Cães acompanharam humanos em travessia do estreito de Bering, segundo estudo
-02 de Maio de 2017-
Pesquisadores usaram sequenciamentos genéticos de 161 raças de cães. Descoberta poderá ajudar pesquisadores a identificar os genes que predispõem a doenças em cães e em pessoas.
Os cães viajaram com os humanos através da ponte de terra que, na Antiguidade, fechava o estreito de Bering, que liga a Ásia em seu extremo nordeste com a América em seu extremo noroeste, segundo um estudo publicado pela revista “Cell Reports”.
A pesquisa, financiada pelos Institutos Nacionais da Saúde dos Estados Unidos (NIH), utilizou sequenciamentos de genes de 161 raças modernas de cães para construir uma árvore evolutiva dessa espécie e desvendar os detalhes migratórios do animal.
O mapa de raças de cães, que é o mais extenso já feito, revelou que os cães viajaram com os seres humanos através da Beringia, como é chamado o território que fechava o atual estreito de Bering unindo os continentes. A descoberta poderá ajudar pesquisadores a identificar os genes que predispõem a doenças em cães e em pessoas.
Muitas doenças acometem tanto cães quanto humanos, como diabetes, epilepsia e câncer. A prevalência dessas doenças varia muito de acordo com a raça dos cães, o que facilita identificar variantes genéticas possivelmente relacionadas a um aumento de risco para determinada doença.
Origem das raças
Segundo a teoria mais aceita, o ser humano migrou da Ásia às Américas através dessa ponte, formada durante uma glaciação, um congelamento do mar e um nível mais baixo do que o normal das águas.
“Primeiro, houve seleção na tipologia (de cães), como cães pastores ou de caça, e depois houve uma mistura para obter certos traços físicos”, afirmou a coautora do estudo e genetista do NIH, Heidi Parker.
O estudo destacou que as raças mais populares agora nas Américas são de ascendência europeia, embora algumas do centro e do sul do continente, como o cão peruano sem pelo e o xoloitzcuintle (pelado mexicano) provêm de uma antiga subespécie canina que migrou pelo estreito de Bering com os antepassados dos indígenas americanos.
Esta descoberta marcou a primeira evidência viva desses animais nas raças modernas. Anteriormente, a prova era unicamente arqueológica.
Enquanto cães de caça como golden retriever e setter irlandês têm origens na Inglaterra da época vitoriana (século XVIII), as raças do Oriente Médio, como o saluki, e da Ásia, como o chow chow e o akita inu, surgiram muito antes.
Os de caça, no entanto, registraram uma diversidade “surpreendente”, já que não provinham só do Reino Unido, mas também do norte e do sul da Europa. “Os cães de caça foram desenvolvidos a partir de mais de uma origem, em vários lugares e provavelmente em épocas diferentes”, explicou Elaine Ostrander, também coautora do estudo.
Graças a estes novos dados revelados pelo estudo, de acordo com ela, abriu-se a possibilidade de evoluir no mapeamento das variantes genéticas das doenças.