Killifishes – Características Reprodutivas
Para que se tenha sucesso na reprodução dos Killifishes, é necessário conhecer as características reprodutivas da espécie escolhida. Para servir de apoio a este trabalho, faremos uma análise das espécies conhecidas em aquariofilia.
Inicialmente devemos ter em mente que os Killifishes, quanto ao sistema de reprodução, dividem-se basicamente em três grupos: não anuais, semi anuais e anuais.
Os Killifishes designados por não anuais são peixes ovíparos, que em seu habitat efetuam a desova nas raízes das plantas, normalmente próximo à superfície d’água, não fazendo guarda a desova, cujos filhotes nascem por volta de três semanas, sendo este grupo constituído pelos seguintes gêneros. Adamas, Adinia, Aphanius, Aphyoplatys, Aphyosemion, Aplocheilichtyus, Aplocheilus, Chriopecides, Coneopanchax, Crenichthys, Cualac, Cubanichthys, Cyprinodon, Diapteron, Empetrichthys, Epiplatys, Floridichthys, Foerschichthys, Fundulus, Fundulopanchax, Garmanella, Jordanella, Laciris, Lamprichthys, Leptolucania, Lucania, Micropanchax, Pachypanchax, Rivulus.
No caso dos Aphyosemion e Fundulopanchax, existem algumas exceções, as quais serão analisadas dentro deste capítulo.
Os Killifishes designados por anuais, são peixes ovíparos que em seu habitat efetuam a desova no substrato (lama do fundo da poça) do biótopo em que vivem, sendo estes ambientes aquáticos de características temporárias que inundam no período das chuvas, secando completamente durante a fase de estiagem. Estes Killifishes são encontrados no continente Africano e no continente Sul Americano, sendo este grupo constituído pôr: Nothobranchius, Cynolebias, Pterolebias, Neofundulus, Trigonectes, Rachovia, Austrofundulus, Pituna e Moema.
Os Killifishes designados por semi anuais, são peixes ovíparos que em seu habitat efetuam a desova nas raízes das plantas, a exemplo dos Killifishes não anuais ou no substrato do fundo do biotopo, a exemplo dos Killifishes anuais. O processo reprodutivo desenvolvido pelos mesmos, dentre os dois citados, dependerá dos parâmetros apresentados pelo biótopo em que habita a espécie. Estes Killifishes são alguns Fundulopanchax e Aphyosemion, que constituem as exceções comentadas anteriormente (Killifishes não anuais). Para melhor ilustrar, citamos algumas espécies. Aphyosemion amoenum, A. herzogi, A. marmoratum, Fundulopanchax arnoldi, F. batessi, F. deltaensis, F. filamentosus, F. gularis, F. kribianus, F. monroviae, F. ocidentalis, F. robertsoni, F. sjoestedti e F. splendidus.
Outra característica a ser considerada, também com relação a desova, relativa aos Killifishes anuais, diz respeito a maneira pela qual os ovos são depositados no substrato. Os Killifishes anuais têm, basicamente, duas maneiras de desova, as quais os denominam como, Killifishes anuais aradores e Killifishes anuais mergulhadores.
Os Killifishes anuais aradores efetuam a desova junto à superfície do substrato, isto é, o macho após efetuar o ritual destinado a chamar a atenção da fêmea, terá esta posicionada ao seu lado junto a superfície do substrato, quando então o mesmo, utilizando seu corpo, preciona o corpo da fêmea contra o substrato, formando uma pequena cavidade sob seus corpos, onde é depositado o ovo, e logo após o casal se retira bruscamente, ocasionando o levantamento de parte do substrato, que irá se depositar sobre a pequena cavidade, cobrindo a mesma e consequentemente o ovo. Este processo se repete várias vezes durante um dia e por todo período de vida reprodutiva do casal, o que tem início na maturação sexual e termina com a morte dos mesmos. Este grupo é constituído pelos seguintes gêneros: Nothobranchius, Fundulopanchax (1) e Leptolebias (2).
Sobre este grupo, faz-se necessário alguns esclarecimentos:
1 – Fundulopanchax – como tivemos oportunidade de comentar anteriormente, no item referente aos Killifishes semi anuais, alguns Fundulopanchax e também Aphyosemion podem desovar nas raízes das plantas (não anuais) ou no substrato do biotopo (anuais) e quando utilizam o segundo processo reprodutivo, o fazem como Killifishes anuais aradores.
