Ecossistemas e Qualidade de Vida Animal
O Planeta sofre transformações desde que os primeiros seres vivos surgiram nele. Aliás, sendo mais rigorosos, podemos pensar que o Planeta é uma constante transformação. Com a presença do ser humano sobre ele, verificamos que essas transformações tornaram-se mais acentuadas com o passar do tempo, pouco tempo aliás.
Quando observamos à nossa volta e o tipo de vida que o ser humano está acostumado a levar, notamos que pequenas variações no dia-a-dia não nos afetam. Por exemplo, muitas pessoas estão acostumadas a viver em cidades em que já uma variação significante de temperatura, por vezes maior que 10 ºC no dia. Em termos planetários, no entanto, uma variação de 0,5 ºC em um século é algo preocupante. Como o ser humano adquiriu uma complexidade grande no modo de vida, em que é obrigado a pensar mais em torno de si e de seu pequeno ambiente (casa, escola, trabalho, lazer), é bastante difícil pararmos para analisar a situação do Globo como um todo, sendo-nos difícil, inclusive, conceber toda a sua extensão e dinâmica de vida.
Para fins práticos de estudos, consideraremos uma divisão clássica da Ecologia:
Biosfera (Planeta) – Ecossistema – Comunidade – População – Indivíduo
Trataremos nesse artigo especificamente sobre os Ecossistemas, mas é óbvio que comunidade, população e indivíduo serão de certa forma abordados, já que estão em níveis abaixo do ecossistema.
Vamos estabelecer uma divisão, ainda que artificial, entre os ecossistemas. Denominemos ecossistemas naturais aqueles que não foram criados pelo homem (florestas, por exemplo), e artificiais aqueles criados pelo homem (por exemplo, as cidades). Apenas para esclarecer e tornar um pouco mais válida essa divisão, façamos as seguintes observações: uma floresta que se tornou parque de visitação pública, ainda que “manipulada” pelo homem, continua sendo um ecossistema natural. Suponhamos agora que seja criada uma reserva em um local, por exemplo uma fazenda em que sua mata original foi devastada há séculos e, hoje, faz-se um replantio e introdução de animais, consideraremos esse novo ecossistema como artificial.
Com essa visão, podemos concluir que há na Biosfera um conjunto de ecossistemas, diferentes que, integrados, criam a harmonia originalmente conhecida. Com esse pensamento, formalizamos o conceito de ecossistema:
Ecossistema = Biocenose + Biótopo | Ecossistema é um complexo sistema de relações mútuas, como transferência de energia (e matéria, que é energia condensada) entre o meio abiótico e os seres vivos de determinada região. |
Aliás, com esse conceito, devemos observar a seguinte relação: em que biocenose é o conjunto dos seres vivos ( bios = vida; koinos = comum) e biótopo é o arranjo, em conjunto, dos fenômenos físicos e químicos determinantes do meio em que os seres vivos (a população) coexistem, em outras palavras, o meio abiótico.
Com essas considerações, podemos perceber que é impossível vivermos sem estar interagindo constantemente com os seres vivos que nos cercam, assim como o ambiente. De imediato, já percebemos a responsabilidade que temos em conservar e preservar nosso Planeta.
Bem, vamos ao que interessa: os tipos de ecossistemas. Temos como ecossistemas naturais aqueles em que o homem não teve participação em sua formação: florestas, mares… mas a interação homem / ecossistemas naturais é tão intensa e intrínseca que não poderíamos conceber nossa vida sem essa interação. Para nós, isso é algo muito natural, e indispensável. Pensando de maneira ampla, o homem sempre está inserido dentro de um ecossistema natural, pois o ecossistema artificial que constrói está inserido em um ecossistema maior, natural.
Consideremos agora um único ecossistema artificial, a cidade. Se para nós é algo natural a nossa interação com a Natureza, como deve ser a visão oposta, ou seja, a interação da Natureza conosco? Será que, para o Planeta, nossa passagem é algo indiferente? Podemos dar várias respostas a essa questão, mas pensemos sob um ponto de vista: o tempo.
