – o cão abre sua boca e solta o que estiver segurando.
Me dá! – o cão relaxa a pressão sobre o objeto que estiver segurando na boca para que possamos retirá-lo.
Muito bem!, Bonito! – é um estímulo positivo que proporciona felicidade, provocando a abanação da cauda.
Não! – o cão interrompe toda e qualquer ação.
Para trás! – usado no carro, quando se quer que o cão passe do banco da frente para o de trás.
Pára! – o cão interrompe o que estiver fazendo.
Passa fora! – quando a gente quer que o cão vá embora.
Prá dentro!, Entra! (acompanhado de gesto manual): o cão entra para o ambiente apontado.
Procura! – o cão segue o odor indicado. O cão procura alguma coisa, que foi escondida.
Pssiu! – o cão pára de latir.
Pula! (acompanhado de gesto manual): o cão salta por sobre o objeto ou obstáculo indicado.
Quietinho! – estímulo reforçador para incentivar o cão a permanecer tranqüilo durante uma escovação, por exemplo, para superar um momento de desconforto.
Senta! – o cão assume a posição sentado.
Sentado! (acompanhado de gesto manual): o cão assume a posição “sentado” sobre as patas posteriores.
Sobe! – o cão sobe a escada ou rampa à sua frente. Sobe para algum lugar mais alto.
Toma! – o cão sabe que vai ganhar um petisco.
Vamos passear? – o cão começa a pular e rodar em volta de você e vai para a porta aguardar os acontecimentos.
Vamos prá piscina? – o cão fica excitadíssimo e começa a pular para ir mais rápido. Chegando lá, pula dentro direto.
Vem! – utilizada para convidar o cão a um passeio; ou ao caminhar, incentiva o cão retardatário para que se junte a nós.
Vem cá! – o cão sai de onde estiver e vem para junto.
Vem enxugar! (acompanhado da apresentação da toalha): o cão começa a fungar, espirrar e se esfregar na toalha esperando ser enxugado depois do banho ou de uma voltinha na chuva.
Vem limpar o ouvido! – o cão chega de mansinho e encosta a cabeça no joelho para permitir a limpeza do ouvido… (em geral os cães adoram essa frase, chegam até a gemer de prazer).
Vombora! – o cão já sabe que vamos sair com ele.

Existem, entretanto, inúmeros gestos e ruídos que os cães reconhecem, às vezes, melhor do que palavras: apanhar a coleira; pegar as chaves do carro; o desembrulhar; o som da cumbuca quando se começa a preparar a comida; dar rápidos e repetidos tapinhas na coxa; bater palmas e estalar os dedos.

Minha experiência revelou que os cães são capazes de compreender até diálogos inteiros sobre assuntos de seus interesses sem que seja necessária a compreensão do significado específico de cada palavra.

Bater na coxa, por exemplo, é um gesto que quase todas as pessoas fazem para chamar seus cães tendo a mais absoluta certeza que virão sem, sequer, saber por que esse gesto tornou-se universal, no diálogo com eles.

Vamos tentar explicar: quando você chama seu cão pelo nome, pela maneira que você pronunciou, ele sabe se você está alegre, feliz ou aborrecido. Quando você o chama, dando repetidos tapinhas na coxa, está fazendo o mesmo ritual do rabinho abanando… ele sabe que você está feliz e vem correndo.

Se você der uns tapinhas no sofá ele virá correndo para o sofá. Se, depois der uns tapinhas numa mesinha baixa ele, por associação, subirá na mesa. Dessa forma ele aprendeu que, dar tapinhas num plano mais alto, é para subir.

São gestos que levam você, inconscientemente, a transmitir seus desejos a seu cão. Quantas vezes, vendo que você está triste, seu cão vem e deita-se a seu lado em silêncio ou se você está chorando, lambe seu rosto? Quantas vezes, vendo que você está aborrecido, seu cão vai, mansamente, para um canto da casa e fica quietinho?

Nas aulas de adestramento, notamos muitas vezes que, quando o dono está tenso, o cão trabalha inseguro e desatento. Não consegue concentrar-se e erra bastante – o cão também fica tenso e nervoso. Durante o treinamento a guia é o cabo de conexão entre o condutor e o cão. Através dele transmitimos nossas emoções, tensões e expectativas. Por exemplo: se você está passeando com seu cão com a guia relaxada e, na sua direção, vem um cão que você considera agressivo, automática e instintivamente, aplica uma certa tensão na guia.

INTRODUÇÃO
FISIOLOGIA
A LINGUAGEM PERCEPTIVA DO CÃO
A LINGUAGEM TRANSMISSIVA DO CÃO
OUTRAS VERBALIZAÇÕES
EXPRESSÃO CORPORAL

Bruno Tausz
Etólogo Escritor Especialista em Cinologia e Comportamento Animal.
Juiz de Todas as Raças da FCI - CBKC.
Juiz de Adestramento e Trabalho VDH - FCI - CBKC.
Consultor da revista Cães&Cia
Consultor para Assuntos Caninos da revista Saúde Animal.
Consultor de Cinologia da revista Animal World.