Saúde Animal

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Zoonoses Endoparasitárias de Répteis




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tartaNos últimos anos, a utilização de animais silvestres como animais de estimação cresceu consideravelmente, mas infelizmente, muitos desses animais têm pouca longevidade em cativeiro, devido à falta de informações básicas relacionadas ao manejo. A ausência deste conhecimento indispensável à vida, provoca queda de resistência nos animais, promove desequilíbrio orgânico e propicia o desencadeamento ou estabelecimento de doenças virais, bacterianas, nutricionais e principalmente zoonoses, as quais são patologias de animais vertebrados que podem ser transmitidas ao homem, como por exemplo, a raiva, a toxoplasmose, a leptospirose, entre outras.

A introdução de um animal silvestre ao ambiente doméstico e pode ocasionar um problema de saúde pública, caso não sejam adotadas medidas profiláticas.

Comenta-se muito sobre a salmonelose que é uma zoonose de extrema importância podendo ser até fatal em crianças, mas esquece-se de outras patologias, que ao meu ver, também merecem respeito de nossa parte. Pretendo por meio deste texto não gerar polêmica, mas sim elucidar um aspecto tão pouco explorado mas muito importante: os endoparasitas com potencial zoonótico em répteis.

Várias espécies de répteis, são comercializadas muitas vezes de forma ilegal, para serem utilizadas como animais de estimação. Estes répteis podem apresentar agentes patogênicos zoonóticos como endoparasitas do gênero Cryptosporidium ssp, Spirometra europeae, Spirometra mansonoides entre outros. Citarei de forma sucinta alguns destes agentes.

A criptosporidiose, causada por Cryptosporidium parvum, é reconhecida mundialmente como uma zoonose emergente, causando diarréia aguda em seres humanos imunocompetentes ou enfermidade fatal em indivíduos imunocomprometidos ou imunosuprimidos, como portadores de HIV. A transmissão do C. pauvum, ocorre pela ingestão de água contaminada, recreações aquáticas em áreas abertas ou fechadas, e água municipal (hidrantes contra incêndio). O parasita não é espécie-específico e pode ser facilmente transmitido de um mamífero para outro, ou de um animal para o homem. Este parasita foi isolado em muitos hospedeiros diferentes, incluindo mamíferos, aves e répteis. Não há evidências documentadas de que a criptosporidiose de répteis seja uma zoonose citam alguns autores. O diagnóstico é difícil e requer identificação diminuta, do indistinto oocisto nas fezes. A biópsia gástrica e o exame histológico de amostra tecidual, nem sempre são suficientes para diagnosticar a criptosporidiose subclínica. Usualmente realiza-se a identificação do estágio de transmissão do patógeno (oocistos) nas fezes. A criptosporidiose clínica, pode ser diagnosticada, pela identificação de oocistos em materias derivados do trato digestivo (fezes, alimento regurgitado, ou secreções das mucosas).

A infecção por Gnathostoma spinigerum no homem ocorre somente pelo consumo do alimento cru ou mal cozido de hospedeiros intermediários infectados. Durante o período de 1942 à 1947, 17 novos casos foram relatados em siameses acometidos por gnathostomíase, 2 homens e 15 mulheres. Um paciente do sexo masculino, de 57 anos de idade, ingeriu alguns pedaços de carne crua da serpente (Agkistrodon halys) capturada em uma área local. Uma semana depois, desenvolveu dor abdominal severa. Os exames laboratoriais diagnosticaram gnathostomíase.

Os artrópodes da classe Pentastomida são endoparasitas invertebrados na sua forma adulta, habitando os pulmões dos répteis e aves, e a nasofaringe de mamíferos, que raramente acometem o homem. No entanto, o número de notificações têm aumentado consideravelmente. As lesões causadas nas serpentes pelo estágio adulto ou larval do pentastomídeo não são bem compreendidos. Os pentastomídeos adultos são geralmente encontrados nos pulmões dos répteis e, espécimes sexualmente maduros, são regularmente encontrados sob a derme, exatamente sob as escamas. Muitos casos de pentastomíase são associados com outras doenças como infecções, parasitismo e má nutrição o que dificulta o diagnóstico. Em autópsias realizadas em aborígenes malasianos, foram encontradas infecções por pentastomídeos em 45,4% dos adultos. Existem dois possíveis mecanismos de transmissão para a infecção destes aborígenes por pentastomídeos. Uma é a ingestão de água de rios contaminada com secreções nasais de répteis infectados. A outra é por ingestão do réptil (no caso estudado serpente) inadequadamente preparada.

Uma infecção fatal humana com mesocercária de Alaria americana foi descrita em 1975. Foi estimado mais de mil mesocercárias presentes na cavidade peritonial, brônquios, cérebro, coração, rins, fígado, pulmões, nodos linfáticos, pâncreas, tecido adiposo retroperitonial, baço, medula espinhal e estômago. Nove dias após o início da sintomatologia, o paciente foi à óbito por asfixia, devido extensa hemorragia pulmonar, provavelmente causada por mecanismos imunomediados.

Alguns plerocercóides, considerados agentes zoonóticos pertencem ao gênero de Spirometra e algumas vezes são chamados de Sparganum. Há três espécies de importância médica: Spirometra mansoni, Spirometra erinacei europaei e Spirometra mansonoides. É um cestódeo amplamente distribuído em diferentes espécies de serpentes, as quais servem de hospedeiro intermediário ou hospedeiro paratênico. Spirometra de babuínos africanos são também encontrados no homem. Em 1933 foi descoberta a Spirometra mansonoides em gatos, ainda presente em cerca de 3% de gatos locais, e a larva é comum em serpentes aquáticas locais.

Como no caso dos animais domésticos, um bom profissional pode realizar um exame clínico detalhado e, se achar necessário, solicitar os devidos exames laboratoriais para um diagnóstico preciso de doença.

Uma coisa importante: NÃO SE DESESPERE COM ESTAS INFORMAÇÕES, apenas procure um médico veterinário para um bom exame clínico e laboratorial (protoparasitológico de fezes) para certificar-se de que seu ‘’amiguinho’’ está ótimo! A mesma recomendação vale para os animais domésticos, os quais também possuem endoparasitas de potencial zoonótico.

Carlos Alexandre Pessoa
Médico Veterinário - CRMV/SP: 8621 - São Paulo - SP