Como dissemos anteriormente, as mudanças que ocorrem no Planeta se dão de maneira extremamente lenta: milhões de anos são necessários para uma mudança sutil num ecossistema, ou para o aperfeiçoamento de uma espécie. Se pensarmos que o homem está a alguns milhares de anos sobre a Terra, e que a maioria da evolução intelectual se deu em menos de mil anos, veremos que as mudanças provocadas pela nossa presença avançam em muito o tempo necessário pelo Planeta para uma adaptação harmoniosa à nova situação.
Quando vivemos em um ecossistema natural, nós fazemos parte dele, e seu gerenciamento se dá de forma conjunta com os demais seres vivos. Um ecossistema artificial, como uma cidade, já tem maior parte do gerenciamento a cargo do ser humano, de maneira que diminuímos a interferência da biocenose nessa administração. Dessa forma, podemos ocasionar um desequilíbrio na vida desses seres.
Ao observamos que milhares de hectares de florestas tiveram que ser devastados para que a cidade fosse construída, percebemos que o prejuízo ao planeta não foi pouco. Por outro lado, como evoluiríamos se isso não tivesse acontecido? Tema para um próximo texto.
Podemos considerar as cidades como ecossistemas pois elas têm entrada e saída de matéria e energia. No entanto, o meio urbano não é nem um pouco auto-sustentável. Há uma grande quantidade de consumo de recursos naturais provenientes de outros sistemas, como os naturais, os semi-naturais e os agrários. Por exemplo, a água que consumimos, os alimentos que comemos, são provenientes, originariamente, fora das cidades. Tudo para abastecer uma única espécie dominante que vive nas áreas urbanas, o homem. Os rejeitos da utilização de bens e produtos são uma grande fonte de poluição para o próprio ambiente das cidades, seu entorno e até mesmo de áreas mais distantes. A ciclagem ou reciclagem desses rejeitos ainda é insignificante. A poluição atmosférica por gases e partículas, a contaminação das águas pelos esgotos urbanos e industriais, o lixo e entulho gerados são os principais exemplos desse rejeitos.
Em suma, somos uma espécie que consome bastantes recursos naturais, desperdiça muitos bens e produtos e polui bastante o ambiente que co-habitamos com outros seres vivos.
A urbanização em maior ou menor escala provoca alterações no ambiente das cidades. Essas alterações ocorrem no micro-clima e atmosfera das cidades, no ciclo hidrológico, no relevo, na vegetação e na fauna.
A fauna original é totalmente dizimada em função da destruição de seu habitat natural. Algumas espécies de animais se sobressaem nas cidades, devido às condições favoráveis que encontram para o seu aumento populacional e ausência de seus predadores naturais, provocando um desequilíbrio inigualável nas cadeias alimentares. Baratas, ratos, pombos, pardais, escorpiões, formigas, cupins, pernilongos, são os principais exemplos de animais urbanos. Muitos deles vetores de doenças e indesejáveis devido a sua grande população.
Há aproximadamente um século o homem começou a dar mais atenção às transformações que provocava na Natureza. De uns quarenta anos para cá, essa atenção aumentou, criando-se vários estudos em torno dessa temática. A Química Ambiental está em pleno avanço, a Ecologia deixou de ser uma cadeira do curso de Biologia para ser um curso universitário, os humanistas começaram a pensar mais em soluções para nossa vida na Terra.
Com essas considerações, passemos a pensar na qualidade de vida que estamos proporcionando tanto aos animais que permanecem nos ecossistemas naturais quanto aos que nos acompanham nos ecossistemas artificiais.
Bibliografia complementar
– http://educar.sc.usp.br/biologia/prociencias/areasverdes.html
Agradecimento
“Gostaria de agradecer ao pessoal do CDCC pela gentileza em ceder as fotos.”
Bacharel em Química
Auxiliar Veterinário
Aquariólogo