2 – Leptolebias – dentre as Cynolebias existe um sub-gênero criado por Myers (1952), constituído por peixes de pequeno porte, cujo corpo apresenta-se alongado e levemente comprimido lateralmente, cujas fêmeas apresentam uma característica ímpar entre as Cynolebias, são monocromáticas e seus corpos não possuem qualquer barramento, mácula ou ocelo, sendo os mesmos, relativo ao processo reprodutivo, Killifishes anuais aradores, sendo constituído pelas seguintes espécies: Cynolebias aureoguttatus, C. fluminensis, C. marmoratus, C. minimus, C. nanus, C. sandrii, C. citrinipinnis(fluminensis), C. leitaoi, C. damascenoi.
Os Killifishes anuais mergulhadores efetuam a desova no substrato, porém não na superfície do mesmo, como os Killifishes anuais aradores, e sim mergulhando (literalmente) no substrato, depositando seus ovos em camada mais profunda do mesmo, sendo este grupo constituído pelos seguintes gêneros. Cynolebias (*), Pterolebias, Austrofundulus, Rachovia, Neofundulus e Trigonectes.
O processo reprodutivo dos Killifishes anuais mergulhadores, foi descrito com detalhes em um trabalho do prof. Antenor Leitão de Carvalho, intitulado “Notas para o conhecimentos da biologia dos peixes anuais”, publicado na Revista Brasileira de Biologia (Dezembro, 1957) no Rio de Janeiro.
Na segunda metade do trabalho, o prof. Antenor Leitão de Carvalho descreve as observações efetuadas, em cativeiro, de um grupo de Cynolebias whitei Myers, 1942, coletadas em um biótopo que de acordo com a localização citada no trabalho, trata-se da localidade de Barra de São João, e o biótopo o mesmo no qual o Coronel White coletou em 1941, os exemplares que serviram como tipos para a descrição da espécie. Em sua descrição o prof. Antenor Leitão de Carvalho conta que o macho nadava junto ao fundo, acompanhado pela fêmea, como que inspecionando o substrato. Encontrando o local propício ele colocava-se em posição oblíqua, de aproximadamente 30 graus da vertical, com a cabeça para baixo, enquanto a fêmea adiantava-se e colocava a cabeça entre o corpo e a nadadeira peitoral do macho, apoiando a ponta do focinho na “axila” do mesmo e ambos com um movimento conjugado, penetram fundo no sedimento. Logo em seguida a esse mergulho deitam-se no interior do substrato com um movimento rotativo dos corpos, sobre um dos flancos, ficando a fêmea sempre por baixo e totalmente enterrada. Passado cerca de 15 segundos, ambos se retiram do substrato e prosseguem na busca de outro local para a postura de outro ovo.
No decorrer da observação do processo acima descrito, algo chamou a atenção do prof. Antenor Leitão de Carvalho, que assim descreve.
Intrigado com o fato da fêmea colocar a cabeça entre a nadadeira peitoral e o corpo do macho, poucos instantes antes de mergulharem, e que o macho não efetua o mergulho sem que ela tenha tomado aquela posição, procedemos a um rigoroso exame naquela região do macho, afim de verificar se havia alguma estrutura especial que justificasse o procedimento de ambos.
Constatamos então, que na face interna das nadadeiras peitorais os oito primeiros raios, a contar de cima para baixo, estão providos de papilas táteis, as quais indicam ao macho, que segue sempre na frente ocupado no exame do terreno, que a fêmea está pronta para o mergulho, e que está à sua direita ou à sua esquerda.
Estas papilas táteis constituem mais um caracter sexual desses peixes, neste caso permanente, porque até os machos jovens o possuem.
(*) Em Cynolebias (anuais mergulhadoras) existe uma exceção, as Leptolebias (anuais aradoras), descritas no item relativo aos Killifishes anuais aradores.
As características citadas são de extrema importância para a reprodução dos Killifishes, tanto na escolha da espécie a ser reproduzida, como principalmente na montagem do aquário que servirá como biótopo de reprodução, no que diz respeito ao local onde serão depositados os ovos.
Killifishes
O Killiofilo e o Biotopo.
Reprodução e perpetuação na natureza
Killifishes – Características Reprodutivas