Leptospirosis -Doença de Weil e Doença de Stuttgart
Doença de Weil e Doença de Stuttgart
São duas as doenças com o nome genérico acima, a primeira denominada DOENÇA DE WEIL, causada pelo L. icterohemorrhagiae, e que ocorre no rato e no homem, com sintomas predominantemente ictéricos; Já a Segunda, denominada TIFO CANINO ou DOENÇA DE STUTTGART, e causada pelo Leptospira canicola, é doença peculiar ao cão, e transmissível também ao homem, constituindo-se portanto em autêntica antropozoonose.
D O E N Ç A D E W E I L
Como já referido acima, é causada pelo Leptospira icterohemorrhagiae, germe que mede de 6-9 micra de comprimento, por 0,25 micron de espessura, e que tendo o corpo de forma espiralada porisso é classificado como Espiroqueta, grupo em que também se situa o germe causador da sífilis: Treponema palidum; Porém, aquele diferencia-se deste, segundo Petit, sob o ponto de vista da motilidade : move-se mais lentamente do que o Treponema e não está sujeito aos deslocamentos bruscos que caracterizam o microorganismo causador da sífilis. Cora-se em vermelho pelo corante GIEMSA, e também pelos métodos de impregnação pela Prata.
Na primeira semana da doença de Weil, é o germe encontrado no sangue, assim como na maioria das vísceras, especialmente fígado, baço e rins; Posteriormente desaparecem do sangue, permanecendo principalmente nos rins ; Sendo expulsos pelos animais infectados, juntamente com a urina, contaminam o solo, água e alimentos, conservando-se vivos durante até 7 dias, desde que em condições favoráveis, tais como lama, águas estagnadas, margens de riachos e coleções d’água de pouca movimentação, onde podem viver durante tempo considerável. Origina-se assim a infeção humana, a través da contaminação da água e alimentos com urina de animais doentes, do que é responsável na maior parte dos casos, o rato, que tem o hábito de urinar em pequenas coleções d’água e lugares encharcados, sendo o cão, também passível de se contaminar.
Após período de incubação em torno de uma semana, quando o germe invade as vísceras de sua vítima, sobrevem então o período febril, com dores musculares, e algumas vezes rigidez da nuca (Sinal de Kernig), raquialgia, vômitos e azotemia (eliminação de azoto pela urina); Sobrevem então icterícia franca (presença do pigmento hemoglobina do sangue, impregnando as mucosas aparentes), assim como fenômenos hemorrágicos, além de cilindrúria (eliminação de cilindros renais pela urina), caracterizando o quadro de nefrite. Durante o período febril que vai até o quinto ou sexto dia, circulam os espiroquetas pelo sangue.
O estágio ictérico na Doença de Weil, caracterizado pelo hemólise do sangue, dando às mucosas aparentes a coloração amarelada, assim como coloração amarela intensa à urina, estende-se até décimo terceiro dia, quando a febre decresce, podendo então ocorrer hemorragias. Nesse período ocorrem os desenlaces fatais. A tonalidade da icterícia nessa doença é importante, porque os doentes não apresentam a cor amarelo-esverdeada própria da icterícia comum, mas uma tonalidade vermelho-alaranjado, numa gradação entre o amarelo da impregnação biliar e o vermelho da congestão por vasodilatação cutânea.
No homem, a doença tem decurso em geral agudo, com distribuição cosmopolita, e surtos epidêmicos, que em geral sucedendo a enchentes, quando ratos que normalmente habitam esgotos saem de seu habitat e contaminando a água ou alimentos, causam a disseminação do mal.
Os ratos de esgoto, parecem ser, ainda que não completamente refratários ao gérmen, parecendo não sofrer com a infeção, ainda que seus organismos acusem reações: esplenomegalia (aumento de tamanho do baço), e sôro-aglutinação positiva. Os espiroquetas encontrados em grande número nos rins e excretados na urina, são também encontrados no fígado e outros órgãos e eliminados pelas fezes. Pesquisas realizadas mostram que, cerca de 10% dos ratos albergam o parasita, e índice ainda maior (45%), tratando-se de ratos de esgotos (Rattus norvergicus).
Além da transmissão da Doença de Weil, através da água de bebida contaminada por urina de ratos infectados, o contagio pode também se processar facilmente em minas de extração de carvão, onde o ambiente úmido é propício a sobrevivência do parasita, e é comum na Inglaterra, Japão e Alemanha; Pescadores e trabalhadores de esgotos e outros locais úmidos, assim como certas categorias profissionais, como os veterinários e outros tratadores de animais são favorecidos pelo contágio. Banhos em rios ou lagoas de águas paradas, poluídas por excretas humanos ou de animais, são também locais de fácil disseminação do mal.
