A Linguagem Canina – Outras Verbalizações
Ofegar – aquela respiração rápida, com a boca aberta e a língua pendurada. Denota excitação, alegria, vontade de brincar se a comissura labial estiver levantada ou cansaço após um trabalho prolongado se a comissura labial estiver caída.
Resmungar – é uma mistura de latido com um uivo tremido. O cão está inseguro, queixa-se de alguma coisa: dor pouco intensa, mas contínua; tristeza; ansiedade; preocupação com alguma coisa. Espera ser atendido. Se não for entendido começará a latir.
Choramingar baixinho – emitido por um cão ferido, assustado ou com dor de barriga. Lembra a manha de filhote.
Dar uma choradinha em volume alto e de maior duração – denota ansiedade, quer conseguir alguma coisa: um osso, comida, um brinquedo etc.
Suspirar – têm mais ou menos a mesma conotação dos suspiros humanos. Quando conseguem descansar, quando atingem um objetivo, quando o perigo passa etc.
Bocejar – tem o mesmo significado do bocejo humano. Às vezes até nos contagia. Outras, o bocejo é até acompanhado de um espreguiçamento. Quando o bocejo é muito profundo, chegam até a tremelicar.
Gemer – também chamado de choro indica que o cão está sofrendo: cólicas, dores lancinantes, latejamento, frio.
Gemer prolongadamente – indicam dor, constante ininterrupta e moderada, mas difícil de suportar.
Gemer de prazer – emitido, quando o cão está sentindo um enorme prazer, por exemplo, quando se lhe coçam os ouvidos, o peito ou a barriga. Às vezes o cão ajuda com a pata posterior e o gemido sai ondulado por causa dos movimentos das patas.
Ganir – exatamente como o nosso grito, revela dor intensa, aguda ou um susto muito grande.
Dar um só ganido bem curto em tonalidade aguda – manifestação de dor aguda repentina, inesperada.
Dar uma série de ganidos – uma resposta ao medo intenso ou à dor muito forte.
Dar um latido- ganido repetitivo terminando em uivo prolongado – é, na realidade, o próprio uivo que se inicia. Depois desse ensaio todos os cães da vizinhança respondem apenas com o uivo.
Uivar – é o meio canino de comunicação de massa (com a alcatéia). É o mesmo sinal que o lobo líder usa para reunir a matilha. No momento em que um começa todos respondem. Não se trata de maus presságios, agouro, como declaram alguns autores, sequer de sofrimento, mas uma forma de se fazer ouvir numa distância de vários quilômetros para se comunicar com os outros da espécie.
AS ORELHAS
Cada raça tem um porte característico das orelhas: eretas, semi-eretas, semicaídas, portadas dobradas e caídas rente às faces e pendentes.
Através do movimento das orelhas os cães revelam seus sentimentos, expectativas e anseios.
Para compreender o conteúdo expressivo do movimento das orelhas é importante saber que, na escala de importância dos sentidos da espécie canina, a audição, em relação aos outros sentidos, fica em segundo lugar.
Veja a tabela comparativa da importância dos sentidos humanos e caninos.
Humanos: | 1- Visão; | 2- Tato; | 3- Audição; | 4- Olfato; | 5- Paladar. |
Caninos: | 1- Olfato; | 2- Audição; | 3- Visão; | 4- Tato; | 5- Paladar |
A concha acústica tem diversos tipos de movimento:
1. rotação em torno do eixo vertical – com esse movimento a concha, como um radar, procura a direção da fonte sonora.
2. elevação da base – elevando a base o cão consegue maior acuidade auditiva. Quando o cão percebe um ruído diferente e precisa descobrir o que é. Atenção!
3. abaixamento – movimento que reduz a capacidade de percepção do som quando o cão está preocupado, assustado ou com medo (nós dizemos: não quero nem ver… os cães “dizem”: não quero nem ouvir…).
Cães de Orelhas Empinadas
Empinar rigidamente e direcioná-las para a frente – atenção total, curiosidade.
Empinar, mas manter relaxadas – cão distraído, trabalhando ou exercitando.
Empinar e direcioná-las para trás, ligeiramente inclinadas – atenção em algum ruído vindo de trás, atenção em duas coisas ao mesmo tempo.
Portar orelhas baixas, para trás e achatadas contra o crânio – demonstra uma grande preocupação, timidez, submissão.
Orelhas caídas
Portar as bases levantadas e as conchas tendendo à frente – atenção total, curiosidade.
Portar as bases levantadas, mas as conchas relaxadas – cão distraído, trabalhando ou exercitando.
Portar as bases levantadas e as conchas direcionadas para trás e ligeiramente achatadas contra a nuca (em rosa) – atenção em algum ruído vindo de trás, atenção em duas coisas ao mesmo tempo.
Portar as bases abaixadas e as orelhas achatadas contra o pescoço – demonstra uma grande preocupação, timidez, submissão.
OS OLHOS
Não têm, claro, a mesma expressividade dos olhos humanos, mas falam bastante ao nosso intelecto.
Um cão sempre sabe quando você está olhando para ele. Sabe também quando você ou outro animal está tentando evitar o olhar direto. Pelo olhar, seu cão sabe se você o está encarando, enfrentando ou indagando.
O ato de encarar, para um animal, representa o desafio máximo, o enfrentamento. Assim pode-se fazer um teste de temperamento só olhando dentro dos olhos do cão. Por outro lado, você também pode saber, pela maneira de olhar, se o cão está tranqüilo, excitado, calmo ou irritado… se vai ou não morder.
