Saúde Animal

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O cheiro, a voz e o olhar: o que nos torna familiares para os nossos cães?




caes_logo

dani_bellaPois é! É exatamente sobre essa impressão sensorial que vamos conversar. Alguns estudos ressaltam a importância que os órgãos dos sentidos têm no estabelecimento da afetividade entre cães e seres humanos.

Berns e colaboradores publicaram, em 2015, na revista Behavioural Processes, os resultados de uma pesquisa que avaliou como os cães respondiam a cheiros familiares e não familiares de outros cães e seres humanos. O olfato é o mais poderoso órgão do sentido dos cães, tem uma imensa importância no desenvolvimento das habilidades cognitivas, mas poucos trabalhos haviam avaliado seu papel na inteligência social deles. O que se sabe é que muitos cachorros desenvolvem com seres humanos fortes laços afetivos e eles queriam entender qual papel o olfato desempenha nesta conexão. Para isso, eles verificaram que parte do cérebro dos cães era ativada ao ser exposta a cinco diferentes odores: o dele próprio, a de um humano familiar ou estranho e de um cão familiar ou estranho. Se o núcleo caudado, uma região cerebral associada às expectativas positivas, fosse mais ativada em respostas aos cheiros humanos haveria forte associação. Os resultados demonstraram que os cães foram capazes de diferenciar os diferentes odores e que a ativação máxima da região do núcleo caudado foi feita pelo estímulo com o cheiro do humano familiar.

Já Andics e colaboradores estudaram o processamento de estímulos sonoros e não sonoros (provenientes do cotidiano de ambas as espécies) no cérebro de cães e humanos. Eles puderam verificar que, ao ouvir os sons, ambos ativavam áreas semelhantes dos seus órgãos. Eles também observaram o mesmo comportamento quando avaliaram a sensibilidade às emoções transmitidas pelo som (o que poderia indicar que quando você fala com o seu cão ele pode entender a diferença entre um “não mexa aí” e um “que lindinho!” assim como saber diferenciar a tristeza do seu choro e a alegria liberada na sua gargalhada).

Em outro estudo, publicado na revista Science e amplamente divulgado, Miho Nagasawa, constatou que a troca de olhares entre o cão e o seu tutor faz com que haja a liberação de ocitocina em ambos. Entre as muitas funções deste hormônio está o desenvolvimento da empatia o que auxilia no estabelecimento de relacionamentos afetivos. Este contato visual interespécie provocaria, então, a mesma resposta fisiológica que o da interação mãe e filho. Não que precisássemos de uma pesquisa para nos dizer que o cão é parte da família, mas estas descobertas da ciência são incríveis, não são?

Então, é isso! Seja pelo seu perfume, pelo seu cantarolar no chuveiro ou pelo seu olhar 43, o certo é que seu cão também é louco por você… Assim como você por ele. E viva o amor!

Referências consultadas

ANDICS, A. et al. Voice-Sensitive regions in the dog and human brain are revealed by comparative fMRI. Current Biology, v.24, p.574-578, 2014.00
BERNS, G.S et al. Scent of the familiar: na fMRI study of canine brain responses to familiar and unifamiliar human and dogs odors. Behavioural Processes, v. 110, p. 37-46, 2015
NAGASAWA, M. et al. Oxytocin-gaze positive loop and the coevolution of human-dog bonds. Science, v. 348, p. 333-336, 2015.

Adriana Aquino
Médica Veterinária, Dra. em nutrição de cães e gatos.