Os cães são susceptíveis ao germe, assim como ao L.canicola, que será objeto de considerações no capítulo seguinte, sendo que o agente por último citado ainda não foi identificado em ratos, somente infectando portanto cães e o homem. Possivelmente os cães se infectam com o L.icterohaemorrhagiae, pela ingestão de ratos contaminados; A doença causada pelo L.canicola, própria dos cães, passa de um cão doente para outro sadio, através de alimentos contaminados por urina, agora oriunda de outros cães, ou mesmo a traves do hábito que tem esses animais de cheirarem os órgãos sexuais uns dos outros, desse hábito tendo origem o contágio.
O diagnóstico da doença é efetuado pelos sintomas e pelos exames complementares de sangue, podendo ser confundida com a febre amarela, com diferenciação não fácil, como ocorreu com pesquisador americano (Stimson, em 1910), examinando órgãos de doentes amarílicos na cidade de Manaus.
Incontestavelmente, é o método de Sôro-Aglutinação o melhor método de laboratório para seu diagnóstico, não dando margem a dúvida.
Para o tratamento, além da medicação sintomática necessária é utilizada com sucesso a Penicilina e seus sucedâneos sintéticos, além de soroterapia específica.
Para a profilaxia do mal, o combate aos ratos é necessário, além de serem evitadas águas poluídas, principalmente para bebida e abluções higiênicas.
Quando da ocorrência de enchentes, as quais provocam a saída das ratazanas de seus habitats, que vivem normalmente em esgotos, são as ocasiões de maior incidência da doença, quando devem ser redobrados os cuidados com a água destinada não só a bebida quanto para utilização higiênica como banhos e mesmo simples lavar das mãos.
Para prevenção, existe Vacina Contra a Leptospirose , preparada não só com antígenos desta quanto daquela causada pelo L.Canicola, portanto bivalente, altamente eficiente, e cuja repetição deve ser realizada anualmente. Esta vacina deve ser realizada em cães, de forma sistemática, e em populações humanas, quando da ocorrência de enchentes.
Nas explorações de suínos, quer de forma extensiva quer intensiva, a vacinação periódica é medida obrigatória.
T I F O C A N I N O – DOENÇA DE STUTTGART
Clinicamente esta doença caracteriza-se por atacar cães velhos, e como já frisado anteriormente, causada pelo L.canicola.
Raramente é acompanhada de icterícia, e evolui de forma crônica, lesando rins de forma a determinar síndroma de uremia (aumento da taxa de uréia no sangue).
A sintomatologia é semelhante àquela anteriormente objeto de nossas considerações, quando se trata de paciente homem, apenas diferenciada da mesma quando efetuada hemo-cultura e soro-aglutinações específicas é possível a identificação de qual dos dois leptospiras se trata.
É usado também o exame de sangue em Campo Escuro (Cardioide), método esse de Microscopia que permite melhor visualização do agente causal em amostras de sangue sem corantes específicos, que em determinadas fases da doença, são encontrados no sangue circulante.
Exames procedidos por Guida, em 1948 na cidade de S. Paulo, em cerca de 100 soros sangüíneos procedentes de cães, revelaram a existência de resultados positivos em cerca de 18% para L.canicola, e 13% para L.icterohemorrhagiae, somando total de 31% para ambas as doenças.
Animais necropsiados que sucumbiram da doença, apresentam além do quadro ictero-hemorrágico, lesões necróticas sobretudo na mucosa da boca e língua, exalando em conseqüência, odor fétido característico, a través do ar espirado.
A doença tem sido também assinalada de forma expontânea, em suínos, mesmo criados e instalados em granjas, e nestes animais a doença se estabelecendo com sintomatologia similar aquela de cães, porém em sua maior incidência, causada pelo L.icterohemorhagiae. Para prevenção da doença em suínos, a vacina deve fazer parte obrigatoriamente do plano preventivo-criatório.
Para tratamento da doença é indicada a mesma medicação recomendada para quando o agente causal é aquele da Doença de Weil.
As mesmas medidas profiláticas são também indicadas, tanto para esta quanto para a doença anteriormente abordada.
Médico veterinário - crmv-sp-0442