Certas raças têm, até no padrão, a definição de “olhar suplicante”. Esse “olhar de tadinho”, que consegue “comprar” qualquer dono incauto, tem um poder de sedução inimaginável, inclusive entre os animais. Quando o cão olha para você e inclina a cabeça para um lado e depois para o outro, tentando entender o que se está falando com ele… não há quem resista.
E aquele jeitinho de olhar, entremeado com uma lambida nos beiços, quando a gente está comendo?
Olhar fixo – o cão está muito interessado.
Olhar sonolento – o cão está muito pouco interessado.
Olhar de soslaio – o cão, desconfiado, não consegue olhar diretamente nos olhos.
Olhar de baixo para cima – o cão está desconfiado. Quando deitado, com a cabeça entre as patas anteriores, é um olhar de preocupação e expectativa pelo que poderá acontecer.
A BOCA
As funções e a expressividade da boca dos canídeos é completamente diferente da dos humanos, capazes de articular palavras.
Com a boca, os cães transportam seus filhotes, apanham objetos, destrinçam o alimento e até vocalizam alguns sons.
Como a boca dos canídeos contém sua arma, ferramenta e talheres, um dos gestos mais típicos é o levantar dos lábios para facilitar o uso desses instrumentos. É como, para nós, arregaçar as mangas. Se não os levantassem correriam o risco de morder os próprios lábios.
A comissura labial (canto da boca) tem uma importância capital na expressividade dos lábios. Quando seus músculos se contraem, como no uivo, revelam insegurança.
Levantar ligeiramente os lábios de maneira trêmula e insegura, com a boca quase fechada, exibindo, apenas, alguns incisivos – antes de iniciar o rosnado, o cão demonstra, com nitidez, que algo não está lhe agradando e está lhe aborrecendo.
Levantar os Lábios, com a boca entreaberta, exibindo incisivos, caninos e algumas rugas na cana nasal – às vezes acompanhado de rosnado, é um indício evidente que está no seu limite de controle e que alguma reação está por se completar.
Levantar os Lábios exibindo inclusive as gengivas, com rugas acentuadas na cana nasal – é o último gesto antes de morder. Nesse momento, se o adversário abaixar o olhar e virar a cabeça, afastando-se lentamente, o enfrentamento cessa instantaneamente.
A CAUDA
É uma fantástica fonte de informação para que possamos perceber seu estado emocional:
quando alegre, balança junto com a garupa;
quando excitado, vibra como um diapasão;
quando aflitiva, balança rápido, mas descoordenada, com a garupa, esbarrando em tudo que está por perto;
cauda empinada, imóvel, cão em atenção.
Ressalvando os cães cujo porte da cauda é uma das características de sua raça, o posicionamento é um importante indicador de suas emoções.
Portar a cauda quase horizontal, apontando direto para trás – posição característica dos cães de caça de aponte. Revela a descoberta da presa.
Portar a cauda ligeiramente acima da horizontal – cão excitado em situação de disputa de liderança ou iniciando o jogo de sedução que precede o acasalamento, normalmente a cauda treme ligeiramente.
Portar a cauda a 45º, entre a horizontal e a vertical – semelhante ao porte ligeiramente acima da horizontal, mas com total autoconfiança. Normalmente utilizada para desfilar após ter ganho a disputa da liderança.
Portar a cauda erguida na vertical e ligeiramente encurvada para a frente: semelhante ao porte em 45º, também com total autoconfiança. Característico dos cães dos terrieres e dos sabujos.
Portar a cauda pendente, oscilando lateralmente: revela tranqüilidade, normalmente usada quando o cão está relaxado.
Porte pesadamente pendente, sem oscilar: o cão está inseguro quanto ao está para acontecer… uma disputa de liderança, um invasor muito próximo…
Colocar a cauda entre as pernas – revela muito medo. Nesta situação o cão pode urinar-se, ficar absolutamente sem reação ou tentar esconder-se.
Abanar ligeiramente a cauda – quando o cão está feliz, recompensado com a atenção reivindicada.
Abanar fortemente a cauda – revela alegria, felicidade intensa, quando o cão está brincando. Brincadeira de cachorro é brincadeira de pegar, brincadeira de luta.
Abanar lentamente a cauda, ligeiramente erguida – gesto observado quando você está pacientemente tentando explicar algo, o cão está atento, mas sem entender. Foi observado também que, quando o cão entende, muda o ritmo do balanço (Stanley Coren).
Ao contrário do que muitos autores sugerem, o abanar da cauda não tem a intenção de comunicar algo.
É uma reação instintiva que revela satisfação e alegria diante de um estímulo prazeroso. Como normalmente um estímulo prazeroso é sempre oferecido por outro animal e, por isso, jamais acontece quando o cão está desacompanhado, a interpretação desse gesto pode ser erradamente conduzida para um sinal de agradecimento.
INTRODUÇÃO
FISIOLOGIA
A LINGUAGEM PERCEPTIVA DO CÃO
A LINGUAGEM TRANSMISSIVA DO CÃO
OUTRAS VERBALIZAÇÕES
EXPRESSÃO CORPORAL
Etólogo Escritor Especialista em Cinologia e Comportamento Animal.
Juiz de Todas as Raças da FCI - CBKC.
Juiz de Adestramento e Trabalho VDH - FCI - CBKC.
Consultor da revista Cães&Cia
Consultor para Assuntos Caninos da revista Saúde Animal.
Consultor de Cinologia da revista Animal World.