Saúde Animal

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É possível que cães sejam vegetarianos?




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buddy_cenouraNos últimos anos, o vegetarianismo tem sido um assunto bastante discutido. Muitas pessoas tem feito a opção por dietas que excluem a carne. Diversas são as razões delas: aspectos éticos, saúde, impacto ambiental, etc.

Segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira, o vegetarianismo pode ser de quatro tipos: o estrito (em que não se utiliza nenhum tipo de produtos de origem animal na dieta), o ovovegetarianismo (em que se consome ovos), o lactovegetarianismo (em que se consome leite e derivados) e o ovolactovegetarianismo (que admite o consumo de ovos, leite e derivados).

Mas e os cães? Seria adequado o oferecimento de dietas vegetarianas a eles? Uma dieta livre de carne seria adequada?

Primeiramente, é importante colocar que as características anatômicas do trato digestório dos cães são de animais carnívoros: sua dentição é formada pela proeminência dos dentes caninos e a acentuada especialização regional dos outros dentes. Eles não possuem movimento lateral da mandíbula, o que impossibilita a trituração e, assim, engolem os alimentos, sem mastigá-los, por exemplo. A amilase salivar (uma enzima responsável pela digestão de carboidratos) não está presente.

destaque_lady_cenouraAs necessidades nutricionais, no entanto, são condizentes com uma dieta onívora (ou seja, baseada em alimentos de origem animal e vegetal): eles precisam de menos proteína que os gatos domésticos (carnívoros estritos) e conseguem fazer a conversão de beta caroteno em vitamina A e obter ácido araquidônico e a taurina (um ácido graxo e um aminoácido, respectivamente) a partir de precursores- o que não também não ocorre com os gatos. Segundo o trabalho de Brown (2009) os lobos (ancestrais do cão) tem uma dieta composta principalmente por carne, mas uma parte substancial pode conter frutas e vegetais. Os cães domésticos, por sua vez, teriam capacidade de se alimentar com uma ampla variedade de ingredientes (tanto de origem vegetal quanto de origem animal).

De forma geral, para que uma dieta seja considerada adequada é necessário que ela, além de ser formulada para atender as necessidades nutricionais, tenha uma boa digestibilidade (ou seja, seja “aproveitada” pelo organismo), uma boa palatabilidade (para ser consumida pelo animal) e mantenha a saúde a longo prazo. Fontes vegetais têm alta concentração de carboidratos estruturais (fibras) e podem ter alguns fatores antinutricionais que prejudiquem o seu aproveitamento.

luke_tableDessa forma, não basta trocar as fontes oferecendo concentrações parecidas de nutrientes. É necessário considerar a biodisponibilidade do nutriente no ingrediente para a espécie. No caso específico da proteína é importante que as fontes tenham um perfil de aminoácidos capaz de atender as exigências. Cereais, por exemplo, são pobres no aminoácido lisina. A soja é pobre em metionina. É a partir da combinação dos ingredientes em proporções adequadas que se busca oferecer não só a quantidade de proteína ideal para o bom funcionamento orgânico, mas proteínas que ofereçam as quantidades adequadas de aminoácidos.

Nas dietas vegetarianas, é importante que proteína seja corrigida porque baixas concentrações deste nutriente limitam o crescimento, interferem com a imunidade e com a saúde geral do organismo. Edemas (inchaços) também podem ocorrer na sua deficiência.

Mas então… É possível ou não? Teoricamente, sim. Um trabalho de Brown e colaboradores (2009), publicado no British Journal of Nutrition, usando duas dietas comerciais (uma a base de frango e outra substituindo a proteína animal por farelo de soja e farelo de glúten de milho) mostrou que não houve alterações na condição geral ou nos parâmetros hematológicos dos cães Husky Siberiano durante as quatro semanas em que foram acompanhados.

No entanto, é preciso estar atento! Muito atento! A adaptação da dieta onívora a uma vegetariana necessita do acompanhamento constante de um profissional da nutrição animal. Não se trata apenas de substituir fontes de proteína. Uma série de fatores, que já citamos, precisa ser considerada para que a dieta atenda as reais necessidades do cão.

É preciso verificar a adaptação do cachorro a dieta, realizar exames clínicos e hematológicos periódicos para garantir a saúde, ou seja, acima de tudo, precisamos respeitar a fisiologia de cada animal.
A nutrição inadequada (que pode ocorrer sem a supervisão de um profissional) pode ter efeitos graves para o cão.

Referências consultadas

BROWN, W.Y. Nutritional and ethical issues regarding vegetarianism in the domestic dog. Recent advances in Animal Nutrition. p. 137-143, 2009.
BROWN, W.Y. et al. An experimental meat-free diet maintained haematological characteristics in sprint-racing sled dogs. British Journal of Nutrition, p. 1318–1323, 2009.
SOCIEDADE VEGETARIANA BRASILEIRA. www.svb.org.br

Adriana Aquino
Médica Veterinária, Dra. em nutrição de cães e gatos.