A Importância da Obediência
Nos anos 70 começou, na Alemanha, o movimento de conscientização e preservação do meio ambiente e, com isso, o desenvolvimento da ecologia e da etologia, cujo pai Konrad Lorenz já vinha, desenvolvendo pesquisas do comportamento animal sem a interferência humana. Conseqüentemente, a óptica arraigada do animal selvagem como uma fera inimiga do homem começou a mudar. Com essas idéias, passou-se a estudar o comportamento dos animais como companheiros de vida na terra.
Os treinadores alemães começaram a utilizar conhecimentos de etologia no treinamento de cães de guarda conseguindo sensíveis progressos. Esse conhecimento levou os treinadores à preocupação com a autoconfiança dos cães que fossem participar de provas de ataque, tornando o adestramento de cães de guarda um esporte.
A Inglaterra levou essas idéias mais além e, com base nos concursos hípicos, Peter Lewis lançou, em 1978, através do seu livro “The Agility Dog International”, uma nova modalidade de adestramento: o Agility, no qual, sequer se utilizavam coleiras e guias. O cão teria que realizar um percurso sozinho, sem o menor auxílio do ser humano, como o fazem os cães de circo.
Aqui no Brasil, devido à cultura latina/machista, essa mudança foi lenta, relutante e persistente. Entre os treinadores o conceito de cão de guarda era visto como cão de ataque mais do que como cão de defesa.
Foi esta a razão da publicação do livro “Adestramento Sem Castigo” (1986), que trata o relacionamento com os cães, sob o prisma das dificuldades dos cães em compreender e aceitar os comandos humanos. Foi abolido o comando militar e introduzido o diálogo com o aprendizado da linguagem canina.
Esse conceito foi associado à contra-indicação de se treinar um cão para ataque e à aplicação do conceito de defesa pessoal, semelhante ao das artes marciais, como um esporte.
A idéia de ensinar um cão a morder me soava como um absurdo tão grande quanto ao de ensinar um pássaro a voar.
Como, instintivamente, todos os cães sabem brigar, passei a divulgar o conceito de ensinar aos cães como se defender dos truques humanos de briga. Um cão não sabe dar uma gravata, rasteira, soco, chute, paulada, facada, tiro etc. ele só sabe morder.
Com o conceito de cão de guarda como um esporte, os cães aprendem a defender-se sem serem, em princípio, agressivos. Os cães, antes atiçados para morder por ojeriza a estranhos, tornavam-se neuróticos e assustados, com medo das pessoas e por isso mordiam com uma freqüência assustadora. O cão que aprendeu como lutar, apenas, contra os golpes humanos teve autoconfiança e tranqüilidade suficiente para discernir uma ameaça verdadeira de uma falsa.
Daí para frente foi mais fácil a erradicação do conceito da necessidade de produzir um cão feroz como a única maneira de treinar um cão para guarda.
Em todo o mundo desenvolveu-se uma outra modalidade de adestramento: o treinamento de cães auxiliares para deficientes físicos com muito sucesso.
Consultor e Colaborador em
cinologia, cinotecnia, comportamento animal e adestramento