Chocolate: sim, um vilão para os pets
Como os pets são indiscutivelmente parte da família e temos o hábito de dividir os nossos melhores momentos com eles é até compreensível que venha à cabeça uma enorme vontade de compartilhar o que de melhor estamos comendo. Mas essa atitude, ao invés de fazer bem ao nosso amigo de todas as horas, pode prejudicá-lo e muito, especialmente se você der a ele alimentos tóxicos. Sim, e você pode fazer isso sem saber o porquê, já que há uma grande variedade de alimentos que comemos no nosso dia-a-dia, mas que se oferecidos a cães e gatos podem causar-lhes problemas de saúde. Uma das delícias proibidas é o chocolate.
Quando chega a Páscoa é comum encontrarmos artigos sobre o perigo de oferecer chocolate para cães e gatos. Embora a iniciativa seja válida, já que nesta época os tradicionais ovos de Páscoa, os bombons e barras ganham a prateleira dos supermercados, lojas especializadas e, especialmente, a casa dos proprietários é importante que as lições dessa época sejam aprendidas e praticadas o ano todo. Especialmente no lar dos chocólatras assumidos.
Mas por quê? É que o chocolate é derivado das sementes torradas de cacau que possui duas substâncias classificadas como metilxantinas: a teobromina e a cafeína. A teobromina é encontrada em concentrações relativamente pequenas o que faz com que seres humanos possam consumir grandes quantidades de chocolate sem apresentarem nenhum problema, mas acontece que os pets metabolizam essa substância mais lentamente e mesmo quantidades pequenas do chocolate podem ser suficientes para causar-lhes intoxicações.
Por serem substâncias estimulantes do sistema nervoso central causam diversas alterações que vão de náusea, vômitos, diarreia, febre, dificuldades respiratórias, hiperatividade, sede e aumento no volume urinário até desidratação, arritmias cardíacas, hemorragias internas, aumento na frequência respiratória, dificuldades de locomoção, tremores, fraqueza, coloração azulada (cianose), pressão alta, coma e eventualmente morte.
As concentrações de teobromina variam de acordo com o tipo de chocolate. O extrato de cacau tem 28, 5 mg/g de teobromina. Já o chocolate amargo (usado em confeitaria) tem aproximadamente 16,6 mg/g, o meio-amargo, 5,7 mg/kg e o ao leite, 2,3 mg/kg, sobrando ao branco concentrações bem pequenas de metilxantinas.
Os efeitos nos animais variam de acordo com a dose ingerida, com o tipo de chocolate e o tamanho do animal. Doses mais altas, chocolates mais escuros (mais concentrados como amargo ou o extrato de cacau) e animais menores são mais problemáticos. A DL 50 da teobromina, ou seja, a dose letal para cerca de 50% dos indivíduos da espécie a ela expostos é de 250 a 500 mg/kg para cães e de 200 mg/kg para gatos. Sintomas graves podem ser observados em um cão de 10 kg que consuma 125 g de chocolate amargo, por exemplo.
Por esse motivo, a máxima “deixe fora do alcance dos animais de estimação” tão usada nos produtos de limpeza e nas substâncias tóxicas pode ser aplicada ao chocolate.
Para consultas mais aprofundadas deixo a fonte científica do periódico Interdisciplinary Toxicology que foi referência para este artigo e que tem acesso livre pelo Pubmed: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2984110/
E em breve voltaremos para falar de outras delícias periogosas!
Boa Páscoa a todos!
Médica veterinária